Volta ao Algarve – O que correu mal em Lagos?

Volta ao Algarve – O que correu mal em Lagos?

TopCycling analisou a chegada caótica a Lagos no arranque da Volta ao Algarve. Responsáveis, factos e consequências para a corrida.

A chegada a Lagos, na abertura da 51.ª Volta ao Algarve, foi um descalabro. Só o futuro dirá como afetará a corrida, mas olhando para as provas concorrentes é provável que haja uma fatura a pagar.

A Volta à Andaluzia, por exemplo, teve em 2024 uma edição marcada por problemas organizativos que obrigaram a cancelar quatro etapas. Este ano tem seis WorldTeams enquanto no Algarve estão 13.

Há dias, na Étoile de Bésseges, 10 equipas abandonaram a prova a meio por problemas de segurança reincidentes.

A Algarvia foi considerada pela UCI a melhor prova ProSeries nos dois últimos anos. No entanto, ver um pelotão circular pelo lado errado da Avenida dos Descobrimentos requer profunda reflexão por parte da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), organizadora da corrida.

Escusado será dizer que, além do óbvio prejuízo desportivo para os ciclistas, podia ter ocorrido um acidente com consequências muito graves para atletas e público.

Ler mais | Barracada em Lagos

Caótica chegada a Lagos

O TopCycling analisou o sucedido e contou com a ajuda de vários especialistas para contextualizar a caótica chegada a Lagos.

Isabel Fernandes, ex-comissária da UCI e desde 2018 formadora do destacamento eventual permanente da GNR, enumera os fatores que levaram à situação que presenciamos:

– “As rotundas finais não estavam fechadas com grades para obrigar os ciclistas a circular logo desde aquele ponto em contramão para poderem entrar diretos na meta também em contramão;

– A seta colocada pela organização indicava em frente em lugar de indicar à esquerda;

– A moto da televisão estava no ângulo de visão dos ciclistas quando entrou no desvio dos veículos; 

– O responsável pelo desvio dos carros não reagiu a tempo de indicar aos ciclistas que deveriam seguir pela esquerda; 

– A sinalização errada por parte do bandeira amarela – deixei este aspeto para o final porque me parece que culpar apenas uma pessoa quando existiram todas as falhas referidas anteriormente não é justo nem deveria ser feito.”

Ler mais | Prova de ciclismo, pare por favor

Créditos: João Fonseca

Crise na estrada e crise na comunicação

Organizar uma corrida de ciclismo é difícil, custoso e requer uma articulação perfeita de vários intervenientes.

Dito isto, total empatia da minha parte em relação a quem está na estrada

No comunicado da Volta ao Algarve, o diretor da prova, Sérgio Sousa, justificou a situação colocando a maior parte da responsabilidade no pelotão.

“Toda a informação técnica era clara no sentido de que os corredores deveriam seguir pela esquerda na última rotunda (…) Foi uma decisão errada do pelotão mas é evidente que não teremos feito o suficiente para evitar este desfecho.”

Paulo Martins, antigo sprinter e comentador do Eurosport, explica o que sente um corredor numa aproximação à meta rápida e técnica como a de Lagos.

“No momento em que o primeiro ciclista vira para a direita vai tudo atrás dele e acaba por induzir tudo em erro. Metendo-me no lugar de um ciclista que estivesse nos 40/50 primeiros do grupo, mesmo sabendo que era para a direita, quase de certeza iria cair no mesmo erro porque podia ter havido alteração de percurso à última hora, além de que a 60 km/h não deves repentinamente mudar de trajetória, sujeito a causar uma queda grave no pelotão.”

Paulo Martins ao TopCycling.

Entrevista | João Almeida quer dar vitória aos portugueses no Algarve

Créditos: Podium Events/Matias Novo

Gestão da crise é crucial nestas situações

Segundo Luís Beltrão, editor do Topcycling e comentador de ciclismo no Eurosport, erros acontecem, mas a gestão da crise é crucial nestas situações.

Quantas vezes já assistimos a enganos de ciclistas a meio das etapas? Nem uma nem duas, foram mais, estas coisas acontecem. Na minha opinião, pior do que o erro é a gestão de crise, com os media de todo o mundo no local, com todas as equipas, etc, imagino que não seja fácil de gerir mas tem que se assumir o erro de sinalização (que deveria ter sido mais explícita), assumir pela organização como um todo, não imputar culpa aos ciclistas ou a uma pessoa em particular. Pode o trabalho de vários anos e a boa reputação da Volta ao Algarve cair por terra em três segundos? Creio que não, mas o tempo o dirá. “

Luís Beltrão, editor Topcycling.
A GNR dispõe de um destacamento eventual permanente para as provas de ciclismo.
Créditos: João Fonseca

Falta à PSP formação específica

Cândido Barbosa, presidente da FPC, reagiu meia hora após a etapa assumindo parte da culpa da organização. Falou em falhas da organização e individualizou os erros: o bandeira amarela não atuou a tempo e a PSP não fez o seu papel.

Isabel Fernandes reconhece que falta à PSP formação específica para este tipo de eventos, mas que desta vez não foi a força policial que falhou.

“Não se pode delegar uma parte tão importante como uma aproximação à meta e desvio dos veículos a alguém externo à caravana, a função do policiamento estático era o de ter o percurso limpo para a caravana, o que aconteceu.”

Isabel Fernandes ao TopCycling.

As críticas do presidente da FPC podem vir a ser pagas pelos organizadores na hora de contratarem o policiamento para futuras provas de ciclismo. Maiores exigências equivalem a maiores custos.

Crise na estrada e crise na comunicação

Afinal, de quem foi a culpa? Já agora, serve de algo falar disso em público? O pós-etapa vivido em Lagos foi evitável.

Na minha opinião, houve crise na estrada e crise na comunicação.

Apontar o dedo aos elementos mais vulneráveis na caravana não serve de muito. No pós-etapa notou-se a falta que faz um assessor de comunicação, que devia ter ajudado o diretor da Volta e o presidente da FPC a conter os danos.

O TopCycling averiguou outro aspeto relevante. Se por um lado a equipa de motards e bandeirinhas é a mesma de sempre, por outro a equipa de sinalização e de segurança não é a mesma de edições passadas.

A Volta ao Algarve precisa dos algarvios, de locais com conhecimento específico, sobretudo em aproximações técnicas como a de Lagos.

No meio deste incidente desagradável quem pagou foi Filippo Ganna, impedido de somar uma vitória e bonificações, ele que perdeu a Volta ao Algarve em 2023 por dois segundos!

Ainda bem que as equipas tomaram a situação com humor. Houve chuva de memes nas redes sociais num daqueles dias em que mais vale rir para não chorar.

Noticias relacionadas

Cape Epic 2025 – Tiago Ferreira e David Valero sobem ao TOP 10 na Etapa 1

Cape Epic 2025 – Tiago Ferreira e David Valero sobem ao TOP 10 na Etapa 1

Guia das equipas portuguesas de ciclismo – Época 2025

Guia das equipas portuguesas de ciclismo – Época 2025

Tirreno-Adriático – Juan Ayuso sucede a Contador

Tirreno-Adriático – Juan Ayuso sucede a Contador

Portugal fecha Taça das Nações de pista com sensações positivas

Portugal fecha Taça das Nações de pista com sensações positivas

Utilizamos cookies para garantir a funcionalidade e melhor experiência de navegação no nosso site. Saber mais