Entrevista | Rui Costa regressa em França com a EF

Entrevista | Rui Costa regressa em França com a EF

Após lesão que o tirou do Giro, Rui Costa alinha na Boucles de la Mayenne e o TopCycling pôs a conversa em dia com o corredor da EF Education-Easypost.

Com 14 dias de competição e desde fevereiro sem terminar uma corrida, 2025 não começou bem para Rui Costa, ciclista da EF Education-Easypost.

Um 5.º lugar na Figueira Champions Classic foi animador, mas o Tirreno-Adriático foi o ponto de inflexão.

A edição deste ano da “Corrida dos Dois Mares” foi marcada por frio e chuva, o que gerou uma onda de lesões no joelho no pelotão.

“Fizemos a etapa de 250 km e no dia a seguir cheguei tocado do joelho. Por precaução decidimos não continuar. Nesse dia encontrei o Afonso Eulálio no hotel, ele também desistiu com um problema no joelho e disse-me que o Kwiatkowski abandonou pelo mesmo. No regresso a casa, encontrei um Alpecin no aeroporto com o mesmo problema. Pelos menos pensei que não era o único. (risos) Houve uma etapa onde após uma subida ficamos num planalto com vento lateral; a Bahrain tentou fazer uma bordure e aqueles esforços repentinos com o frio pode ter provocado a lesão.”

Rui Costa ao TopCycling.

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Foto: LaPresse

Regresso na Boucles de la Mayenne

Aí começaram quase dois meses dores de cabeça: parar dois dias, sair para treinar e às duas horas de esforço aparecia a dor.

Para um corredor que no final de cada época só para quatro semanas, estar oito sem poder treinar bem obrigou a abdicar do Giro de Itália.

“Regresso na Boucles de la Mayenne e a equipa está à espera de ver como reajo para decidir as próximas corridas. O joelho já está bem, mas a preparação foi toda abaixo, claro que as fibras musculares têm memória e voltei a atingir um ponto médio de forma com quatro semanas de treino. Tenho trabalho pela frente e em França vai ser para retomar o contacto com o pelotão. São quatro dias, adequa-se bem depois de uma paragem grande. Não espero muito de mim, mas é importante competir e talvez depois possa estar na Suíça ou no Dauphiné. A partir daí crescer para a segunda parte da temporada que ainda falta muito até chegar a outubro.”

Rui Costa ao TopCycling.

A prova francesa decorre entre 29 de maio e 1 de junho e tem um percurso variado: prólogo a abrir e três jornadas rompernas em linha. A Boucles de la Mayenne teve vitória portuguesa há dois anos com Ivo Oliveira a dominar o prólogo e a vestir de amarelo.

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Chega o mês talismã de junho

Por estes dias já a EF Education-Easypost tem o bloco que foi pré-convocado para o Tour de France a trabalhar em altitude. Rui Costa não está na lista nem fazia sentido ir para altitude com 20 dias de treino nas pernas.

Treinar em altitude obriga a aclimatar nos primeiros dias, aumentar progressivamente a carga e o efeito da altitude não permite grandes aventuras. O corredor natural de Aguçadoura, Póvoa de Varzim, aproveitou para fazer fundo e pouco a pouco incorporar no treino esforços específicos aumentando a carga.

O objetivo é estar forte na segunda metade de 2025 e em poucos dias chega o mês talismã de junho, no qual alcançou 13 das 33 vitórias como profissional.

“Era o mês talismã porque vinha de altitude antes de Suíça e Tour, fazia uma preparação rigorosa. Na vida temos que ter sempre um foco e eu trabalho para poder ganhar uma etapa, mas cada vez mais é difícil, sobretudo numa grande volta. Cada vez vai ser mais difícil chegar uma fuga: temos as equipas dos sprinters a controlar, nas etapas de média montanha aparecem Pedersen, Van Aert, Vacek, Van der Poel, que não dão hipótese, ou então há Remco e Pogacar a quererem ganhar.

Rui Costa ao TopCycling.
O português venceu na Vuelta a etapa que ligou Pamplona a Lekunberri.
Foto: Rafa Gomez/Sprint Cycling Agency

Último tiro certeiro de Rui Costa foi na Vuelta

Conversando com um ciclista experiente apercebemo-nos de como tem vindo a mudar o ciclismo.

Fugas com poucos minutos de vantagem, maior controlo por parte das principais equipas e um crescentre nível dos fugitivos torna difícil a missão dos caça-etapas.

Em grandes voltas, o último tiro certeiro de Rui Costa foi na Vuelta de 2023, na 15.ª etapa que finalizou em Lekunberri. Entre os companheiros de fuga estiveram, por exemplo, Evenepoel e Buitrago.

“No Tour vai ser cada vez mais difícil vermos uma fuga vencedora. No Giro há mais oportunidades a partir da segunda semana, quando a geral está estruturada, mas na terceira já aparecem corredores em grande forma, que estão entre o 10.° e o 25.º posto. Suponhamos que um Bernal salta da geral; o que é que eu vou fazer com um Bernal na fuga numa etapa de montanha? Quando são etapas para o meu perfil tenho que lutar contra este tipo de atletas e aí é que se torna difícil ganhar, claro que quando ganhas tem mérito, como quando ganhei na Vuelta.”

Rui Costa ao TopCycling.
Costa com a Lampre-Merida no Tour de France de 2016.
Foto: A.S.O. Gautier Demouveaux

“Dinâmica da EF é semelhante à da UAE”

A estas circunstâncias globais acrescem as particulares de cada corredor.

Não é o mesmo ir para uma fuga depois de levantar o pé num par de etapas ou aparecer na frente tendo tido que trabalhar para um líder.

Na EF Education-Easypost o foco está em Richard Carapaz, tal como na UAE Emirates são vários os atletas protegidos, entre eles Juan Ayuso e Isaac Del Toro.

Rui Costa conhece bem as duas estruturas. Na EF leva um ano e meio enquanto na UAE Emirates esteve cinco anos e já somava três na Lampre-Merida, cuja estrutura esteve na origem da equipa do Golfo Pérsico.

“A dinâmica da EF é semelhante à da UAE: gostam de correr na frente, manter o líder sempre bem colocado, o que significa que todos os que apoiam o líder têm que se sacrificar e sofrem um grande desgaste. Não tem nada a ver com a Intermarché, onde corria mais livre, que é mais o meu estilo. Na EF há dias que em que sabia bem ir para a fuga com o ‘depósito cheio’ e às vezes não acontece pelas outras responsabilidades. Estar numa equipa destas faz com que o desgaste seja superior e quando agarras as oportunidades não estás como queres.”

Rui Costa ao TopCycling.

Rui Costa, 37 anos, expressa o que muitos pensam. É também a evolução natural da carreira dos especuladores do pelotão, um perfil em vias de extinção no ciclismo moderno.

Será a veterania a falar ou realmente a modalidade mudou? Algo sucedeu, como contou Alessandro De Marchi em entrevista ao TopCycling: A fuga é coragem, caráter e vontade de arriscar, algo que não se vê tanto nas novas gerações. (…) Falta-nos um pouco a vida da corrida, a paixão. É aí onde o ciclista, a pessoa, pode fazer a diferença.”

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