Tim Merlier volta ao Tour e está num momento ótimo: acaba de renovar até 2028 e é um dos melhores sprinters do mundo. O TopCycling entrevistou o belga.
Tim Merlier foi o sprinter mais vitorioso de 2024 acabando com 16 vitórias. Vê-lo correr e falar com ele são experiências. O ciclista confiante e poderoso da Soudal Quick-Step é no trato pessoal uma pessoa tímida e reservada.
Vídeo da entrevista
O TopCycling foi pelo segundo ano consecutivo à apresentação da equipa belga, em Calpe, na Comunidade Valenciana. Foi com vista para o mar que perguntámos a Tim Merlier pelos objetivos para 2025, onde se inclui a participação no Tour de France.
Quem esteve no evento foi surpreendido pelo anúncio da renovação até final de 2028 do sprinter de Kortrijk, por isso foi por aí que arrancamos a conversa. Teria Merlier renovado se voltasse a ficar fora do Tour?
“Se não fizesse o Tour este ano tenho a certeza de que também teria renovado. Não tinha que ter essa certeza antes de assinar. O Tour é a maior corrida do mundo também para um sprinter, é bom voltar, espero conseguir a segunda vitória no Tour.”
Tim Merlier ao TopCycling.
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Foto: Gian Mattia D’Alberto/Lapresse
Rendimento no Giro calou os críticos
No Tour só tem uma presença e um triunfo – em Pontivy, em 2021.
Curiosamente na estreia abandonou à 9.ª etapa e acabou mentalmente tocado. Meses antes tinha abandonado o Giro na 11.ª etapa.
Pela Alpecin-Fenix não concluiu as duas primeiras “grandes” que fez, o que deu origem a algumas críticas. O rendimento no Giro calou os críticos.
“Antes diziam ‘o Merlier não é forte o suficiente, a terceira semana vai ser muito dura para ele’. Se ganhas duas etapas na última semana… foi um bom momento da época mostrar que os rumores não têm sentido.”
Tim Merlier ao TopCycling.
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Foto: Wout Beel
O melhor sprinter do mundo?
Com 16 vitórias, só Tadej Pogacar – com 25 – venceu mais do que Tim Merlier na época passada.
No ranking de triunfos os sprinters mais próximos foram Mads Pedersen (12) Jonathan Milan (11), ambos da Lidl-Trek.
É, por isso, normal lançar a pergunta óbvia: considera-se Tim Merlier o melhor sprinter do mundo?
“Não vou responder, podes responder tu por mim. Estou muito contente com a minha performance no Giro. Ganhei o primeiro sprint, depois caí no contrarrelógio e a segunda semana foi difícil porque não encontrei o meu melhor nível. Na terceira semana recuperei bem e fiz o 3-3.”
Tim Merlier ao TopCycling.
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Situações de máxima pressão
O Giro sempre na cabeça do belga e com razão. Foi a melhor grande Volta da carreira de Tim Merlier: três vitórias em Itália perante o potente Jonathan Milan.
É deste tipo de cenários que o belga de 32 anos gosta: correr com as probabilidades em contra, na casa do rival, que ainda por cima é mais jovem e está em trajetória ascendente na carreira.
Situações de máxima pressão. Como a que viveu no Campeonato da Europa, ao qual a Bélgica levou um bloco com dois sprinters: Merlier e Jasper Philipsen, antigos colegas na Alpecin, cada um com o respetivo lançador.
Foi uma tática estranha, que motivou semanas de debate nos média belgas. A Bélgica organizou o Europeu e a estratégia do selecionador Sven Vanthourenhout foi escrutinada.
Merlier bateu Olav Kooij e Madis Mihkels, tornando-se o primeiro belga campeão da Europa em elites masculinos. Philipsen foi 4.º e Milan – que pôs a Itália a trabalhar – finalizou 13.º.
“Algo de que gosto, que me motiva, é quando as pessoas não acreditam em algo poder mostrar que no final resultou. Também foi um bom momento onde mostramos que era possível levar dois sprinters. Não podes deixar o Jasper em casa e depois da temporada que fiz também era difícil deixar-me em casa; o treinador tomou a decisão certa. A ideia antes da corrida estava clara, o treinador esteve bem, cada um sabia o trabalho que tinha que fazer e mostramos isso na corrida.”
Tim Merlier ao TopCycling.
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Foto: Wout Beel
Êxito desportivo levou à renovação
O momento que atravessa Tim Merlier é ótimo. O êxito desportivo levou à renovação por mais três temporadas, até ao final de 2028.
A felicidade foi a dobrar já que o amigo e lançador Bert Van Lerberghe também renovou pelo mesmo período.
“Conheço o Bert desde o secundário, desde os 12 anos. Tornamo-nos melhores amigos. Quando ele tinha 14 anos começou a andar de bicicleta, mas nos primeiros anos ele era muito mais forte do que eu (…) Ao princípio foi um pouco assustador quando assinei pela equipa porque éramos amigos fora do ciclismo, mas no ciclismo podia não funcionar e podia trazer problemas à amizade. Mostramos que não há problema por corrermos juntos e estou contente por continuarmos ainda tempo juntos nesta equipa. O Bert é um jogador de equipa, dás-lhe um trabalho na corrida e ele faz. Não pensa no próprio êxito, faz tudo o que um colega deve fazer e isso é o melhor que podes ter numa equipa.”
Tim Merlier ao TopCycling.
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“Sonho com a Gent-Wevelgem“
O objetivo da dupla, além de vencer no Tour, é reencontrar o sucesso nas clássicas.
No programa do sprinter estão Alula, UAE, Kuurne-Bruxelas-Kuurne e Paris-Nice. Depois época de clássicas na Bélgica.
As grandes corridas de um dia têm sido o calcanhar de Aquiles de Merlier, que só venceu uma de nível WorldTour: a Brugge-De Panne em 2022.
“Sonho com a Gent-Wevelgem, Kuurne-Bruxelas-Kuurne e outras, mas só um pode ganhar e há corredores muito fortes no pelotão. Mas continuo a acreditar.”
Tim Merlier ao TopCycling.