Foi a melhor exibição da UAE numa grande Volta? Poderão repetir no Tour de France com uma equipa ainda mais talentosa?
À entrada para a terceira semana Pogacar tem 6:41 sobre Geraint Thomas e 6:56 sobre Daniel Martinez. Só um incidente de corrida poderá impedir a UAE-Emirates de festejar o título em Roma.
Como é que a situação está tão favorável à equipa dos Emirados e ao corredor esloveno? É o que vamos analisar neste texto.
A UAE-Emirates melhorou em vários aspetos. No contrarrelógio a evolução tem a ver com a Colnago TT1, modelo que começaram a usar em 2023.
No primeiro ano do novo modelo da “cabra” ganharam sete cronos e na presente época já levam cinco – incluindo na 7ª etapa deste Giro de Itália.
Depois de anos atrás da concorrência a UAE-Emirates passou a ter uma máquina competitiva. A dinâmica de vitória passou da competição à vertente comercial com a Colnago a bater recordes.
Ninguém ganha sozinho
Outra melhoria tem sido a estratégia de corrida. A UAE-Emirates tem o melhor ciclista do Giro, mas ninguém ganha sozinho e Pogi sabe-o bem porque no Tour de France levou dois KO de Jonas Vingegaard.
Estará o bloco à altura de Pogacar? Todos fizemos esta pergunta à partida e duas semanas depois podemos dizer que sim.
A 15ª etapa teve 5724 m de desnível positivo acumulado em 222 km. Foi uma jornada terrível de seis horas de esforço e a etapa mais longa desta edição.
O início foi a ferro e fogo: grupo dianteiro com 12 unidades, grupo perseguidor com mais de 40, Ineos, Decathlon e Bora representadas.
A resposta da UAE-Emirates foi serena. Rui Oliveira, Juan Molano e Mikkel Bjerg trabalharam na subida ao Colle San Zeno e mantiveram o bloco unido até ao Mortirolo. A frente da corrida foi quase sempre mantida a 4:30.
UAE-Emirates correu como uma equipa solidária
Meia etapa já estava feita, faltava a metade mais dura. A gestão de Vegard Stake Laengen exemplifica a boa tomada de decisões da UAE-Emirates.
O norueguês sofreu no Mortirolo e Domen Novak assumiu. Só que Laengen não se desligou; desde o carro chegou a ordem de levantar o pé e Laengen reentrou a 40 km do final.
Isto permitiu a Novak respirar fundo antes do Passo di Foscagno. A UAE-Emirates correu como uma equipa solidária, com um claro líder e sabendo qual o papel de cada um.
Quando Novak quebrou foi a vez de Felix Grossschartner trabalhar e o austríaco só abriu a 16,8 km entregando a batuta a Rafal Majka.
Passagem de testemunho
Foi uma gestão perfeita até que Tadej Pogacar atacou a 13,9 km da meta, ainda no Passo di Foscagno.
Havia pressa do esloveno em retribuir aos colegas o esforço. O líder do Giro neutralizou todos os fugitivos e a última barreira foi Nairo Quintana, campeão em 2014.
Foi a passagem de testemunho perfeita: etapa rainha, em altitude e Quintana com 3:00 sobre Pogacar na última montanha.
No terreno do colombiano o ciclismo moderno impôs-se de tal forma que o maglia rosa recuperou os 3:00 para Nairo e ainda meteu outros 3:00 aos rivais diretos.
Vale a pena refletir sobre esta etapa magnífica da UAE-Emirates e fazer algumas perguntas. Foi a melhor exibição da estrutura numa grande Volta? Serão capazes de a reproduzir no Tour com uma equipa ainda mais talentosa?