Dia de Monte Bondone no Giro de Itália. Rivais de “calças na mão” e um telescópio no topo. Avistaremos o campeão nas Dolomitas?
“Ti Amo” é um espaço de amor à cultura italiana e ao Giro. O comentador Gonçalo Moreira propõe 21 histórias para 21 etapas.
Mais do que um monte, o Bondone é um conjunto de montanhas em plena cordilheira das Dolomitas. Desde o alto avistamos Vale de Ádige e podemos contemplar o firmamento desde a Terrazza delle Stelle – a varanda das estrelas – que é um observatório astronómico com visitas guiadas.
Talvez com os potentes telescópios situados no Bondone consigamos perceber quem vai ganhar o Giro de Itália. Em 2022 bastou um ataque cirúrgico na Marmolada para afundar Richard Carapaz e dar a Jai Hindley e à Bora-Hansgrohe a primeira corrida de três semanas.
Na 16ª etapa o Monte Bondone sobe-se desde Aldeno (21,4 km a 6,7%), vertente estreada em 1973 com vitória de José Manuel Fuente. Asturiano, El Tarangu vivia o auge da carreira após fazer a dobradinha Giro-Vuelta como rei da montanha em 1972. Faltou o Tour para completar a tripla que ao longo da história só Federico Bahamontes e Lucho Herrera fizeram.
O Bondone dá, o Bondone tira
Introduzida pelo diretor Vincenzo Torriani, em 1956, a subida ao Monte Bondone está para sempre associada a Charly Gaul. O luxemburguês escreveu uma página para a eternidade debaixo de uma tempestade de neve que o obrigou a passar uma hora numa banheira com água quente para recuperar os sentidos.
No ano seguinte Gaul era líder a dois dias do final do Giro e ia tão confiante que encostou para se aliviar. Foi atacado por Louison Bobet e Gastone Nencini. O Giro della pipi foi ganho pelo italiano e provou uma velha máxima: o Bondone dá, o Bondone tira.
Gastone Nencini foi um dos grandes descedores da história e nesse Giro de 1957 beneficiou de uma inovação tecnológica. Trocou de uma bicicleta standard para um quadro desenhado por Ernesto Colnago: “Tinha tanta potência e descia tão bem que fiz um quadro customizado com uma geometria especial que melhorasse a esfabilidade nas descidas e desse maior rigidez para a pedalada.”
Vollering de “calças na mão”
Ganhar grandes Voltas nem sempre é algo elegante. Na alta competição vale tudo menos arrancar olhos e na Vuelta feminina – que se correu na primeira semana de maio – tivemos outro exemplo.
Annemiek van Vleuten mostrou menos pernas do que Demi Vollering na 5ª etapa com final no Mirador de Peñas Llanas (província de Segóvia) e também perdeu nos Lagos de Covadonga. Como é que acabou campeã? Provocando uma bordure ao km 36 da 6ª etapa numa zona de ventos cruzados na Cantábria – que Van Vleuten bem conhece e onde apanhou Vollering de “calças na mão” ao parar para um “xixi” que custou uma Vuelta.
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