Giro – Não é a essência de uma Volta a resistência?

Giro – Não é a essência de uma Volta a resistência?

Estaremos ultrassensíveis? Refletimos sobre os abandonos recentes e recordamos Lauro Bordin: herói esquecido da mais longa etapa do Giro de Itália.

“Ti amo” é um espaço de amor à cultura italiana e ao Giro. É também uma música de Umberto Tozzi. Proponho 21 histórias para 21 etapas.

Dos 176 corredores que iniciaram o Giro de Itália, 34 tinham abandonado à partida para a 11ª etapa (nem todos por COVID-19). Só UAE, Jumbo, Astana, Movistar e Bahrain mantinha os blocos completos.

Na edição passada foram 149 os corredores que acabaram o Giro; os números atuais estão alinhados com o pico da pandemia já que em 2020 finalizaram 133 atletas.

Olhemos para as últimas 21 edições. Em 12 delas os ciclistas que não terminaram superaram a barreira dos 40 atletas. No Giro de 2003 registaram-se 73 abandonos: nesse ano participaram 19 equipas/170 ciclistas, isto é, 43 por cento do pelotão (face aos 19 por cento de abandonos do atual Giro).

Será que precisamos de reajustar a sensibilidade face ao que tem sucedido? O efeito maglia rosa ajuda a explicar o que eu considero certa histeria à volta dos abandonos por ter sido apenas a terceira vez na história do Giro que um líder deixou a corrida, mas sendo analítico não é uma edição anormal até agora.

Vitigno Timorasso é um tipo de uva autóctona do Piemonte conhecida pela produção de vinhos brancos.
Créditos: RCS

13 horas em fuga e 25 minutos de vantagem

A 11ª etapa é a mais longa deste Giro: 219km entre Camaiore (ainda ontem falamos do hub junto ao mar da Ligúria) e Tortona – uma de seis etapas desta edição que supera os 200km.

Continua a liderar Geraint Thomas, o sexto ciclista mais velho a comandar o Giro aos 36 anos (faz 37 no dia da 18ª etapa). O recordista é Andrea Noè que com 38 anos vestiu a maglia rosa em 2007 pela Liquigas.

É curioso resgatar neste dia a intra-história da mais longa etapa das 106 edições do Giro. Em 1914 Constante Girardengo tinha 20 anos e já era campeão italiano. Ia a caminho de se tornar a grande figura do ciclismo italiano no pós-I Guerra Mundial à base de vitórias – foi o monstro sagrado da Milão-Sanremo até que Eddy Merckx conseguiu a sétima vitória e ultrapassou o piemontês.

É provável que tenham lido que Girardengo ganhou a mais longa etapa da história do Giro: 430km entre Lucca e Roma! Menos conhecido é o facto de que nessa etapa Lauro Bordin esteve escapado a solo durante 350km nesse dia e acabou de mãos a abanar.

Bordin foi um sprinter nascido em Crespino sul Po (Véneto) que fez uma longa carreira com três etapas ganhas no Giro. Podiam ter sido quatro, mas depois de 13 horas em fuga e 25 minutos de vantagem foi neutralizado a 65km de Roma. Acabou a etapa em 10º; nesse ano venceu o Giro di Lombardia pela Bianchi – a maior vitória de Lauro Bordin.

Pelotão à partida em Camaiore para a etapa mais longa do Giro com 219km.
Créditos: La Presse

Hoje manda o imediatismo e o resultadismo

Até 1920-1930 o ciclismo tinha outra essência. Mais do que desporto era quase um teste de sobrevivência para os participantes. Dessa era em diante a quilometragem foi decrescendo e hoje em dia vemos que a tendência se mantém.

Porquê? O ciclismo atual não procura o herói que resiste. Os corredores não têm que partir de madrugada para provar a valentia e lerem os seus feitos nos jornais do dia seguinte. Hoje manda o imediatismo e o resultadismo. A duração das etapas vai-se moldando aos gostos do público.

Não é a essência de uma grande Volta a resistência? O significado desse conceito varie de acordo com o contexto em que é aplicado. O campeão deste ano terá o mesmo mérito de outros vencedores já que doenças, quedas, mau tempo e outras circunstâncias imprevistas fazem parte da aventura. Sempre foi assim e sempre será.

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