Quanto custa ir a Benidorm ver a Taça do Mundo de ciclocrosse? É ideal para crianças? O TopCycling na cidade que sonha com o Mundial 2029.
Em Benidorm, não foi só Fem van Empel que fez o hat-trick nesta ronda da Taça do Mundo, já que pelo terceiro ano consecutivo eu estive na festa do ciclocrosse.
Como sempre, levei a família. O ciclocrosse é um evento social e as provas são a “desculpa” para um dia bem passado ao ar livre entre fãs de ciclismo e gente que nunca viu uma prova.
Para os aficionados o apelo é óbvio, mas nesta visita a Benidorm foi nos novos adeptos que me foquei. Tenho dois em casa: um de seis e outro de nove anos, nenhum com particular interesse em ciclismo.
Desde que vão ao ciclocrosse a percepção que tinham mudou. Não há nada como ver desporto em direto: as inclinações são brutais, as caras dos corredores refletem o esforço, além de todo o folclore à volta do ciclocrosse.
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Foto: TopCycling
Centenas de miúdos correram no mesmo circuito dos pros
Em Benidorm há quatro fan zones com música, stands com maillots e chapéus vintage, marcas topo de gama com bons desconto. Algumas equipas têm pontos de venda no paddock onde aproveitam para escoar stock de coleções anteriores.
A música já se ouvia no sábado com o DJ da Red Bull a animar o pessoal! Na véspera centenas de miúdos correram no mesmo circuito dos pros, o que enche os hotéis.
Baseado na experiência prévia, reservei meses antes um hotel de três estrelas em frente ao circuito. Com meia pensão ficou em 140 euros. Estacionar em Benidorm é duro porque 90 por cento dos sítios são exclusivos para residentes; por 18 euros deixamos o carro num parque de estacionamento durante 24 horas.
Comer e beber no recinto não é barato:
- Cachorro 6 euros
- Batata frita 6 euros
- Hambúrguer 10 euros
- Refrigerante 3 euros
- Cerveja 6 euros
Recomendação: levem um pic-nic porque o circuito está montado num parque agradável, há zonas relvadas, sombras, bebedouros e zonas infantis de jogo.

Foto: Aritz Arambarri/Sprint Cycling Agency
Há mais miúdos a ver as corridas
Domingo, dia sagrado na Taça do Mundo de ciclocrosse, cheguei cedo ao circuito de Benidorm para ver os juniores. A essa hora circulamos por onde queremos à vontade e é ideal para tirar fotos com os craques.
O percurso cresceu de 3000 para 3200 m, o que tornou a prova mais dura e trouxe maior fluidez nas deslocações. As duas pontes ajudam; descobrimos zonas como a subida no bosque, que ronda os 20 por cento, e que nos dois anos prévios não tínhamos visto.
Neste três anos notei mais miúdos a ver as corridas. Também o nível de conhecimento subiu pelo que fui ouvindo.
Tudo isto é positivo, mas tem um preço. Os seguintes valores estão baseados em pesquisas que tenho feito e não foram confirmados pelo organizador:
- Custo: 300-400 mil euros
- Espetadores: 15-16 mil
- Bilheteira + catering cobrem 70-80 % do custo
- Investimento público cobre o resto
- Alcance: TVE transmitiu a prova masculina em Espanha e o Eurosport deu ambas provas em França e Países Baixos; tanto em Portugal como noutros mercados europeus foi possível seguir as corridas na plataforma de streaming Max
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Vídeo | TopCycling na estreia da Taça do Mundo em Benidorm em 2022

Foto: TopCycling
Chapeau para Van Aert
Quando terminou a corrida dos elites masculinos fui ao autocarro da Visma Lease a Bike porque estava com um grupo de pequenos fãs de Wout Van Aert – 4.º nesse dia.
Chapeau para Van Aert que três quartos de hora depois saiu todo aprumado, óculos de sol postos e ficou 20 minutos a dar autógrafos.
Mais simples foi fazer fotos com os sub-23 e com os juniores. Miúdos e miúdas que vão marcar os próximos anos do ciclocrosse.

Foto: TopCycling
Erik Dekker, Johan Museeuw e Miguel Indurain
Outro dos aspetos giros é ver quem passa e ao longo do dia vi Erik Dekker, Johan Museeuw e Miguel Indurain. O neerlandês e o belga têm casa em Benidorm e já nos anos 80 treinavam na zona “que não tinha tantos edifícios altos como agora”, recordou o Leão da Flandres.
Indurain mantém-se discreto e continua a falar sem filtro.
“O ciclocrosse está na moda, eu não gosto muito, mas as pessoas vêm ver os seus ídolos. Aproveitam uma época em que há muitos ciclistas a treinar nesta zona, Benidorm vive do turismo, tem um maravilhoso tempo e vive-se o ambiente ciclista.”
Miguel Indurain
Só uma lenda para dizer num evento de ciclocrosse que não gosta de ciclocrosse!

Foto: TopCycling
Belgas e neerlandeses têm encontro anual com o sol
A organização fala em 16 mil espetadores, mas fiquei com a sensação de que havia menos gente: pode dever-se à melhor organização do recinto ou a menos bilhetes vendidos.
O evento está garantido para os próximos anos. Em Benidorm, belgas e neerlandeses têm encontro anual com o sol; a data é ideal porque encaixa no período pós segundo estágio das equipas de estrada.

Foto: TopCycling
Em Benidorm sonham com o Mundial 2029
Os próximos Mundiais são em Lièvin, no Nordeste francês junto à Flandres, entre 31 de janeiro e 2 de fevereiro. Seguem-se Hulst 2026, Ostend 2027, Hoogerheide 2028 e Namur 2030 – todos nas duas nações do ciclocrosse, Bélgica e Países Baixos.
Em Benidorm sonham com o Mundial 2029, única data disponível no horizonte próximo.
A Espanha organizou seis vezes o Mundial, sempre no País Basco ou em Navarra. É a Norte que está a tradição, mas o ciclismo moderno virou-se para o Mediterrâneo e na Comunidade Valenciana encontrou a logística ideal para ressuscitar o ciclocrosse espanhol.

Foto: Luis Angel Gomez/Sprint Cycling Agency
“Vamos Felipe”
Até um campeão encontraram! Felipe Orts é de La Villa Joiosa, a dois passos de Benidorm, cresceu junto à praia e com sol, em nada parecido com o frio, a chuva e a lama que forjam os campeões de ciclocrosse da Taça do Mundo.
“Vamos Felipe” foi o que mais ouvi no circuito este domingo e Orts devolveu o carinho com um 6.º posto que é o melhor resultado em três presenças em Benidorm.
Os meus filhos gritaram “Vamos Felipe”. Caramba, até eu gritei por Orts sonhando um dia gritar por um campeão português que nos faça sonhar.
Vemo-nos para o ano Benidorm!