A história de superação de Milan Vader, o dia da justiça para Coquard e Soupe, além da inacreditável vitória de Sheehan na Paris-Tours estão entre as surpresas da época.
Num pelotão com mais de 500 ciclistas nem todos têm o carisma de Tadej Pogar ou Remco Evenepoel, a irreverência de Mathieu van der Poel ou o instinto matador de Jasper Philipsen.
A maioria dos corredores passa anos sem vencer e há quem durante toda a carreira nunca levante os braços numa corrida da máxima categoria.
Ser o número um é tarefa árdua, por isso destacamos estes três triunfos que surpreenderam o ciclismo em 2023.
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A história de superação de Milan Vader
Na temporada de 2023 a Jumbo-Visma venceu oito das 15 provas por etapas do WorldTour.
No entanto, nenhuma deve ter sido tão festejada pelos corredores e pelo staff como a que Milan Vader obteve no Tour de Guangxi, na República Popular da China, prova que regressou após um hiato de quatro anos.
Milan Vader foi recrutado para 2022 após brilhar no mountain bike. Durante anos trabalhou com Tim Heemskerk, treinador da Jumbo-Visma, pelo que a equipa sabia o potencial do corredor. Quando o neerlandês de 25 anos fechou top 10 no XCO nos Jogos Olímpicos de Tóquio a equipa ofereceu-lhe três anos de contrato.
Na primeira época tudo correu mal. Uma grave queda na Volta ao País Basco colocou o ciclista em coma induzido durante duas semanas. Vader ainda voltou na Cro Race, setembro, mas só fez 15 dias de competição.
Em 2023 a história foi outra: 36 dias de competição e apenas um abandono. Só não foram mais porque entre maio e junho voltou ao mountain bike.
O melhor ficou guardado para o fim da época. Primeiro foi rei da montanha e 3º na Volta à Eslováquia, depois venceu a etapa rainha e a geral individual do Tour de Guangxi – os primeiros triunfos como profissional.
A história de superação de Milan Vader é extraordinária. De quase perder a vida a ajudar a Jumbo-Visma a atingir as 70 vitórias na temporada. Um triunfo emotivo para a estrutura neerlandesa.
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Coquard e Soupe ganharam para os trintões
A França sempre teve bons sprinters. O maior de todos foi o histórico André Darrigade, prodígio natural de Dax, perto de Bordéus, que entre 1953 e 1964 conquistou 22 etapas e duas camisolas verdes no Tour de France.
Outros nomes foram aparecendo, mas nenhum dos sprinters gauleses em atividade tem o estatuto de histórico – talvez Arnaud Démare seja discutível por ter ganho a Milão-Sanremo, estar à porta das 100 vitórias e ter etapas tanto no Giro de Itália como no Tour de France.
Para uma nação pouca habituada a ganhar ao sprint 2023 não foi um mau ano. Tanto Bryan Coquard como Geoffrey Soupe estrearam-se a ganhar no WorldTour.
Depois de 47 vitórias em provas de outras categorias e de 49 top 10 em corridas do máximo escalão, Coquard acabou com a malapata no Tour Down Under. Ao mesmo tempo saiu de uma lista liderada por Wilco Keldermann que é o recordista de top 10 no WorldTour entre os atletas que nunca venceram no máximo escalão.
O galo da Cofidis cantou no Tour Down Under e no Pays de la Loire Tour, mas no Tour de France Le Coq ficou-se por seis top 10 e o 3º lugar na classificação por pontos.
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Um souvenir para toda a vida
Mais improvável foi a vitória de Soupe que deu à Total Energie, já que só foi à Vuelta a Espanha por lesão de Alexis Vuillermoz.
O eterno lançador já tinha dado etapas a Nacer Bouhanni na prova espanhola, mas nunca foi o personagem principal.
Aos 35 anos e sem vitórias na Europa, o barbudo mais famoso do pelotão leva um souvenir para toda a vida da localidade alicantina de Oliva, onde adjudicou a 7ª etapa.
Coquard e Soupe ganharam para os trintões e para a França, mesmo sem terem a elegância de um Darrigade.
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A surpresa Ryley Sheehan na Paris-Tours
É ambicioso classificar a vitória de Ryley Sheehan na Paris-Tours como o momento mais surpreendente da temporada de ciclismo… mas é mesmo isso que me vem à cabeça quando recordo o momento.
A Paris-Tours já não é o que era. Em tempos os grandes nomes do pelotão apontavam à clássica dos sprinters que hoje em dia já nem é para puros velocistas nem faz parte dos planos da maioria dos líderes ao disputar-se em meados de outubro.
Mesmo tendo em conta a nova realidade e que o percurso foi muito endurecido nos últimos anos com caminhos de terra entre vinhedos, ganhar a Paris-Tours é um feito extraordinário. A prova data de 1896 e foi ganha por Rik Van Looy, Franceso Moser, Freddy Maertens, Jan Raas, Sean Kelly, entre outros.
De repente um jovem de Boulder, no Colorado, apresentou-se como estagiário da Israel Premier Tech e tornou-se o primeiro americano campeão em 117 edições!
Naturalmente a Israel assinou com Ryley Sheehan por três anos. Aos 23 anos quase nada sabemos dele, apenas que vem do forte circuito de critérios dos Estados Unidos, onde representou a equipa Denver Disruptors. Também bateu Miguel Angel López na Joe Martin Stage Race numa fase em que ninguém batia o Superman.
Dito isto, estaremos perante um one hit wonder ou uma estrela emergente do ciclismo estadunidense? O futuro dirá.
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