Após cair na Vuelta, Rui Costa regressa no Luxemburgo. Entrevista ao TopCycling com detalhes da recuperação e novidades acerca do calendário até final do ano.
Desde o Luxemburgo e quase a cumprir 38 anos – celebra a 5 de outubro – Rui Costa atende o TopCycling para contar os pormenores do ano mais difícil da carreira.
Quedas graves e recuperações dolorosas. Testes à resiliência mental e o objetivo de fechar 2024 com bons resultados.
Um instante muda a vida de um ciclista. Na Volta ao Algarve foi a tirar algo do bolso do maillot e na Vuelta a Espanha saltando por cima de um colega. Omoplata e clavícula na primeira queda, costela e rotura muscular na segunda.
O TopCycling quis saber como está Rui Costa, que regressa à competição na Volta ao Luxemburgo (18 a 22 deste mês).
“A recuperação foi difícil nos primeiros 15 dias. Estive três semanas sem me conseguir por de pé nos crenques. Na semana passada comecei-me a sentir melhor, fiz trabalho específico importante e ainda não tenho a condição de topo porque me custa respirar fundo. Vou a 90 por cento, mas não queria baixar os braços nesta altura da temporada. Sabia que podia fazer as clássicas italianas de outubro e foi esse o meu foco: terminar a temporada onde tem que terminar. Não queria terminar na Vuelta.”
Rui Costa ao TopCycling.
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Manter o foco para treinar
Operações e recuperações. Este é o lado que não se vê da carreira dos desportistas de alta competição.
É preciso encontrar pontos positivos, objetivos que permitam manter o foco para treinar, sobretudo nos treinos acima das cinco ou seis horas.
“Quando regressei à estrada o desconforto era grande. A partir da segunda semana fui notando melhoras, depois houve dias de estagnação que geram dúvidas. Três dias mais tarde fiz umas acelerações para ver até onde podia ir e na primeira levei o corpo quase ao extremo ao ponto de ter tido que parar, pôr-me de pé e respirar. A partir do momento em que as sensações foram melhores já deu para fazer trabalho de fundo e séries. Isto tudo em 15 dias.”
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“Era mais fácil atirar a toalha ao chão“
Nada do que fez para trás se perdeu, isto é, o trabalho de base no Tour, nos Jogos Olímpicos e na Vuelta. A paragem forçada deu pelo menos para assimilar o que estava feito.
Quando o corpo está treinado as recuperações são mais rápidas e o que define um grande atleta é a capacidade de encurtar os tempos.
Rui Costa é um grande atleta, fez do corpo um templo e tem suficiente experiência para manter o rumo certo mesmo quando o mar se agita.
“Não estou super, mas o Luxemburgo serve para ver como estou. Nestes processos não há um médico sempre presente, tens que ser tu a medir as dores e as sensações. Era mais fácil atirar a toalha ao chão, voltar nas corridas italianas e esfregar as mãos por terminar a temporada. Quem me conhece sabe que não sou assim, quero sempre mais. Após a queda no Algarve fiquei com o braço imobilizado e perdi 80 por cento da capacidade muscular; recuperei-a rapidamente e a equipa viu esse empenho.”
Recuperar o tempo perdido
A reta final da época servirá para tentar recuperar o tempo perdido. Se o corpo corresponder o campeão mundial de Florença vai a Zurique com a seleção nacional.
Segue-se o último monumento do calendário, a Volta à Lombardia (12 de outubro), à qual chegará via Giro dell’Emilia, Coppa Bernocchi e Tre Valli Varesine.
Itália nunca falhou a Rui Costa, uma paixão que começou em sub-23 ganhando o Giro delle Regioni em 2007 e sendo 5º no Mundial de Varese, em 2008. Em elites a relação ficou séria: título mundial em Florença, em 2013, e pódio na Lombardia na seguinte temporada.