José Borges – Entrevista Topcycling

José Borges – Entrevista Topcycling

José Borges é um ciclista português, referência mundial no BTT, nas vertentes da Enduro e Downhill. Depois de 11 títulos de campeão nacional, e quase 20 anos de carreira na montanha, faz a transição para a estrada.

O Topcycling sentou-se com o novo homem do Feirense para 2025, para perceber o porquê da transição, e o que traz de uma carreira tão longa e tão rica ao mais alto nível.

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José Borges
Créditos: João Fânzeres

Carreira de sucesso na montanha

José Borges ligou a câmara do computador para falar com o Topcycling da varanda do quarto de hotel nas Canárias, onde está a estagiar com Ivo Oliveira. Um estágio que surgiu a convite do homem da UAE Team Emirates, e que serviu em muito para ir atrás do sol e “meter horas nas pernas”. 

Mas antes de falar do próximo capítulo da carreira de José Borges, vale a pena ir até ao início. 2006, quando foi ver uma corrida de Downhill e se apaixonou pela modalidade. 

Trocou as motas pela bicicleta de montanha e fez a primeira época completa em 2007 – sempre com o apoio do pai, que se mantém até hoje, tal como o resto da família. 

Desde então, história: 11 títulos nacionais – que pensava serem já 12, mas o número foi retificado depois da contagem às camisolas que tem em casa – e uma vitória na mítica MegaAvalanche, em França. De resto, menciona “subir ao pódio em 2019 num Enduro World Series, e este ano nas e-bikes, também foram grandes momentos da minha carreira”.

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Experiência no estrangeiro

Correu vários anos em Portugal, mas também nalgumas das maiores e melhores estruturas do mundo, como foi o caso da Canyon, de Fabien Barel, a quem deixa muitos elogios. Sobre a diferença entre correr cá dentro, ou lá fora, disse:

É como falares de um Fiat Uno e falares de um Ferrari. Não há comparação. A estrutura em Portugal é dão-te uma bicicleta, ou emprestam, dão-te um capacete e equipamento, e depois safas-te – atenção, falo na minha experiência, dentro da minha modalidade. Estando numa equipa fábrica as condições são outras: há training camps, há suplementação, treinador, manager, há muita coisa que em Portugal não há capacidade.

José Borges

José Borges tem sido, então, a referência maior a nível nacional no ciclismo de montanha – uma variante muitas vezes ignorada mediaticamente, num desporto que por si também não tem a maior expressão mediática. Sobre a falta de reconhecimento pelo que conseguiu, o ciclista explicou que se foi “habituando”:

Ao longo destes anos, principalmente quando entrei para a Canyon e os resultados apareceram a nível internacional, fui-me habituando. A Federação e outras entidades tiveram oportunidade de utilizar a minha imagem – tiveram em 2021 um atleta que terminou a taça do mundo, 17 etapas pelo mundo fora, e acaba em quinto lugar. Nunca houve uma notícia, uma mensagem a dar os parabéns, ate à data, nada. Habituei-me. O ano passado foi a minha melhor época, nas e-bikes. Fui líder na taça do mundo, que se calhar não vai acontecer nos próximos 100 anos, sem querer desvalorizar ninguém, mas não é fácil. E até à data não tive uma felicitação, uma notícia, o que fosse. Habituei-me, desprezei. Dei importância a quem me rodeia, família, amigos, equipa, e as pessoas que me acompanham e que gostam de mim.

José Borges

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José Borges
Créditos: João Fânzeres

A Transição para a estrada

Depois de uma das épocas de maior sucesso na carreira, abraça o projeto do Feirense para se estrear na estrada em 2025. Os convites já tinham vindo antes, mas nunca “surgiu a oportunidade” 

Explicou-nos o porquê da transição nesta fase da carreira:

Eu, em 2025, se quisesse continuar na modalidade a nível profissional, continuava – tive propostas. Confesso que algumas foram para um papel mais de embaixador, criador de conteúdo, e fazer algumas corridas. Mas como digo no vídeo, sinto-me capaz, e ao mais alto nível, para estar em competição. As marcas não pretendiam tanto isso, por isso decidi abraçar este projeto. Pensei muito sobre isto, e pensei “porque não?”. Arrisquei um ano, e pronto, é isto. Vou-me manter também numa equipa portuguesa de BTT, a correr algumas corridas de mundial, fazer algumas provas míticas, fazer algum conteúdo.

José Borges
José Borges
Créditos: João Fânzeres

Confessou que a opção da estrada foi “juntar o útil ao agradável” – o coincidir de um fim de ciclo, e um gosto pela estrada que já existia antes, fomentado pelos muitos treinos com profissionais que “deixaram a pulga atrás da orelha”. 

O Feirense surge nesta altura, na figura do Doutor Joaquim Andrade, chefe da equipa:

Foi uma coisa de momento, uma pergunta para o ar que deu resultado. Pelos vistos já em 2018 tinha feito uma corrida lá perto de casa que até ganhei. Acho que o Joaquim também me viu correr lá na nossa zona em outubro… depois o facto de ser de Santa Maria da Feira também ajudou (…) Em setembro comecei a pensar nessa possibilidade, mandei uma boca para o ar para o Joaquim Andrade e ele disse “porque não?” e que tinha todo o gosto de me ter na equipa. E eu comecei a pensar, e também disse “porque não?”, e arrisquei.

José Borges

A adaptação

Agarrar a roda de Ivo Oliveira no estágio em Espanha não tem sido problema, e o português confessou que está a aprender muito sobre a “recuperação, alimentação e descanso” com os profissionais. 

A balança à mesa foi uma dor de cabeça maior para José Borges – a nutrição foi uma das grandes alterações que teve de fazer:

A primeira coisa foi trabalhar com o nutricionista, contratei um treinador mais específico, o Carlos Aguiar, que treinou o Afonso Eulálio. E é claro, a primeiro coisa foi perder peso. No Downhill, no início da temporada estava com 83kg, agora já estou com 76kg. Portanto foi perder peso, porque tenho muita massa muscular comparado com um ciclista de estrada. A explosão e intensidade sempre tive, sempre fui trabalhando. O que trabalhei muito foi fazer bastantes horas em cima da bicicleta, criar uma base. Fizemos isso no mês de novembro, dezembro, e agora com o aproximar das corridas já estamos a por mais intensidade, séries mais longas.

José Borges

Confessou que deixou “a balança em casa”, e que em Espanha tem sido diferente pela natureza dos treinos: “Entretanto os treinos começaram a ser mais intensos, mais carga, e aí se não comeres não vais ter energia. Agora já como maiores quantidades, as comidas são sempre as mesmas, mas como mais”. 

Ainda sobre a permuta entre a montanha e a estrada, apontamos Alan Hatherly como exemplo de um caminho semelhante. José Borges respondeu com outro, o de Peter Sagan, e explicou as vantagens que se podem trazer do BTT:

“O que eu sinto… As descidas, acho que vou mais à vontade do que a maior parte do pelotão, porque a minha vida foi sempre descer. A nível técnico, se for preciso subir uma lomba, ou passeio, por qualquer coisa que seja, sinto que aí também tenho vantagem. E depois a explosão, porque um atleta de XCO ou Downhill trabalha muito a explosividade.”

José Borges

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Peter Sagan
Créditos: A.S.O. / Pauline Ballet

2025 para José Borges

Arranca para nova aventura, na estrada, inserido da estrutura do Feirense. Sem calendário definido por agora, diz que gostava de correr algumas provas rolantes, “como a prova de abertura, a Volta ao Alentejo… Gostava muito de fazer a Volta ao Algarve e ter a experiência de correr com o WorldTour”. 

As expetativas passam por… desfrutar, acima de tudo:

Desfrutar da oportunidade, e das competições com os colegas com que treino diariamente, e de todo o ambiente que vejo na televisão. O resto vem por acréscimo, sinceramente não sei quais serão as minhas expetativas, o que serão bons resultados (…) Espero não descolar antes da partida simbólica, isso já era bom para mim.

José Borges

Considera-se um ciclista rápido, sem ser um puro sprinter: “Se for um grupo mais restrito, posso conseguir fazer algo interessante”. Não foi fácil escolher referências no pelotão internacional – por serem muitos e “tão bons” – mas destacou Ivo e Rui Oliveira, João Almeida e Tadej Pogacar.

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Créditos: UAE Team Emirates / Fizza

Futuro – José Borges, o treinador?

Numa entrevista no fim de 2024 disse talvez ser “o ciclista mais completo em Portugal”, pela diversidade de vertentes em que já correu. Fica a faltar-lhe a pista e pouco mais, que diz “ainda querer experimentar”. 

O plano para a reforma pode passar outro lado: JB Racing coach, um projeto de José Borges ligado ao treino. Contou que vem acompanhando alguns jovens “que não evoluem porque não têm suporte por trás”. Confessou fazê-lo “não tanto pela parte monetária, mas mais pelo ajudar as pessoas”:

É um projeto que quero lançar no futuro, gostava de ser técnico de uma equipa no mundial de XCO, até quem sabe ser technic coach de uma equipa de estrada, porque o descer é muito importante, e há muitos atletas que são muito bons a subir, e que depois perdem tudo a descer. E se calhar isso pode ser trabalhado. Estou a trabalhar com miúdos do ciclismo e consigo notar evolução neles. E é algo que quero continuar a fazer.

José Borges

Créditos da fotografia de destaque: João Fânzeres

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