Vuelta a Espanha | Etapa 20 | Vingegaard bate Almeida à campeão
Domingo é dia de consagração para Jonas Vingegaard, mas no pódio da Vuelta estará um João Almeida que sai de Espanha numa dimensão superior.
Domingo, em Madrid, capital de Espanha, quase 2000 polícias estarão nas ruas para garantir que a 80ª edição da Vuelta pode consagrar Jonas Vingegaard, João Almeida e Tom Pidcock como os três corredores mais fortes da corrida.
Será o 41º dia em o dinamarquês lidera uma grande Volta (27 no Tour de France e 14 na Vuelta), ele que nas últimas sete participações em provas de três semanas ganhou em três ocasiões e nas restantes quatro foi 2º classificado.
Vingegaard é uma máquina, ocasionalmente travada pelo maior ciclista desta geração: Tadej Pogacar. Foi contra este nível de corredor que se bateu João Almeida.

Foto: Unipublic / Cxcling / Antonio Baixauli
O ciclismo não é preto e branco
Foi uma batalha na qual não houve um claro vencedor até 1,3 km do topo da Bola del Mundo, aos 2262 m de altitude. Com Madrid no horizonte, Vingegaard acelerou nas rampas com 20 % de inclinação da estrada de cimento que leva aos emissores da Radiotelevisión Española.
Junto às antenas instaladas em 1959, três anos após o sinal de televisão ser uma realidade em Espanha, o dinamarquês mostrou que o ciclismo moderno não é preto e branco. O líder da Visma foi derrotado no Angliru, no contrarrelógio de Valladolid e parecia estar a pagar a fatura do cansaço acumulado durante o Tour.
Quando se esperava o apagão, fez-se luz e Vingegaard ganhou à campeão na Serra de Guadarrama. João Almeida esteve perto de se tornar o primeiro português a ganhar uma grande Volta, mas faltou-lhe uma equipa que acreditasse na aventura desde o primeiro dia.

Foto: Unipublic/Naike Ereñozaga
Equipa não fez da classificação geral a máxima prioridade
Talvez tenham sido os dias de paragem após a fratura das costelas, os três abandonos em nove participações em provas de três semanas, o facto de apenas ter feito pódio no Giro de 2023 ou ter como colega um super Pogacar que faz da vitória uma rotina. Talvez tenha sido tudo isto em conjunto; o certo é que a equipa não fez da classificação geral a máxima prioridade.
A UAE Emirates é um rolo compressor quando se trata de procurar vitórias parciais, mas sairá de 2025 derrotada pela Visma no Giro de Itália e na Vuelta a Espanha, duas provas na qual não foi liderada pelo “Canibal” esloveno.
João Almeida não tem o espírito matador de Pogacar, mas provou ser uma versão mais sólida e madura de si mesmo. Construiu uma época espetacular, vencendo as Voltas ao País Basco, à Romandia e à Suíça. Só a queda lhe tirou a possibilidade de subir ao pódio no Tour de France, por isso era importante provar na Vuelta que também pode ganhar em três semanas.
Se algo mostrou este mano a mano com Vingegaard é que Almeida tem o que é preciso, mas vai precisar de um bloco que o proteja… dos rivais e dele próprio. Perder 0:04 segundos no sprint intermédio da 19ª etapa e mais 0:24 por não agarrar a roda do principal rival em Valdezcaray são exemplos que devem levar o corredor de 27 anos a fazer autocrítica.

Foto: Unipublic / Cxcling / Antonio Baixauli
Ganhar uma grande? Claro que sim
Não obstante, o rapaz do Oeste – como o grande Joaquim Agostinho – tem tudo para ultrapassar os resultados da lenda do ciclismo nacional. Já em carisma e peso na sociedade, ainda está por nascer alguém que lhe chegue aos calcanhares.
O ponto de viragem chegará quando fizer pódio no Tour e podem escrever que João Almeida, natural de A dos Francos, favorito dos fãs por personificar o sofrimento que associamos ao desporto das bicicletas, um dia fará pódio no Tour e passará a ser a referência de Portugal no mundo.
Ganhar uma grande? Claro que sim, mas precisará fazer alguns reajustes. Primeiro, reunir um bloco leal desde o primeiro dia em vez de um conjunto de colegas virtuosos – porque Jay Vine, Marc Soler e Juan Ayuso são do melhor que há no pelotão – incapaz de por de lado as ambições individuais. Segundo, Joxean Matxin e Mauro Gianetti devem ver nele um campeão pelo qual vale a pena sacrificar os números absurdos com os quais a UAE Emirates pretende ficar na história.
O projeto dos Emirados Árabes Unidos começou por querer bater o recorde de vitórias por temporada – as 85 da HTC-Columbia em 2009 – e a dada altura pôs a fasquia nos 100 triunfos. Terá valido a pena perder a oportunidade de ganhar uma Vuelta que fecham com o rei da montanha (Vine), sete etapas e triunfo na classificação por equipas?
Vingegaard ganhou e ganhou bem, perante um Almeida que fez de tudo para também ganhar. Pidcock fechou o pódio perante um Hindley que vendeu cara a derrota. Para o ano há mais Vuelta.

Foto: Unipublic / Cxcling Creative Agency