Do espigão telescópico à Colnago de Pogacar

Do espigão telescópico à Colnago de Pogacar

Ganhos marginais, inovações tecnológicas e ciência. Confiram os detalhes que podem valer um Monumento.

O impacto da tecnologia no desporto de alto rendimento é inquestionável. Um bom exemplo é a Milão-Sanremo ganha por Matej Mohoric. Durante meses o esloveno trabalhou com a Merida para instalar um espigão telescópico (em inglês dropper seatpost), elemento que através de um botão no cockpit permite ajustar o selim de acordo com a situação de corrida. Mohoric obteve assim uma posição que lhe permitiu (baixando o selim entre 50 a 70mm) obter maior controlo e estabilidade na bicicleta em descida, ajudando-o na técnica descida do Poggio onde o corredor da Bahrain descarregou os rivais.

Destruí o ciclismo uma vez com o super-tuck, agora voltei a destruir o ciclismo novamente. Penso que agora todos vão querer usar os espigões telescópicos. Vai ser mais um aspeto a ter em conta na bicicleta. Como na Fórmula 1. Havia o acelerador e o travão, agora têm centenas de botões”, disse na entrevista rápida logo após vencer a clássica da primavera.

Colnago e Boonen fizeram as pazes

Quando o Tom Boonen fala, o público ouve. Num podcast belga discutia-se o rendimento de Tadej Pogacar no contrarrelógio por equipas do Paris-Nice quando Fons De Wolf e Tom Boonen comentaram que Pogacar seria 2km/h mais rápido se trocasse a Colnago por uma bicicleta rival: Jumbo-Visma (Cervélo), Ineos Grenadiers (Pinarello) ou Soudal Quick-Step (Specialized).

A Colnago convidou Boonen testar os novos modelos e embora a visita não se tenha materializado o Tornado pediu desculpa. Boonen recordou que “quando era um jovem corredor sonhei um dia ganhar a Paris-Roubaix numa Colnago” partilhando a foto da tripla feita pela Mapei em 1996. O fundador Ernesto Colnago foi diplomático e replicou que “também eu teria gostado de te ver ganhar Roubaix numa das minhas bicicletas”.

Atualmente já nem Boonen corre nem Ernesto Colnago é o proprietário da marca. A Colnago foi vendida a um fundo de investimento dos Emirados Árabes Unidos com interesses na equipa UAE-Emirates.

Imagem: PH Fizza

Cabras preparam o pavê de Roubaix

Na era da tecnologia descobrimos esta semana como se retiram as ervas daninhas das juntas das pedras da Paris-Roubaix que tornam o pavimento escorregadio e perigoso. Não há máquinaria nem intervenção humana, se o empedrado do Inferno do Norte está limpo deve-se ao eco pastoreio: as cabras preparam o pavê de Roubaix que deixa os setores limpos e os animais com a barriga cheia.

É o lado arcaico da moderna Paris-Roubaix, onde a DSM anda a prometer há um ano apresentar um sistema de regulação da pressão dos pneus durante a prova. A marca neerlandesa Scope desenvolveu o Scope Atmoz: ao inserir um reservatório de ar no cubo dianteiro e traseiro, ligado ao pneu sem câmara (tubeless), com o Garmin os corredores conseguem ver a pressão e ajustá-la com um botão no cockpit.

Para os que acham interessante, contem com €3.998,00 para este equipamento.

Parece que ainda não é desta que vamos conhecer este sistema que permite baixar a pressão no pavé para maior aderência enquanto no asfalto podem aumentar a pressão e tornar a roda mais rígida poupando cerca de 30 watts.

Por falar em pneus tubeless, já são uma realidade na maioria das equipas em Roubaix. Permitem melhor proteção contra furos e rolling resistance, isto é, melhora a relação entre a fricção do pneu e da estrada. A lógica é simples: maior fricção resulta em menor velocidade.

Revolução tecnológica antes de Paris 2024

A pensar nos próximos Jogos Olímpicos a Federação Francesa de Ciclismo (FFC) tem investido milhões para uma performance ideal enquanto nação anfitriã.

O segredo está no PLATO, um dispositivo de avaliação e acompanhamento científico das seleções nacionais, que está à disposição dos programas de investigação. O chefe do projeto é Emmanuel Brunet, responsável pelo departamento de performance e investigação da FFC.

Só em 2019 o programa recebeu 200 mil euros, o que tem permitido uma revolução tecnológica antes de Paris 2024. Os corredores são testados em vários parâmetros e os dados analisados por cientistas desportivos. Na página da FFC Brunet explica que num teste de esforço na bicicleta ergométrica tudo é monitorizado: programam-se fortes níveis de resistência e é medida com precisão a força aplicada nos crenques, estuda-se a simetria da pedalada e outros parâmetros que eram inacessíveis até há pouco tempo.

Ao mesmo tempo registam-se dados fisiológicos do atleta como temperatura corporal, frequência cardíaca, consumo de oxigénio, taxa de lactato e várias câmaras de alta definição medem os ângulos de cada pedalada. Tudo acontece no velódromo de Saint-Quentin en Yvelines, a base do ciclismo de pista para Paris 2024, o grande laboratório do ciclismo francês.

Há parcerias com universidades e empresas privadas. A ligação da FFC com a empresa SKF é curiosa. Sediada ao lado do velódromo, a SKF é líder mundial em desenvolvimento, design e fabricação de rolamentos, vedações e sistemas de lubrificação com milhões de aplicações no nosso dia-a-dia (transportes públicos, saneamento básico…). Com a ajuda da engenharia industrial foi criado um modelo matemático que reduz a fricção dos rolamentos na performance e em seis meses Emmanuel Brunet reportou ganhos de 50 por cento.

Mudança de chip

O ciclismo francês não mudou apenas pela aproximação dos Jogos Olímpicos. Há mais de uma década que a Groupama-FDJ trabalha com a Lapierre no desenvolvimento de todos os aspetos relacionados com a bicicleta.

Sob a liderança de Frédéric Grappe a equipa até operou um milagre: Thibaut Pinot foi campeão nacional de contrarrelógio! A aposta em investigação científica vale a pena, mas é a longo prazo. Comparando com a UAE-Emirates, que dispõe de quase o dobro do orçamento da Groupama-FDJ, podemos concluir que o dinheiro é importante, mas só por si não dá resultados. Excluindo Tadej Pogacar, nenhum atleta da UAE ganhou um contrarrelógio numa prova WorldTour ou ProSeries desde a criação do projeto.

A mudança de chip é transversal às duas maiores equipas do país. Groupama-FDJ e Ag2r-Citroen têm feito um grande trabalho ao nível da formação. Na equipa de Marc Madiot passaram 11 corredores dos sub23 à equipa principal nas últimas três épocas e no projeto de Vincent Lavenu têm investido forte em todos os escalões de formação – o Chambéry Cyclisme Formation abriu em 2001 e de lá saíram Romain Bardet, Benoît Cosnefroy, Pierre Latour, Nans Peters ou os irmãos Paret-Peintre.

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