Rúben Pereira (Sabgal-Anicolor) e Joaquim Andrade (ABTF Betão-Feirense) não entendem esquecimento dos elites nacionais do Europeu de ciclismo.
Em ano de Jogos Olímpicos, com o Mundial entre 22 e 29 de setembro e os corredores do WorldTour requisitados pelas equipas o normal seria abrir a porta do Europeu de ciclismo ao pelotão nacional.
Portugal convocou três de seis elites masculinos possíveis e a seleção feminina abdicou de representante. Preencher a vaga feminina é um desafio, já que estamos na retaguarda europeia, mas nos homens a seleção foi a única entre as 16 primeiras do ranking a abdicar das quotas disponíveis.
Porquê? Não estão os atletas do pelotão nacional de elites capacitados para correr em Limburgo, na Bélgica?
A desilusão entre os ciclistas é tremenda e os diretores não compreendem o esquecimento. O TopCycling ouviu Rúben Pereira, diretor vencedor da Volta a Portugal com a Sabgal-Anicolor.
“Temos muita matéria-prima em Portugal para estar no Europeu. O GP Jornal de Notícias acabou há uma semana e foi bem disputado. Corredores como o Tiago Antunes, Rafael Reis, Pedro Silva tinham tudo para estar no Europeu. Os Europeus favorecem a seleção nacional com o Iúri Leitão e os gémeos Oliveira, se levassem um bloco mais bem composto ficaria uma seleção muito competitiva. Com três ficam limitadas as opções de trabalho; Espanha leva quase só corredores de segunda linha ao Europeu.”
Rúben Pereira ao TopCycling.
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Um erro gigante
O argumento da falta de calendário das equipas após a Volta a Portugal cai este ano por terra. A 11 de agosto cinco equipas portuguesas correram o Circuito de Getxo, seguiram-se oito dias de GP Jornal de Notícias (de 25 de agosto a 1 de setembro) e a Sabgal-Anicolor ainda fez a Volta à Grã-Bretanha de 3 a 8 de setembro.
Se Rúben Pereira tem 32 anos, Joaquim Andrade tem 55 e além de diretor já foi ciclista.
O responsável pela ABTF Betão-Feirense considera um erro gigante Portugal não preencher todas as vagas para o Europeu.
“Nos meus tempos de corredor era comum não participarmos em Campeonatos do Mundo, por opção da própria Federação. Normalmente só corríamos quando a prova era por perto para minimizar custos. Pensei que esses tempos estavam ultrapassados. Voltamos a não aproveitar mais uma oportunidade de ajudar os nossos jovens corredores a crescer e de premiar as equipas pelo esforço que fazem ao longo de cada ano e puderem ver um seu corredor nos grandes eventos.”
Joaquim Andrade ao TopCycling.
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“Temos corredores que se adequam às características desta prova”
Joaquim Andrade correu o Mundial júnior em 1986 (Marrocos), o Mundial de elites em 1997 (Espanha), em 1998 (Países Baixos) e em 2000 (França). Todos em países próximos do ponto de vista geográfico.
É legitimo perguntar se vale a pena apostar num Europeu cujo percurso recorda o das clássicas da primavera na Bélgicas, com pavê, estradas estreitas e subidas curtas.
“Concordo que o percurso é muito específico, mas é mais uma oportunidade que se perde. Nos elites e no pelotão nacional temos corredores que se adequam às características desta prova e que poderiam colmatar as ausências que são compreensíveis de alguns dos corredores portugueses do World Tour. Na minha equipa dou o exemplo do Pedro Silva, na melhor forma de sempre da sua curta carreira, e do Fábio Costa. Relembro também André Carvalho, Luís Gomes, Francisco Campos e Rafael Reis, este pelo menos a preencher a segunda vaga do contrarrelógio.”
Joaquim Andrade ao TopCycling.
Recorde-se que Portugal também não cobre as seis vagas disponíveis em sub-23 masculinos, sub-23 femininas e juniores femininas. Um erro grave na opinião do diretor da ABTF Betão-Feirense que entende que preencher a totalidade das vagas é perder a oportunidade de incentivar jovens ciclistas.