Forma incrível e gesto ao colega Juan Ayuso não passaram despercebidos. João Almeida foi o MVP do bloco de Tadej Pogacar no Col du Galibier.
A alta montanha chegou ao Tour de France logo ao quarto dia e a intra-história foi a fricção entre João Almeida e Juan Ayuso.
Tanta dureza tão cedo é inédita na prova. A partida em Itália e entrada em França pelos Alpes justificam a incursão nas montanhas.
A expetativa para ver o comportamento do bloco da UAE-Emirates era grande. Não é todos os dias que vemos tantos líderes convertidos em gregários.
Curiosamente não foi o general Tadej Pogacar a por os soldados em formação no Col du Galibier.

Créditos: A.S.O. Billy Ceusters
Muito João Almeida e pouco Juan Ayuso
Quando chegou a altura de partir o grupo viu-se muito João Almeida e pouco Juan Ayuso. O português assumiu a cabeça do grupo dos favoritos e Juan Ayuso ficou na parte de trás aparentemente em dificuldades.
Quando Pogacar já só tinha a dupla ibérica – Adam Yates rebentou antes de entrar ao serviço – viveu-se um momento interessante.
João Almeida levantou o braço como que dizendo “Juan anda puxar”. Juan Ayuso demorou a chegar à cabeça do grupo, mas cumpriu a missão.
Foi uma colaboração arrancada a ferros. Ayuso parecia ir no limite, que não podia dar mais uma pedalada, quando afinal estava longe de entrar na reserva.

Créditos: A.S.O. Billy Ceusters
João Almeida esteve oito minutos a puxar
Os habituais olhares atentos das redes sociais traduziram em tempo a distruibuição do trabalho do bloco da UAE-Emirates no Col du Galibier.
No TopCycling também fizemos essa análise. João Almeida esteve não oito, mas quase nove minutos a puxar no primeiro teste montanhoso do Tour de France! Juan Ayuso fez apenas quatro ao vento.
O espanhol soube gerir para forçar na descida e sprintar para bonificar quatro segundos na meta. João Almeida coroou com os favoritos, mas cedeu 14 segundos na descida. Subiu a 8º na geral individual, enquanto Ayuso é 3º.

Pogacar teve que se posicionar
O gesto de João Almeida teve repercussão lá fora. Em Espanha, o Diário As cita Ayuso que diz ter evitado “um sobre-esforço” para não se “queimar” e não poder ser mais útil posteriormente.
A comentar a etapa para o canal neerlandês NOS, Tom Dumoulin explicou que “Ayuso esteve sempre atrás e pareceu em dificuldades. De vez em quando até esteve no elástico. Almeida teve que o chamar à frente para ajudar. Ele ajudou, mas depois faz 3º na etapa. Então pergunto-me ‘Ayuso, deste tudo pelo teu líder?’ Claramente ele nao ficou vazio. Isso irritou o Almeida, com razão“.
Também Pogacar teve que se posicionar quando questionado pela imprensa que cobre o evento.
“Quando vais a full gas, até para dizer a alguém que o amas tens que gritar. Há muita gente à volta e são normais os gestos para nos entendermos, mas não creio que o João esteja incomodado por nada. Estou contente pela maneira como corremos.”
Tadej Pogacar

Créditos: A.S.O. Charly Lopez
Ayuso tem fibra de campeão
O Tour de France ainda agora começou, mas já deu para perceber que Juan Ayuso tem fibra de campeão e não se vai contentar com ser gregário.
João Almeida joga melhor em equipa, mas deveria aproveitar a forma suprema que trouxe da Volta à Suíça e aspirar a mais que o top 5 do Tour de France? Esse foi o objetivo definido pelo próprio em entrevista ao TopCycling.
Joxean Matxin e Mauro Gianetti assistem de camarote e sabem ter em mãos um bom “problema”. Evitar fraturar o grupo ao estilo Jumbo-Visma na Vuelta a Espanha do ano passado é a tarefa dos diretores.
E Tadej Pogacar, terá uma palavra a dizer na forma como se vão gerir os egos? O “Caníbal” do ciclismo moderno terá que fazer uma gestão cuidadosa dos egos dentro do balneário.