Para o fã de ciclismo, quando termina uma grande volta (que tem a duração de três semanas), de repente existe um vazio, é como terminar um campeonato do mundo de futebol para o fã de futebol, com a diferença de que o fã de ciclismo tem isto todos os anos, três vezes por ano. Somos uns privilegiados nesse aspeto.
Inicio assim este artigo porque terminou o Giro de Itália há alguns dias e já tenho saudades, o melhor Giro de Itália de que tenho memória, eu e provavelmente todos os portugueses.
Embora em 2020 tenhamos vibrado como nunca, pelos vários dias em que João Almeida andou de camisola rosa e pelas vitórias (etapa e camisola da montanha) de Rúben Guerreiro, este ano vibrámos com a hipótese de vitória no Giro! No final vibrámos pelo facto do ciclista português ter conseguido terminar no pódio de uma grande volta.
Foi uma sensação de satisfação e orgulho que causou até estranheza pelo facto de não estarmos habituados. Olhar para o pódio, ver Primoz Roglic, Geraint Thomas e João Almeida, um português no pódio de uma grande volta.
O desporto em geral, e o ciclismo não é exceção, faz vibrar com os vencedores, os campeões, os que são extraordinários. Mas no ciclismo, embora o que vai ao pódio seja só um ciclista, e seja ele que vai ser recordado para sempre, há toda uma equipa por detrás, não refiro só o staff de treinadores, massagistas, mecânicos, nutricionistas, etc. (porque isso também existe noutros desportos) mas uma equipa de ciclistas, que tal como o vencedor, têm que pedalar todos aqueles quilómetros e fazer toda a preparação com um objetivo, ajudar um colega a vencer.
O filme “Wonderful losers – A Different World “ não mostra as vitórias, é uma homenagem aos “gregários”, “domestique”, “aguadeiros” ou outro nome que se dá aos ciclistas que renunciam às vitórias pessoais em nome da vitória de seu líder. Sem eles é difícil vencer uma grande volta (e isto é só uma das partes difíceis de vencer uma grande volta).
Creio que tem imagens que retratam 100% a essência do ciclismo, na sua dureza, na sua beleza, na sua grandeza, diria até na sua complexidade, se quisermos chamar assim à falta de palavras para explicar o porquê de ser assim. Acho-o extraordinário, talvez porque me identifico mais com um gregário do que com um vencedor.
O documentário é de 2018, tem a realização do lituano Arūnas Matelis, que se juntou às equipas médicas no Giro de Itália e nos traz uma abordagem diferente do ciclismo, onde as estrelas são os chamados “gregarios”, com a participação e testemunho de ciclistas como Svein Tuft, Jos van Emden, Paolo Tiralongo, Chris Anker Sorensen ou Daniele Colli.
Vídeo
Para os menos experientes no Youtube, é possível accionar legendas, se estas não aparecerem em português, no botão “definições” é possível definir legendas em português.
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