Thibau Nys contou ao TopCycling sobre o dia em que quase bateu Mathieu van der Poel e quais os objetivos na estrada com a Lidl-Trek.
Não é uma pessoa paciente, mas podemos achacar essa impetuosidade aos 21 anos, ao talento – foi campeão mundial em juniores e em sub-23 no ciclocrosse – ou por ser filho de uma lenda.
Thibau Nys é filho de Sven Nys e na Bélgica o pai é o “O Canibal de Baal”, rei do ciclismo da lama e dos circuitos florestais. É um gosto adquirido. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Claro que para fidelizar os fãs ajuda o Eurosport ter começado a transmitir grande parte dos eventos da Taça do Mundo e do Superprestige.
A geração posterior aos dois “monstros” do crosse tem uns grandes sapatos para calçar, mas havendo um Nys a expetativa é enorme. A fazer a primeira época completa com os elites, Thibau venceu em Beringen (Exact Cross), em Waterloo (Taça de Mundo) e o Koppenbergcross (Troféu X2O).
Seguiu-se um mês sem qualquer top 5. Foi a altura certa de fazer uma pausa antes de voltar à carga no Kerstperiode, que arrancou a 22 de dezembro – no Exact Cross de Mol – e termina a 1 de janeiro – no GP Sven Nys em Baal. São oito provas em 11 dias onde só se compete e recupera, não há tempo para treinar.
“Nas primeiras cinco ou seis semanas da época de ciclocrosse atinges um nível que te permite ganhar corridas e quando baixas o nível não ficas contente. Claro que por isso é que estou a estagiar, para recuperar esse nível, mas queres ganhar e que as vitórias cheguem o mais depressa possível.”
Vamos vê-lo na Taça do Mundo – Antuérpia, Gavere e Diegem – e em Baal, no circuito desenhado pelo pai. Em janeiro e fevereiro há dois grandes objetivos: Nacionais e Mundial de Tabor.
“Quero fechar a época de ciclocrosse com nota alta tal como comecei. Descansar bem e ser melhor na estrada do que fui na época passada. Ser mais consistente, constante e aproveitar as oportunidades. Houve algumas em 2023 que podia ter aproveitado e não quero deixar passar as oportunidades.”
Preparar o Giro de Itália
A época de estrada só arranca para o fenómeno belga na Volta à Romandia, rumo ao Giro de Itália onde o belga se estreia em grandes Voltas e onde vai medir forças contra Wout Van Aert ou Jonathan Milan.
Nessa altura trocará as cores da Baloise Trek Lions pelas da Lidl-Trek, a mesma estrutura que lhe permite conciliar ciclocrosse e estrada.
“Paro duas semanas para descansar. Há muito que não tenho duas semanas de descanso. Depois o plano é voltar a treinar para recomeçar na Romandia, é o equilíbrio perfeito entre as épocas de ciclocrosse e estrada. Estou grato pela oportunidade que a equipa me deu nas duas vertentes, deixam-me definir o programa de corridas e ir crescendo. É a equipa onde pertenço. Vou tentar subir o nível em 2024.”
O impaciente Thibau Nys revela-se um corredor prudente. Tem muito a ver com a boa ponta final que o caracteriza, como na estreia a vencer como profissional na Volta à Noruega, onde foi lançado por Jasper Stuyven e acelerou de tal forma que deixou os rivais cortados.
Por agora descarta ir à Flandres ou a Roubaix, embora esse encontro seja uma questão de tempo.
“Como corredor sou bastante paciente, talvez porque tenho um bom sprint e posso confiar no meu sprint. Não preciso de chegar sozinho ou num grupo reduzido, mas gosto de uma corrida dura. Quero-me conhecer melhor em provas como Volta à Romandia, preparar o Giro de Itália. Vai-me ajudar quando em um ou dois anos fizer as grandes clássicas do pavê. É demasiado cedo.”
“Eles são excecionais, é do outro mundo o que têm feito.“
Além das comparações com o pai, Thibau Nys vive numa era marcada por virtuosos que começaram no ciclocrosse e fizeram uma transição espetacular para a estrada.
É inevitável perguntar-lhe por Van der Poel e Van Aert que optaram por começar mais tarde a carreira na estrada.
“Eles são excecionais, é do outro mundo o que têm feito. É o mesmo caminho que quero seguir porque tenho muitos objetivos a atingir no ciclocrosse, mas também quero ganhar corridas importantes na estrada. Vou tentar manter o equilíbrio como eles fazem. No ciclocrosse eles já eram bons na minha idade, na estrada nem tanto, mas depois tornaram-se incrivelmente fortes. Por agora é o caminho mais equilibrado.”
As vitórias ajudam a conhecer um corredor, mas é das derrotas que se tiram as grandes lições. Das corridas onde pudemos observar o jovem da Lidl-Trek em 2023 houve uma que ficou na retina: a Volta à Bélgica.
Van der Poel esteve em modo teste na véspera do Tour de France e na etapa rainha arrancou a 36 km do final. Foi um dia duro em circuito na localidade de Durbuy que tem um muro famoso. Thibau Nys fez 2º, à vontade, superando o vencedor da Figueira Champions Classic, Casper Pedersen.
Sem nunca se render a Van der Poel
Na etapa final sprint ganho por Fabio Jakobsen em Bruxelas perante Jasper Philipsen e novamente com Nys no pódio. Duas “derrotas” que deixam a certeza de que o miúdo tem um motor tremendo, sobretudo pelo que mostrou na etapa típica das Ardenas.
“Ele [Van der Poel] foi o mais forte nesse dia e durante a Volta à Bélgica, mas tive a sensação de que lhe podia ter ganho. Hoje ainda sinto que lhe podia ter ganho, talvez com diferentes opções táticas. Também senti que ele não estava no nível dos Mundiais. É o tipo de percurso de que gosto, com subidas como gosto e quando estou no meu melhor talvez possa ganhar a corredores como o Mathieu.”
Sem nunca se render a Van der Poel, com facilidade para despachar os puncheurs e com um sentido de posicionamento incrível para ser tão jovem. Thibau Nys tem tudo para ser a pedra no sapato dos virtuosos.