João Almeida – “Gostava que ganhasse o Tadej Pogacar e de fechar top cinco”
Estreia no Tour de France ao lado de Tadej Pogacar motiva João Almeida. Preparação ultimada na Volta à Suíça onde quer discutir a geral.
Pela primeira vez desde que é profissional João Almeida viu o Giro de Itália do sofá. Uma sensação estranha para quem em 2023 subiu ao pódio.
O objetivo deste ano é o Tour de France. Para preparar a estreia trocou o frio de abril pelo calor de maio e passou um mês e um dia em altitude entre Andorra e Serra Nevada.
Foi à distância que viu Tadej Pogacar massacrar os rivais e a UAE-Emirates controlar as três semanas de prova.
“Já era expectável. Deu para ver a diferença, não houve concorrência para o Tadej nem um dia em que tivesse tido dificuldades ou chegasse atrás dos outros.”
João Almeida ao TopCycling.
Tadej Pogacar esteve em modo gestão
O Giro é uma corrida com menos stress do que o Tour e o percurso deste ano não foi o mais exigente.
Particularmente a segunda semana permitiu respirar um pouco.
João Almeida tem a perspetiva de quem pedala. Conhece a prova como a palma da mão e não tem dúvidas de que Tadej Pogacar esteve em modo gestão.
“Se fosse preciso ir a mais, a sensação ao ver de fora é de que podia ir a mais. Ele é o mais forte, os outros vão acumulando fadiga; o facto de estar tão forte leva a equipa a meter um passo forte, mas não vai no red line. É quase como se fosse a treinar, eu diria. Não me interpretem mal, claro que ele ataca e doem-lhe as pernas, vai a fundo, mas uma coisa é ir a fundo e outra é ir em quebra. Os outros é que vão em quebra e isso é que passa fatura às pernas. Ele ataca e vai no passo dele, vão a doer-lhe a pernas, mas no passo dele vai confortável. Se calhar no Tour, como já vimos no passado contra o Vingegaard, vai no passo que dá para ir.”
Juntar o Tour de France ao Giro de Itália
Tadej Pogacar tem a missão de juntar o Tour de France ao Giro de Itália e completar uma dobradinha que há 26 anos ninguém faz.
Ciclistas ganhadores como João Almeida, Juan Ayuso e até o 3º classificado do passado Tour, Adam Yates, serão gregários de luxo.
“Vai começar o Tour numa forma muito boa, com frescura, apesar de ter feito o Giro. A dobradinha está bem possível. Gostava que ganhasse o Tadej e gostava de fechar top cinco. Ficava feliz. Sei que vou para tentar ajudá-lo a ganhar. Todos temos as nossas oportunidades, mas o objetivo é claro. Mentalmente vou feliz, com o objetivo cumprido de ir ao Tour. É uma honra correr ao lado dele e fazer parte de algo histórico.”
“O Tour começa na 14ª etapa“
No Dauphiné a concorrência mostrou as cartas. Primoz Roglic ganhou duas etapas e a geral; Remco Evenepoel ganhou o contrarrelógio.
Ambos estão recuperados da queda sofrida na Volta ao País Basco. A dúvida reside no estado de forma do bicampeão Jonas Vingegaard.
“Roglic pouco foi afetado pela queda, não partiu nada. Talvez uma pequena paragem, mas antes do Tour tinha sempre que parar. O Remco já fica um bocadinho mais limitado e o Vingegaard não vai ser o mesmo dos últimos anos. O Tour começa na 14ª etapa, até lá não há etapas que possam fazer grandes diferenças. Temos um início duro, mas depois são etapas acessíveis. No final da segunda semana começa a dureza a sério. Dá para o Vingegaard acabar forte.”
Como gerir tanto talento e egos?
Seis etapas, vitória no Giro com a maior margem entre 1º e 2º desde 1965 e a edição mais rápida de sempre. A estreia de Tadej Pogacar em Itália deixou números fortes.
O Caníbal de Komenda está numa missão. Ao lado terá um português que só quer desfrutar da estreia no Tour e de correr com um corredor especial.
O bloco do Tour é de luxo, mas como gerir tanto talento e egos? Terão os corredores da UAE-Emirates a noção do teórico poder de fogo dos oito convocados?
“Temos essa noção, vamos lá ver como vai correr. Há espaço para todos. Reconheço que o Tadej é um atleta mais forte, por isso gosto de correr com ele e ajudá-lo. Também tenho as minhas ambições e gosto de ir a algumas corridas para disputar como tenho tentado fazer. Nem sempre dá, mas o importante é o foco no trabalho, treinar duro e assim que tiver a forma física os resultados aparecem sempre.”
Subir o nível após um ano discreto
João Almeida preparou a Volta à Suíça com afinco. É o prelúdio do Tour e há que subir o nível após um ano discreto – 11º no Paris-Nice e 9º na Volta à Catalunha.
Como sonhar é grátis porque não pensar em igualar a estreia de Joaquim Agostinho que no Tour de 1969 foi 8º e ganhou etapas em Mulhouse e Revel?
O primeiro passo para chegar forte é passar o teste da Volta à Suíça.
“O importante é pensar positivo e focar no trabalho que é isso que vai trazer a boa forma e os resultados. Encaro a Volta à Suíça com confiança na minha forma física e tenho tudo para voltar ao meu nível e discutir a corrida. Vi o último contrarrelógio, sei que a última etapa de montanha tem a mesma subida do contrarrelógio portanto farei logo o reconhecimento. Está ao nível de um Dauphiné, a corrida vai ser dura e vai fazer doer as pernas.”
Apoio incrível dos emigrantes
A comunidade portuguesa na Suíça está chamada a fazer por João Almeida o que já fez por Rui Costa.
Com um apoio incrível dos emigrantes radicados no país alpino o poveiro – que regressa de lesão – venceu três vezes a geral.
“Faz a diferença. Lembro-me do Giro passar na Suíça e dá logo outra motivação. Mesmo em juniores fiz o Tour du Pays de Vaud com a seleção e correu bem. Não sei se é do chocolate, mas tem corrido bem. É gratificante ver as pessoas a apoiar e quando são momentos de muito sofrimento dá motivação extra. Há ali uma troca de energia.”
Como será o resto da época? Até sair a convocatória para os Jogos Olímpicos nada está definido.
João Almeida gostava de fazer a Vuelta a Espanha, mas se for a Paris 2024 seguramente não poderá estar à partida em Lisboa. A alternativa seria apontar à Lombardia e aos Mundiais.