Rúben Rodrigues regressa em pleno após ano duro. Minhoto da Laboral Kutxa aponta à seleção nacional e ao reencontro com António Morgado e companhia.
Em 2024 a Fundação Euskadi cumpre 30 anos. A instituição que transformou o ciclismo no País Basco e deu origem à Euskaltel-Euskadi tem-se vindo a abrir ao longo dos anos.
Portugal integra a lista de países que cederam atletas à formação “laranja” – Ricardo Mestre, algarvio que cumpre castigo de três anos, correu pela equipa em 2013.
Num futuro não muito longínquo poderá haver mais um português na Euskaltel-Euskadi. Rúben Rodrigues está na segunda época na Laboral Kutxa e é um de muitos jovens – locais, do resto da Espanha e estrangeiros – em formação nas principais escolas de País Basco e Navarra: Fundação Euskadi, Finisher (satélite da Kern Pharma) e Caja Rural.
“Descobri que o ciclismo espanhol era superior ao que eu pensava. São corridas sub-23 a sério, onde o ritmo nunca para, onde tive que estar sempre na frente a fechar espaços e neutralizar ataques para proteger os líderes. Todos podem ter a sua oportunidade de lutar pela vitória porque são corridas abertas e desde que estejam as principais equipas representadas tanto pode dar para a fuga como para o pelotão. Numa boa época sou capaz de lutar por corridas e é o que quero fazer em 2024.”
O calendário sub-23 é intenso no norte de Espanha. O Torneio Euskaldun, a prova de maior prestígio no País Basco, é composto por 17 provas. Xabier Berasategi ganhou pela Laboral Kutxa em 2021 e 2022 passando a profissional na Euskaltel-Euskadi. Em 2020 o campeão foi Jon Barrenetxea, reforço da Movistar para as duas próximas temporadas.
A orografia da região oferece o terreno ideal para Rúben Rodrigues, um trepador que gosta de esforços longos e constantes.
“Estou num projeto que me vai levar longe, sinto que trabalham muito bem e estão focados num projeto bom para jovens que querem chegar a profissionais. Não é o centro do ciclismo europeu, mas é um nível muito alto, quem se der bem aí está bem preparado para dar o passo para profissional. O sonho de criança é fazer disto vida seja no WorldTour ou não.”
Transição de júnior para sub-23 foi dura
Por estes dias Rúben Rodrigues treina em Guardizela, Guimarães. Por sorte no Minho não faltam companheiros de treino com nível e de vez em quando dá umas voltas com Tiago Machado e André Carvalho – que após cinco anos no estrangeiro volta a Portugal para representar a Sabgal-Anicolor.
A transição de júnior para sub-23 foi dura. Em 2022 sentiu dificuldades em conciliar estudos e ciclismo, não entrou na temporada como queria e só endireitou o ano quando a Laboral Kutxa lhe atribuiu um treinador.
Ultrapassadas as dores de crescimento pela mudança de categoria e uma apendicite mesmo antes dos Nacionais, Rúben Rodrigues sente-se preparado para fazer um bom 2024.
“Estou num nível físico e mental muito melhor, encaro a época de maneira mais consistente e focada. Decidi começar a trabalhar com um nutricionista. Para chegar a um nível alto de rendimento é preciso analisar os detalhes. É tudo mais regrado, com os alimentos certos para determinado esforço. Sinto que progredi bastante.”
Da terra de Mikel Landa e Pello Bilbao saíram 40 profissionais que em 2023 correram em WorldTeams e ProTeams. É verdade que não estão no auge; faltam os Abraham Olano, os Joseba Beloki. Também é certo que em 2005 eram 70 os bascos nas divisões de topo, mas o conhecimento está lá e o trabalho na formação tem qualidade.
“É uma segunda oportunidade. Apliquei-me muito e vou estar focado com o dever de justificar esse voto de confiança que me deram. Do ano que estive na Laboral Kutxa criei uma boa relação com o diretor e o pouco que viu de mim gostou. Espero retribuir.”
Dois anos incríveis na super Bairrada
Para trás ficaram dois anos incríveis na super Bairrada que tudo ganhou entre 2021 e 2022 em juniores. O clube tem Nélson Oliveira como presidente e Henrique Queiroz como mentor dos miúdos.
Rúben Rodrigues foi campeão nacional júnior no primeiro ano; na época seguinte venceu uma etapa na Volta do Futuro – em Celorico da Beira – numa edição em que a Bairrada ocupou os quatro primeiros lugares da classificação final.
“Recordo esses momentos quando estou numa fase menos boa. Na altura saímos para competir como se fosse um dia com amigos. Tê-los ao meu lado fazia-me sofrer muito mais e puxar além dos limites.”
Ao lado estiveram António Morgado e Gonçalo Tavares – que passaram a sub-23 na Hagens Berman Axeon – e Daniel Lima – recrutado pela Academia da Israel Premier Tech. Os laços de amizade mantêm-se e admiração entre colegas é grande.
“Quando vêm ao Norte faço questão de treinar com eles. Dá-me gosto seguir os sub-23 e quando estiveram bem já mostraram do que são capazes. O Morgado no Europeu e no Mundial, o Gonçalo fez uma época consistente e ainda se vai ver mais este ano, o Lima fez com a Israel algumas corridas com os profissionais e isso diz tudo.”
“Ele consegue ser tudo aquilo a que se propuser”
Com 45 vitórias em duas épocas António Morgado destacou-se nesta fornada da Bairrada assumindo-se líder da seleção nacional portuguesa com resultados notáveis: vice-campeão mundial júnior em Wollongong 2022 e vice-campeão mundial sub-23 em Glasgow 2023.
“Tendo em conta as capacidades do António Morgado espera-se sempre o melhor. Todos queríamos que ganhasse, mas um segundo lugar para um sub-23 de primeiro ano foi gratificante e logo numa época que não foi como ele desejava. Claro que o Morgado tinha aquela raiva de fazer segundo, é um vencedor.”
Quando perguntamos a Rúben Rodrigues sobre o reforço da UAE-Emirates a resposta é prudente: “Ele consegue ser tudo aquilo a que se propuser. Só ele melhor do que ninguém saberá o que a carreira lhe vai oferecer. Com 19 ou 20 anos é muito cedo para se perspetivar a carreira dele.”
Um reeencontro com os amigos só pode acontecer na seleção nacional. Pela frente há Europeu, Mundial e Taça das Nações para correr. O Tour de l’Avenir, por exemplo, é a prova com a que qualquer sub-23 sonha.
Rúben Rodrigues promete arregaçar as mangas para conquistar um lugar na maior montra do ciclismo jovem.