Lucas Lopes foi 12.º classificado na Volta a França do Futuro, mas nem isso lhe abriu as portas do ciclismo estrangeiro. Em 2025 será aposta da Rádio Popular-Paredes-Boavista.
Lucas Lopes rubricou uma grande época no ciclismo espanhol e na Volta a França do Futuro subiu ao nível de jovens talentos do WorldTour, mas as equipas profissionais estrangeiras encolheram-se.
Foi então que apareceu a Rádio Popular-Paredes-Boavista na vida do corredor natural de Póvoa de Varzim, que abdica de correr mais um ano em sub-23 para saltar para o pelotão profissional.
Afinal, o que é preciso fazer hoje em dia para bater à porta das ProTeam e WorldTeam? Recapitulemos os resultados mais destacados do trepador de 21 anos em 2024.
- 1.º na Volta a Salamanca
- 1.º no Trofeo Concello do Porriño
- Rei da montanha e vencedor de etapa na Volta a Madrid
- 2.º na Volta à Galiza
- 6.º na Volta ao País Basco
- 7.º na Volta a Portugal do Futuro
- 12.º na Volta a França do Futuro
- 12.º na Volta à Extremadura
“Terminei o ano com expectativas de dar o salto para o WorldTour, não sei se eram expectativas a mais, mas foram semanas de incerteza. Apareceu a Rádio Popular-Paredes-Boavista e estou contente com o salto que dei. Vou ter mais motivação para treinar e fazer as coisas direitinhas. A equipa foi muito aberta, disse para trabalhar no inverno e começar bem a época. Gostava muito de me estrear na Volta a Portugal, mas não é objetivo a curto prazo. Se tiver a possibilidade de a fazer ficarei muito feliz, isto se não coincidir com a Volta a França do Futuro.”
Lucas Lopes em entrevista ao TopCycling.


De menos a mais na Volta a França do Futuro
Ao serviço da formação galega Supermercados Froiz, o vizinho de Rui Costa fechou 2024 com seis triunfos (entre classificações gerais e vitórias parciais).
A cereja no topo do bolo apareceu no verão, no principal objetivo da época. Lucas Lopes foi de menos a mais na Volta a França do Futuro e nos Alpes rebentou a concorrência direta para terminar num brilhante 12.º posto.
É preciso recordar que Portugal partiu com António Morgado como líder e um bloco forte. Pela frente sete dias de prova e três finais em alto nos Alpes – La Rosiére e Les Karelis, em França, Colle delle Finestre, em Itália.
“Estava previsto trabalharmos para o António e para o Gonçalo [Tavares], mas com o decorrer dos dias o selecionador teve que alterar o plano. O ambiente é bom no grupo, somos unidos e isso ajuda muito. Sabia que a minha mais-valia era a alta montanha, além disso recupero bem dia a dia como percebi após a Volta à França do Futuro em 2023.”
Lucas Lopes em entrevista ao TopCycling.
A maior exibição de um sub-23 em alta montanha
No último dia um “monstro”: Colle delle Finestre e 18,2 km de subida com média de 9,3 por cento de inclinação! A jornada ficou marcada pelo all in do espanhol Pablo Torres, autor da que é considerada a maior exibição de um sub-23 em alta montanha: 6,04 W/kg durante 60:45, o equivalente a 6,34 W/kg ao nível do mar.
“Para um jovem de 18 anos são números espetaculares. Após sete dias de competição e numa subida com 18 km fazer esses números é incrível. Tem boas pernas, bom motor e pode ser um futuro campeão de grandes Voltas. Conhecia também o Jarno Widar e nunca pensei que o Joe Blackmore conseguisse ganhar. Tinha estas referências da Taça das Nações porque no calendário espanhol não coincidi com nenhum. O nível é diferente, é um pelotão do WorldTour, mas em Espanha não se anda muito menos.”
Lucas Lopes chegou aos 2180 m de altitude com 8:00 de atraso, uma enormidade em ciclismo, mas realizou uma prestação média forte de 5 W/kg.
“Iniciei a época com o mesmo peso da Volta a França do Futuro (60 kg). No trabalho com o Francis Cabello, que trabalha com o Cristian Rodriguez da Arkea, não me foquei na perda de peso porque tinha medo de perder potência. No Colle delle Finestre descolei logo aos 2 km quando ia nos 330-340 watts, não houve ataques, o ritmo era muito forte. Levantei pé para tentar manter 300 watts e sempre que via alguém à frente aumentava e quando fechava o espaço voltava aos 300.”
Lucas Lopes em entrevista ao TopCycling.
Apesar do ataque valente, Torres viu escapar a vitória final na Volta a França do Futuro para o primeiro britânico campeão da prova. Joe Blackmore, colega de Daniel Lima na Israel-Premier Tech, será em 2025 um de 12 corredores sub-20 no WorldTour juntando-se a:
- Paul Seixas, Oscar Chamberlain e Léo Bisiaux (Decathlon-Ag2r)
- Matthew Brennan e Jorgen Nordhagen (Visma | Lease a Bike)
- Peter Oxenberg, Theodor Storm e AJ August (Ineos Grenadiers)
- Albert Withen Philipsen (Lidl-Trek)
- Zak Erzen (Bahrain Victorious)
- Markel Beloki (EF Education-EasyPost)
Vídeo | TopCycling com Afonso Eulálio no estágio da Bahrain

“Quero chegar ao WorldTour”
Blackmore evoluiu de 12.º em 2023 para o triunfo na maior corrida sub-23. É a evolução natural de atletas sobredotados.
Um dos aspetos interessantes é a forma como jovens corredores gerem o esforço em subidas de uma hora ou mais. Nestes desafios que levam o corpo ao extremo a mente entra em ação.
“Sabia o que tinha sofrido ao longo da temporada para estar ali àquele nível e quando vais apanhando atletas que iam à frente, atletas de WorldTour, ir ao mesmo nível é motivador.”
Para Lucas Lopes, que este ano assinou o Diário de um sub-23 no TopCycling, a primeira experiência na Volta a França do Futuro foi decisiva. Em 2023 teve um ano marcado por problemas físicos e não chegou na forma ideal, no entanto, foi em crescendo e acabou 45.º.
O que mudou em 2024 foi a constância, a saúde de ferro e uma boa base obtida com o trabalho de pré-época. Estes pormenores aliados a muitos dias de competição e três semanas em Serra Nevada dormindo e treinando em altitude deram resultado.
“O objetivo era fazer uma boa Volta à França do Futuro e acabei por andar bem o ano todo. Cheguei sem pressão, confiante no trabalho feito e o 12.º lugar foi um excelente resultado para mim e para Portugal. Sinto-me feliz e motivado para fazer ainda melhor no próximo ano e isso passa por fazer top 10. Há margem para melhorar: vou passar a ter mais dias de competição, correr corridas mais duras, com profissionais e posso tentar ajustar alguns treinos. Quero chegar ao WorldTour, é o sonho de qualquer ciclista competir no patamar mais alto.”