Foi 6º no ranking UCI na melhor época da carreira. Mads Pedersen recebe o TopCycling no estágio da Lidl-Trek em Espanha.
Faz 28 anos em finais de dezembro, mas a prenda chegou no verão em forma de vitória no Tour de France.
Na era dos virtuosos há quem diga que Mads Pedersen é o melhor dos normais, considerando Mathieu van der Poel, Wout Van Aert e Tadej Pogacar de outro planeta.
Os rótulos não afligem o dinamarquês, que recebeu o TopCycling em Calpe, meca do ciclismo situada na Comunidade Valenciana.
“Acredito que posso ganhar corridas, não tenho que estar na mesma caixa que este ou aquele corredor. Desde que saia para treinar com o objetivo de ganhar não me importa como os média se referem a mim.”
Mads Pedersen ao TopCycling.
Melhor época da carreira
Fala com a confiança de quem acaba de ter a melhor época da carreira. Foram sete vitórias, entre as quais uma etapa no Tour de France, outra no Giro de Itália e uma clássica WorldTour (em Hamburgo).
“O ano de 2023 correu acima das expetativas. Claro que gostava de trocar alguns segundos lugares por vitórias, mas se repetir o que fiz ficarei contente.
Quando lhe pergunto se vem à Volta ao Algarve sorri e diz que em receita vencedora não se toca. Pela terceira época consecutiva arrancará na Étoile de Bessèges.
Recordo-lhe que a última passagem por Portugal foi em 2019, o ano em que ganhou o Mundial de Yorkshire. Mads Pedersen sorri.
“Algarve não fez a diferença para ganhar o título. Não quero ser duro com a Volta [risos], mas nesse ano não entrei bem nem ganhei qualquer etapa no Algarve e o título foi meio ano depois.”
Fanático do Inferno do Norte
Arrumado o assunto Volta ao Algarve – sem o conseguir convencer a regressar – a conversa muda para o tópico preferido do dinamarquês da Lidl-Trek: as clássicas do Norte.
Quando fez 2º na Volta à Flandres de 2018 antecipava-se uma grande vitória para Mads Pedersen no pavé. Confirmou na Gent-Wevelgem dois anos depois, mas o jackpot – Ronde ou Roubaix – nunca chegou!
E não é por falta de devoção porque Mads Pedersen é um fanático do Inferno do Norte.
“A filosofia é ter sempre mais do que uma carta. Fiz 2º na Flandres como gregário. Não vamos com um líder, mas como equipa. Não interessa se ganho eu, o Jasper Stuyven, o Edward Theuns ou outro qualquer.”
Lidl-Trek contratou Tim “O Trator” DeClerq
Em 2023 ficou perto da vitória: foi 3º atrás de Pogacar e Van der Poel. O segredo foi antecipar, mexer na corrida a 115 km do final e não esperar pelas movimentações dos favoritos.
“Tendência desde a chegada do Pogacar é a corrida abrir mais e mais cedo. Eu disse à equipa que ia mexer e que não queria esperar. Queria ser eu a fazer a seleção e estar na frente, tornar a corrida o mais dura possível. Não foi um ataque aos favoritos, queríamos ir reduzindo o grupo.”
Faltou uma roda amiga na altura certa. Stuyven foi 26º enquanto a UAE meteu três corredores no top 15. Para fortalecer o bloco a Lidl-Trek contratou Tim “O Trator” DeClerq.
“Pensamos ter a receita certa para as clássicas da primavera, simplesmente outros corredores foram mais fortes. Talvez tenha que treinar mais, mudar pequenos detalhes, perder meio quilo… Para isso temos este estágio.”
Mads Pedersen sonha com o ouro olímpico
Os Jogos Olímpicos de Paris marcam o calendário desportivo em 2024. A corrida de estrada começa e acaba em Trocadéro a 3 de agosto. São 273 km através do vale de Chevreuse, passando pelo Palácio de Versalhes. O percurso é pontuado por várias colinas que não devem eliminar os velocistas.
No regresso a Paris dão duas voltas a um circuito que tem como maior dificuldade a subida empedrada que liga Montmartre à basílica do Sacré Coeur (1km a 6,5%). Daí são 9,5 km a descer até à meta.
“Tenho a confiança de após o Tour esticar mais duas semanas até aos Jogos. No papel e no Veloviewer já analisei o percurso, acredito que beneficia corredores como eu e por isso é um grande objetivo.”
Paris 2024 será a primeira edição dos Jogos Olímpicos com paridade de género no ciclismo. Um pelotão de apenas 90 atletas vai alterar a dinâmica das provas de fundo.
“Não estamos habituados a correr com equipas de quatro e todas as seleções terão quatro ou menos. É preciso abordar a corrida de outra maneira. Como? Ainda não sei.”
Êxito no Tour de France
Mads Pedersen sonha com o ouro olímpico, mas não descura o trabalho, as rotinas. Reconhecer os pontos fortes e frágeis levou-o ao êxito no Tour de France
“Sei que sou bom sprinter em sprints longos com ligeira subida. Também sei que se for lá para fora com o Jasper Philipsen ele bate-me 10 vezes em 10 sprints, mas em competição é diferente. Ele pode bater-me nove vezes, mas sei que há uma vez em que lhe posso ganhar. Quando estamos a sprintar tento que seja ao meu jeito e para mim é de longe. Se espero pelos últimos 120 metros é impossível ganhar.”
Como nota de rodapé descartou os Mundial de Zurique por considerar o percurso demasiado duro. O líder da Dinamarca deve ser o colega Mathias Skjelmose, com quem o TopCycling também conversou.