O que é uma vitória à Roglic? Escolhemos também o MVP e a revelação do Giro de Itália no capítulo final do “Ti Amo”.
“Ti amo” é um espaço de amor à cultura italiana e ao Giro. É também uma música de Umberto Tozzi. Proponho 21 histórias para 21 etapas.
O contrarrelógio (ou cronoescalada) do Monte Lussari entrou diretamente para o top 10 de grandes momentos das últimas décadas do Giro de Itália.
A partir de agora quando quisermos designar uma vitória suada, com imprevistos e contornos épicos podemos utilizar a expressão: “Foi uma vitória à Roglic”. Para ganhar à Roglic é preciso:
- Sofrer uma lesão grave (na Vuelta de 2022)
- Passar meses sem poder tocar a bicicleta
- Superar uma longa reabilitação
- Fazer uma aproximação minimalista ao objetivo e ganhar 100 por cento das corridas (Roglic ganhou tanto o Tirreno-Adriático como a Volta à Catalunha)
- Perder a equipa quase toda por COVID-19 na véspera da prova
- Chegar à etapa decisiva atrás do líder
- Operar a remontada depois de um problema mecânico
- Ganhar a classificação geral sem liderar em nenhum dia prévio
Na realidade Primoz já tinha ganho à Roglic porque para ele nunca nada foi fácil.
Chegou ao ciclismo por culpa de um acidente nos saltos de esqui. Começou por baixo (Adria Mobil) correndo provas periféricas (ganhou a Volta ao Azerbaijão em 2015). Já no WorldTour sofreu vários reveses, mas nenhum com a dimensão da derrota sofrida no Tour de France de 2020. Não se deixou abater e reagiu ganhando a Liège e a Vuelta nas semanas seguintes – e como este há mais exemplos.
Digamos que Roglic já tinha ganho à Roglic, mas sem cumprir todos os critérios da lista. Neste Giro fez um check em cada ponto!
Histórico top 10
Não foi uma edição vintage como eu previa, mas o final foi apoteótico. Houve um equilíbrio grande entre os três primeiros e Roglic foi muito superior no Monte Lussari. Calma que sobre João Almeida falaremos com calma em breve!
O pódio tornou-se relativamente previsível quando Remco Evenepoel e Tao Geoghegan Hart abandonaram. É interessante constatar que pela primeira vez na história há 10 ciclistas de 10 nacionalidades nos 10 primeiros!
Também é curioso ver que do top 10 só o esloveno e João Almeida venceram etapas; as restantes foram repartidas entre sprinters e fugas bem-sucedidas.
MVP é Sepp Kuss
Sobretudo entre os fugitivos é que esteve o espetáculo e o meu destaque vai para Derek Gee. A Israel-Premier Tech nem precisa de ir ao mercado porque já encontrou o líder ideal para as grandes Voltas! Brutal a capacidade de luta e de recuperação do canadiano que fecha com um registo impressionante:
Em traços gerais e porque nem só de vitórias vive o pelotão, o meu MVP é Sepp Kuss, também conhecido como a sombra de Roglic. Forte quando o líder fraquejou e sempre pronto para a batalha, o Durango Kid já leva cinco grandes Voltas ganhas e em nenhuma foi ele o 1º.
Há quem nasça para liderar e quem nasça para trabalhar. Sepp Kuss foi a Jumbo-Visma, embora tenha contado como um Rohan Dennis que foi de menos a mais e com um excelente Sam Oomen, mas no momento da verdade foi o americano que salvou Roglic de perder o Giro no Monte Bondone e isso para mim justifica ser MVP.
Arrivederci!
Uma nota para Thibaut Pinot: na última época como profissional é o rei dos trepadores e cheirou a vitória em duas ocasiões. É preciso valentia para por o ponto final no momento certo e Pinot poderá dizer que saiu em alta. Ainda vai correr e até pode ganhar, mas do Giro saiu com a classe intacta que foi o que projetou ao longo da carreira.
O Giro conclui a digressão pela Itália em Roma. Arrivederci!
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