Pavê e percurso de clássicas não esmorecem a ambição de Portugal no Europeu de ciclismo. Retrospetiva das participações nacionais no evento.
Portugal aborda o Europeu de ciclismo, criado em 1995 para a categoria de sub-23 e aberto a juniores em 2005. A categoria de elites só participa desde 2016.
Portugal organizou a edição de 1999, em Lisboa, e conquistou quatro medalhas ao longo de 29 anos de campeonatos.
- 2010: Nélson Oliveira 2.º na prova de fundo e 3.º no contrarrelógio sub-23
- 2010: Rafael Reis 3.º no contrarrelógio júnior
- 1996: Cândido Barbosa 1.º na prova de fundo sub-23
Desde que correm elites os melhores resultados aconteceram logo na primeira oportunidade. Em 2016, Rui Costa foi 6.º na prova de fundo e Nélson Oliveira 4.º no contrarrelógio. As últimas sete edições saldaram-se com um top 10 em 14 corridas: Nélson Oliveira foi 6.º no contrarrelógio em Glasgow 2023.
Portugal vai para discutir as provas
Na Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) a política para a categoria de elites é de ir aos grandes eventos com ambição. Portugal vai para discutir as provas.
É uma postura respeitável marcada pela direção liderada por Delmino Pereira. O TopCycling questionou a FPC acerca da presença no Europeu e a assessoria de imprensa da instituição respondeu com uma nota.
“O objetivo das seleções nacionais de Portugal nas categorias principais em grandes competições está, há muito, definido: não se participa para participar nem para ganhar experiência, participa-se com equipas e corredores que, em condições normais, têm capacidade para obter resultados de relevo. O mesmo já não acontece nas camadas jovens. Aí, pretende-se dar oportunidade de aquisição de experiência a um número mais alargado de ciclistas, de entre aqueles que, pelo seu patamar de desenvolvimento desportivo pessoal, estejam num nível que lhes permita ter uma experiência positiva neste nível competitivo.”
Assessoria de imprensa da Federação Portuguesa de Ciclismo.
É realista Portugal aspirar a medalhas em elites?
Há muita ambição, mas é realista neste ciclismo moderno Portugal aspirar a medalhas no Europeu, em elites, quando nos oito anteriores não conseguiu? Tendo em 2024 apenas sete atletas no WorldTour e um em ProTeams? Estando fora do top 15 do ranking?
Uma coisa é certa: o pelotão nacional nem é tido nem achado. O GP Jornal de Notícias correu-se no início de setembro e a Sabgal-Anicolor disputou a Volta à Grã-Bretanha, logo, ritmo competitivo os atletas das Continentais têm.
Portugal dispôs de 31 vagas para Limburgo e selecionou 16 atletas. Não se faz representar em elites femininas nem no contrarrelógio dos sub-23. Nas provas cronometradas só ocupa cinco vagas de 14 disponíveis. Porquê ocupar só metade dos lugares disponíveis? Porquê abdicar de ter seis corredores em elites masculinos? Porquê deixar de fora os campeões nacionais juniores masculinos Rafael Durães e Simão Silva?
O TopCycling dirigiu esta e outras questões aos selecionadores nacionais. A nota da FPC não esclarece nada.
“As escolhas dos selecionadores nacionais, dos portugueses como das outras nações participantes na competição, têm em conta vários condicionalismos: o tipo de percurso das provas, as opções técnicas de cada selecionador, a disponibilidade dos corredores (por lesão, doença, sobrecarga de provas, etc.), o acordo das equipas dos ciclistas, o orçamento disponível.
Assessoria de imprensa da Federação Portuguesa de Ciclismo.
Bloco desapoiado limita a ambição
Não deve ser barato levar representantes em todas as categorias. Não deve ser fácil elaborar uma convocatória onde os interesses das federações por vezes esbarram nos das equipas.
Por outro lado, um bloco desapoiado limita a ambição que a própria FPC declara ter, situação que não ajuda à missão de Iúri Leitão (Caja Rural), Ivo Oliveira e Rui Oliveira (UAE Emirates).
Atletas como Pedro Silva, Fábio Costa, André Carvalho, Luís Gomes, Francisco Campos, Tiago Antunes, Rafael Reis, Pedro Silva tiveram épocas que os deveriam aproximar da seleção.
Portugal fecha as portas aos elites da cena doméstica no Europeu, num ano em que um corredor saltará do pelotão Continental nacional para o WorldTour, Afonso Eulálio.
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Europeu para roladores e classicómanos
Este ano o Europeu corre-se em Limburgo, província mais oriental da Flandres, na Bélgica. O percurso da prova masculina de elites tem 222,9 km com 1273 m de desnível; favorece roladores e classicómanos.
O melhor classicómano português em 2024 foi António Morgado, 5.º na Volta à Flandres e 2.º no Le Samyn, ausente no Europeu. A corrida masculina tem oito curtas e inclinadas subidas e oito setores de pavê.
A seleção masculina leva três atletas – Iúri Leitão (Caja Rural-Seguros RGA), Ivo Oliveira e Rui Oliveira (UAE Emirates), promovendo o reencontro dos campeões olímpicos do Madison – e a feminina não leva nenhuma.
Confiram os resultados dos melhores portugueses por edição dos campeonatos:
- 2023: Nélson Oliveira 18.º na prova de fundo e 6.º no contrarrelógio
- 2022: Rui Oliveira 16.º na prova de fundo; sem representante no contrarrelógio
- 2021: João Almeida 14º na prova de fundo e 10.º no contrarrelógio
- 2020: Rui Oliveira 14º na prova de fundo e Rui Costa 11.º no contrarrelógio
- 2019: Rui Oliveira 16.º na prova de fundo; sem representante no contrarrelógio
- 2018: José Gonçalves 43.º na prova de fundo e Tiago Machado 18.º no contrarrelógio
- 2017: Tiago Machado 35.º na prova de fundo e 11.º no contrarrelógio
- 2016: Rui Costa 6.º na prova de fundo e Nélson Oliveira 4.º no contrarrelógio