Giro – Carpano foi a Juventus do ciclismo

Giro – Carpano foi a Juventus do ciclismo

Na 12ª etapa do Giro de Itália visitamos Piemonte, região do Barolo e do Barbaresco. Aqui nasceu o vermute e a estilosa equipa Carpano.

“Ti amo” é um espaço de amor à cultura italiana e ao Giro. É também uma música de Umberto Tozzi. Proponho 21 histórias para 21 etapas.

Ah Piemonte… a 12ª etapa do Giro de Itália leva-nos desde as colinas verdejantes de Bra até às montanhas nos arredores de Turim. Se algum dia visitarem Bra não deixem de visitar o Museu da Bicicleta onde podem ver peças com mais de 100 anos de existência.

Desde a meta em Rivoli avistamos a colina de Superga e a basílica com o mesmo nome – destino final do Gran Torino quando o avião que trazia a equipa desde Lisboa chocou contra o monte na aproximação à cidade.

Construído no início do século 18 o Castelo de Rivoli é agora um dos maiores muses de arte contemporânea do mundo.
Créditos: RCS 

Em direção aos Alpes

O Giro começou nos Abruzzos e rumou ao sul de Itália. No “Ti Amo” já explicamos o que significa nascer no Mezzogiorno num país gerido desde o norte industrializado, recordamos a Nápoles de Maradona em pleno apogeu das diferenças culturais entre as duas Itálias.

Fomos subindo via Emília-Romanha pelo lado do mar Adriático e viramos rumo à costa do Tirreno passando pelo Vale da Comida. Estamos numa diagonal até ao nordeste do país em direção aos Alpes. Na fronteira com França e Suíça vai finalizar a 13ª etapa do Giro, um piscar de olhos aos vizinhos suíços com a meta em Crans Montana.

Nesta zona do cantão do Valais 33,4 por cento dos habitantes são portugueses. É também aqui que teremos a primeira etapa com cinco estrelas de dificuldades deste Giro de Itália: 199km e 5000m de acumulado.

A etapa 12 cruza Le Langhe, na província de Cuneo, terra de conhecidos vinhos como o Barolo e o Barbaresco. Créditos: RCS

Carpano foi a Juventus do ciclismo

Sabiam que a Juventus chegou a ter os campos de treinos no Velódromo Umberto I por volta de 1904-1905? Há pormenores que ligam o clube de Turim ao ciclismo, mas nenhum como a equipa Carpano.

Primeiro contextualizamos. Nos anos 40 a Juventus sucumbiu ao domínio do Gran Torino e passou por uma crise institucional. Desde 1923 é controlado pela família Agnelli – proprietária da FIAT; primeiro por Edoardo Agnelli e mais tarde pelos filhos Gianni e Umberto.

Foi com ambos que a Vecchia Signora se modernizou. Os Agnelli eram sinónimo de indústria, poder e alta sociedade. Marcaram um estilo que influenciou a Carpano, um projeto com um nome forte em Turim, cidade onde nasceu Antonio Benedetto Carpano, inventor do vermute.

A Carpano chegou a ser a equipa de Fausto Coppi, mas só descolou rumo ao êxito quando se inspirou no modelo Juventus. Como? Implantando um dress code e um manual de conduta para os corredores, criando a noção de que ser ciclista era mais do que andar de bicicleta.

“Bra saúda o Giro”. Início da etapa 12 e de um dia passado em Piemonte.
Créditos: LaPresse

Golpe de marketing genial

Os escolhidos recebiam bons salários, bons materiais e hospedavam-se em bons hotéis. Se a Juventus recorreu aos escandinavos (o extremo Karl Aage Præst e o goleador John Hansen – ambos dinamarqueses – e o avançado sueco Gunnar Nordahl) e confiou o balneário a Giampiero Boniperti (que fez toda a carreira no clube), a Carpano também revolucionou o mercado.

Foi das primeiras equipas não-belgas a contratar flandriens de topo – Fred De Bruyne, Germain Derycke e Jef Planckaert – e colocou-os às ordens do capitão Nino Defilippis, nascido e criado em Turim.

Mais importante: a Carpano criou uma identidade adotando o maillot preto e branco igual ao da Juventus. Foi um golpe de marketing genial que só funcionou porque venceram Flandres, Roubaix, Lombardia e dois Giro de Itália… e dezenas de outras vitórias em corridas de topo.

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