NOVO Shimano XTR M9200 Di2 – Testámos e explicamos todos os detalhes

Em fevereiro estive presente na apresentação do novo grupo Shimano XTR M9200 Di2 e tive oportunidade de o testar no terreno, em contexto real de BTT.
Neste artigo deixo-vos o essencial sobre o que muda nesta nova geração do XTR e também o que senti na utilização durante dois dias, pelos trilhos na zona de Calpe, Alicante.
VÍDEO: Testes no terreno e todos os detalhes do novo Shimano XTR
Um pouco de história
O primeiro grupo da Shimano totalmente dedicado ao BTT foi o Deore XT, lançado em 1983. Desde então, a marca foi, quase sempre, uma referência no setor, até à chegada das mudanças eletrónicas (ou sem cabo), campo onde curiosamente a Shimano foi precursora.

Apesar de ter tido um grupo eletrónico para BTT em 2014, o mesmo não teve continuidade noutras versões e a Shimano manteve o grupo mecânico durante vários anos, enquanto a marca concorrente foi lançando várias versões de grupos de mudanças eletrónicas.
Só em 2022 a Shimano voltou a lançar um grupo Di2 para BTT, mas este era somente dedicado às bicicletas elétricas, trazendo também a inovação das mudanças automáticas para esse tipo de bicicletas.
Ler mais – Teste ao Shimano XT Di2 com Auto Shift e Free Shift
Porquê tanto tempo?
Creio que esta é a pergunta que certamente todos já fizeram.
Tendo em conta a evolução histórica dos últimos anos, essa foi precisamente a primeira pergunta que coloquei a Tim Gerrits (Gestor de produto da Shimano) no workshop de produto.

Por que razão a Shimano demorou tanto tempo a lançar um grupo sem fios dedicado ao BTT?
“Porque o primeiro XTR Di2 foi desenvolvido com base no Di2 de estrada, utilizando uma bateria separada. Entretanto, começaram a surgir mudanças na indústria, como bicicletas elétricas, duplo prato, um prato, diferentes plataformas, quadros e motores.
Foi estratégico para a Shimano aguardar até que as tendências se estabelecessem e, só depois, desenvolver um produto específico para o mountain bike. Queríamos uma solução robusta, intuitiva e consistente para todas as disciplinas: XC, XCM, Enduro, Downhill e E-MTB.”
Tim Gerrits, Shimano.

Segundo a Shimano, foi estratégico esperar e perceber para onde caminhava a indústria do BTT, só depois, com o cenário mais estabilizado, sentiram que era o momento certo para desenvolver um grupo que respondesse às exigências do BTT moderno.


Transmissão sem fios e dois desviadores diferentes
A primeira novidade é que não foi apresentado um novo Shimano XTR, mas sim, dois novos Shimano XTR. Existe uma versão só para E-Bikes e uma versão para as restantes bicicletas convencionais.
Desenvolveram um sistema sem fios que se diferencia da concorrência porque o protocolo wireless de comunicação entre shifter e desviador é próprio da Shimano, o que significa que o sistema consome menos energia e evita interferências. Além disso, no futuro, esta tecnologia permitirá misturar gamas entre shifters e desviadores Shimano sem necessidade de reconfiguração.
O desviador traseiro integra a bateria recarregável diretamente no corpo (no caso do RD-M9250, para bicicletas convencionais).

Segundo a Shimano, o objetivo foi garantir fiabilidade e resposta rápida — e, na prática, foi isso que senti naqueles dois dias. As mudanças trocam rapidamente, mesmo sob carga, o sistema é bem selado, não está exposto aos elementos (águas, lamas, poeiras) e está protegido para aguentar os impactos típicos do BTT mais agressivo.

No tema da proteção contra impactos a Shimano teve uma abordagem diferente da concorrência, que exige adaptação dos quadros para receber desviadores específicos. Para o novo Shimano XTR Di2 a marca japonesa desenvolveu um sistema de “auto-safe”, independentemente do quadro onde está montado.

Entre a tecnologia SHADOW que reduz a área de contacto com obstáculos ( não é novidade ), e uma função de recuperação automática que ajuda o desviador a “voltar ao sítio” depois de uma pancada mais forte, a marca japonesa acredita que o novo Shimano XTR Di2 é eficiente na proteção de impactos.

A mim pessoalmente, causa-me alguma estranheza que a tampa protetora do espaço que alberga a bateria seja em plástico (estará disponível para venda isoladamente), mas o tempo e utilização prolongada dirão se é opção correta.
A versão específica para e-Bikes
Como referi acima, apesar de o destaque natural recair sobre o facto de ser um grupo sem fios da Shimano para BTT, essa não é a maior surpresa. O mais relevante é talvez a decisão da marca em desenvolver dois desviadores traseiros distintos: um para bicicletas tradicionais e outro específico para e-bikes.

Em termos mecânicos, ambos os desviadores funcionam da mesma forma. No entanto, a grande diferença (e inovação) está na versão desenvolvida para bicicletas elétricas, que não utiliza uma bateria própria.
Este desviador aproveita a energia da bateria da e-bike para funcionar, comunicando diretamente com o sistema da bicicleta.

O desviador para e-Bikes (RD-M9260) é mais ligeiro, mais minimalista e liga-se ao cérebro da bicicleta elétrica. Quando a bateria da bicicleta termina (de alimentar o motor), há uma reserva na mesma para que o desviador continue a funcionar por mais algum tempo.
Esta versão também incorpora as funcionalidades AUTO SHIFT e FREE SHIFT, integradas com o sistema elétrico da bicicleta.
Ergonomia continua a ser a bandeira da Shimano
Se há coisa em que a Shimano habituou o utilizador, foi na excelente ergonomia dos seus equipamentos e esse foi outro ponto onde houve evolução.

O novo trigger SW-M9250R — com tecnologia RAPID ES — permite várias formas de personalização e tem um tato muito satisfatório em mudança, não dá aquela sensação de eletrónico, é uma sensação que fica entre o trigger analógico (de cabo) e o eletrónico, algo que gostei e que ajuda bastante quando estamos no trilho.
A posição no guiador é muito ajustável, assim como as funções dos botões. Durante os dois dias de testes, só mexi ligeiramente antes da primeira saída para os trilhos, mas tendo em conta os vários ajustes que permite, os triggers acabam por se adaptar perfeitamente a cada utilizador.

Há vários modos de funcionamento (mudança múltipla, simples ou dupla) e até um terceiro botão programável que pode ser usado para controlar, por exemplo, um ciclocomputador.
Travões: previsíveis, mesmo em descidas longas
Segundo os técnicos da Shimano, na travagem também houve atualizações importantes. As novas manetes BL-M9220 (para enduro/trail) e BL-M9200 (para XC) foram redesenhadas, com o ponto de articulação mais próximo do guiador e uma curva da manete que acompanha o movimento do dedo.

No terreno só utilizei a versão de quatro pistões (ligeiramente mais pesada que a versão de dois pistões, direcionada ao XC), e a travagem é bastante boa, não só pela potência, mas principalmente porque a resposta mantém-se previsível, mesmo após descidas longas e com os travões quentes.

É um sistema que inspira confiança.

Pedaleiros e cassetes: escolhas entre leveza ou resistência
Os novos pedaleiros continuam a usar a já conhecida tecnologia HOLLOWTECH II. Há duas versões: uma leve para XC (FC-M9200) e outra mais robusta para enduro/trail (FC-M9220), que foi a que tive oportunidade de testar.

No prato vais reparar que existem duas zonas tapadas, cujo objectivo é proteger essa zona do prato de possíveis impactos (maior fiabilidade em situações extremas). Na zona onde o prato é furato os cranks suportam os possíveis impactos.

FC-M9200 – Crenque de XC
- Fator Q de 168mm, ideal para XC
- Comprimento do Crenque: 165, 170, 175mm
- Linha de corrente: 55mm
FC-M9220 – Crenque de Trail/Enduro
- Fator Q padrão de 176mm
- Comprimento do Crenque: 160, 165, 170, 175mm
- Linha de corrente: 55mm
Cassetes
No que toca a cassetes a Shimano oferece agora duas opções HYPERGLIDE+: 10-51T e 9-45T. A ideia é dar ao utilizador liberdade para ajustar o grupo ao tipo de utilização — seja competição, maratonas ou trilhos mais técnicos.

De acordo com os responsáveis da Shimano, a utilização do carreto de nove dentes, combinada com as opções de pedaleira disponíveis dará um desempenho semelhante a uma cassete 10-51.
O carreto de nove dentes deve-se ao facto de ganharem espaço entre o braço do desviador e os obstáculos do terreno (segundo eles, são mais 23mm. de altura), o que ajuda a proteger o equipamento nos trilhos.

Rodas em carbono e cubos com manutenção facilitada
As rodas XTR também foram atualizadas, com versões específicas para XC e enduro (tive contacto com as de enduro). Ambas têm aros em carbono, sendo que a versão de enduro (WH-M9220) tem aro mais largo (30 mm internos) e estrutura mais robusta, enquanto a versão XC (WH-M9200) aposta na leveza.

Os cubos (HB-M9210 / FH-M9210), segundo a Shimano, foram redesenhados para melhorar a vedação e facilitar a manutenção.
Confesso-vos que tenho os cubos XTR da anterior geração, e acho-os uma obra prima, pena ninguém dar o valor a este tipo de peças quando as queremos vender usadas.
Opinião e conclusões
A Shimano tinha trabalho árduo no desenvolvimento deste novo Shimano XTR Di2, vários anos de atraso para recuperar em relação à concorrência, tendo que pelo menos igualar o jogo, num mercado competitivo e em constante evolução.
O XTR M9200 Di2 não é algo revolucionário, mas a marca japonesa manteve-se fiel ao que sempre a distinguiu: ergonomia, precisão, detalhes pensados com foco na fiabilidade e personalização.
O facto de haver dois desviadores distintos para e-bikes e bicicletas normais, também me parece bem pensado. Quem tem uma e-Bike e já tem que se preocupar em carregar a bicicleta, já não tem que se preocupar em carregar mais um equipamento, que é o desviador. Sem adaptadores, menos carregadores, menos baterias, menos preocupações.

Tive oportunidade de testar ambas as versões do novo Shimano XTR Di2 no terreno e, embora seja necessário mais tempo para tirar conclusões de longo prazo, principalmente no que respeita às questões de fiabilidade, a primeira impressão é a de um sistema sólido, rápido e adaptado às exigências do BTT moderno.
Na minha opinião igualaram o jogo, agora resta saber por quanto tempo.
Preços e pontos de venda
Podes saber mais pormenores sobre preços e pontos de venda, através do importador da marca em Portugal: www.scvouga.pt