O momento-chave. Os parabéns da filha de Charly Gaul. No TopCycling documentamos a vitória de João Almeida no Monte Bondone, no Giro de Itália.
O “Ti Amo” de hoje é especial porque não é todos os dias que um português ganha no Giro de Itália. Proponho puxar atrás o filme da etapa e contar a história através das imagens captadas pelos fotógrados da agência LaPresse.
Sabbio Chiese e Monte Bondone, 23 de maio de 2023.
A 16ª etapa do Giro de Itália ficará para sempre no imaginário dos aficionados portugueses de ciclismo.
Após 12 dias de chuva em 15 etapas disputadas… sol à partida na localidade situada na margem lombarda do Lago Garda.
Bruno Armirail não resistiu à dureza
O arranque foi a ferro e fogo: nos primeiros 38 minutos fez-se média de 51km/h até que um grupo grande formou a fuga do dia. Representados mais de 20 ciclistas; Bardiani em maioria com quatro.
Líder durante duas etapas, Bruno Armirail (Groupama-FDJ) partiu para a terceira semana com 1:08 de vantagem sobre Geraint Thomas (Ineos-Grenadiers).
A cara mais dura da etapa
Após 60km planos, o pelotão só apanhou montanha a sério à passagem por Bolognano onde os ciclistas subiram os 12,7km do Passo di Santa Barbara a uma percentagem média de inclinação de 8,3%.
Começava a mostrar-se a cara mais dura da etapa classificada com cinco estrelas de dificuldade pelo desnível positivo acumulado (5200m). Até porque após Santa Barbara os corredores voltaram a subir: o Passo Bordala é um prolongamento de 4,5km a 6,7% da subida anterior.
Primeiro irlandês líder dos trepadores!
Ben Healy partiu com o dorsal vermelho – símbolo do mais combativo na 15ª etapa – e voltou a meter-se na fuga. O corredor da EF Education-EasyPost, vencedor ao oitavo dia, somou 56 pontos e tirou o maillot azul da montanha a Davide Bais da Eolo-Kometa.
Ben Healy já passou na frente em sete contagens desde o início da competição e tem dado espetáculo. Por isso mesmo dedicamos-lhe uma página musical do “Ti Amo”. Para já tornou-se o primeiro irlandês líder dos trepadores!
Jumbo-Visma assumiu
A Jumbo-Visma assumiu o trabalho durante a maior parte do dia, embora até à subida de Matassone (coroada a 86km para o final) tenha dividido a tarefa de controlar com a Groupama.
O panorama mudou na abordagem à penúltima montanha – a 2ª categoria de Serrada levou os corredores aos últimos 50km e por esta altura a Jumbo mostrou que queria a etapa e levar Roglic à liderança. Sam Oomen fez um grande trabalho, tal como Michel Hessmann e Rohan Dennis.
É curioso que no Predictor do Eurosport – jogo onde os analistas internacionais fazem as suas apostas – Roglic foi a escolha de Alberto Contador e Adam Blythe (entre outros); só Jacky Durand apostou em João Almeida.
“Almeida nunca ataca”
À entrada do Bondone Dennis pegou no grupo dos favoritos e só abriu para o lado a 14km do fim. Roglic ficou com Sepp Kuss. Aí já a Ineos tinha perdido Pavel Sivakov lesionado pela queda sofrida há dias.
Ineos e UAE estiveram bem estrategicamente: Ben Swift e Diego Ulissi entraram na fuga o que explica o porquê da Jumbo carregar com a responsabilidade.
Ao ver a transmissão no Eurosport UK, a 16km do topo do Monte Bondone ouvi uma frase curiosa do grande Sean Kelly, colega nos 80 de Joaquim Agostinho na Sem-France Loire-Mavic e de Acácio da Silva na Kas.
“Almeida nunca ataca, parece esperar pelos 500m finais e vê se está bem. Nunca ataca de longe. Veremos um Almeida diferente? Ele tem estado muito bem neste Giro, mas ainda não tivemos um teste sério aos homens da geral.”
Sean Kelly ao Eurosport UK durante o direto.
UAE em superioridade numérica
Os últimos 14km da ascensão foram controlados por uma UAE em superioridade numérica graças a Davide Formolo, Jay Vine e Brandon McNulty (vencedor em Bergamo dois dias antes).
A 8,3km da meta McNulty deu sequência a uma aceleração de Vine e Almeida prolongou a movimentação. Roglic ficou com Kuss, Thomas isolado, Eddy Dunbar (Jayco) foi o único outsider a manter-se com os favoritos e assim seria até à meta.
Como um rolo compressor, a Pantera das Caldas voltou a por um ritmo demolidor a partir dos 6,4km até que 400m mais à frente descaiu no grupo para surpreender os rivais. Era o preâmbulo da estocada final.
Momento-chave
Com 4,6km para percorrer Kuss quase encostou em João Almeida, mas Roglic entrou em crise.
Foi o momento-chave: com o esloveno sem pernas Thomas saltou para a roda do português da UAE e percebeu-se quem eram os mais fortes. O dano só não foi maior porque Kuss salvou o dia a Roglic.
Sete vitórias portuguesas no Giro!
No mano a mano, o líder da Juventude bateu o veterano de 36 anos. Um choque de gerações que João Almeida resolveu ao sprint após 203 km (5h’53’27″ feitas a média média de 34.460 km/h)
João cerrou o punho! A vitória que procurava, a primeira da temporada, chegou no Monte Bondone após uma exibição atacante de um ciclista até agora conservador. Thomas recupera a maglia rosa e fica com18 segundos sobre Almeida e 29 sobre Roglic.
É a primeira vitória da Pantera das Caldas à quarta presença no Giro de Itália. João Almeida não vencia desde a 5ª etapa da Volta a Burgos do ano passado (em Lagunas de Neila), mas 290 dias depois voltou a sorrir.
Sete vitórias portuguesas no Giro! Acácio da Silva foi responsável por cinco entre 1985 e 1989, Ruben Guerreiro impôs-se em Roccaraso, nos Abruzos, em 2020. João Almeida é o terceiro luso vencedor na corsa rosa.
Performance sobre-humana
Já nos bastidores do pódio sucedeu algo simbólico. João Almeida conheceu Fabienne Gaul, filha de Charly Gaul.
O Anjo das Montanhas foi o primeiro vencedor no Monte Bondone, em 1956, quando uma performance sobre-humana o levou a revirar a geral do Giro de Itália… que nunca mais perdeu.
Poderá a subida ser talismã para o jovem de A dos Francos como foi para o luxemburguês?
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