Cowboy venceu a etapa rainha do Saudi Tour. O TopCycling recupera a entrevista a Rúben Guerreiro feita na apresentação da Movistar.
A Movistar apresentou-se em Madrid, na sede da Telefónica, uns dias antes do Natal, com um recorde para a estrutura de 45 ciclistas – 30 homens e 15 mulheres. Para a 13.ª temporada de colaboração entre a empresa de telecomunicações e a Abarca Sports, propriedade de Eusébio Unzué, a presença portuguesa foi duplicada já que Rúben Guerreiro se juntou a Nélson Oliveira.
Se Oliveira vai para o oitavo ano de ligação à Movistar, Guerreiro chega à histórica formação espanhola após passar por Trek, Katusha e EF. O atleta do Montijo reforça um grupo que terá que aprender a viver sem Alejandro Valverde, que se retirou com 113 vitórias e após passar 18 anos como corredor da equipa.

Rúben vai ter oportunidades
Rúben Guerreiro não vai substituir o Bala porque há corredores que são únicos, mas tentará posicionar-se como um dos rostos da estrutura que há alguns anos “namorava” o português. Ao Top Cycling, em dezembro, na apresentação da equipa, o patrão Eusébio Unzué elogiou a forma de correr do português:
“Vejo o Rúben como um cavalo selvagem, no bom sentido. Tenho a certeza de que nos vai trazer coisas muito interessantes e será um corredor que vai ter oportunidades em determinadas corridas. Ao mesmo tempo, a capacidade polivalente que tem vai fazer com que esteja nos objetivos mais importantes do ano para a equipa.”
A treinar desde a primeira semana de novembro e após fazer o melhor inverno desde que é profissional, o Cowboy tomou um café com o Top Cycling após a apresentação da Movistar e adiantou que terá a oportunidade de ir “ao Saudi Tour [30 de janeiro a 3 de fevereiro] para preparar Omã [11 a 14 de fevereiro], que já é uma corrida que tem a Montanha Verde, o primeiro teste em subida da época. A partir daí vou ao Gran Camiño [23 a 26 de fevereiro] para chegar bem à Strade Bianche [4 de março], onde falhei por pouco o top 10 em 2022. Gosto bastante desse tipo de corridas e quero perceber onde posso chegar em termos de competir contra os grandes corredores. Depois passo por País Basco [3 a 8 de abril] e Ardenas [16 a 23 de abril]”.
Antes de começar a competir, parte da equipa vai estagiar em altitude, em Serra Nevada. Pelas datas e perfil das provas no horizonte de Rúben Guerreiro a primeira grande Volta do ano deverá ser o Tour de France, onde em 2021 fechou na 18ª posição na estreia. O regresso ao Tour deverá ser precedido pela participação na Volta à Suíça.

Créditos: gettysport / Movistar Team
Preparar as Ardenas com o rei Valverde
Abandono por queda na Liège-Bastogne-Liège e 7º na Flèche Wallone. Este foi o balanço da última campanha de clássicas das Ardenas para Rúben Guerreiro, um apaixonado deste tipo de provas que apelam às características explosivas do montijense.
Para 2023 o desejo é melhorar as prestações em ambas as corridas e para isso a Movistar conta com a sabedoria de Alejandro Valverde. O Bala já não corre, mas funcionará como elo de ligação entre atletas e staff, uma mais-valia sobretudo nas Ardenas onde venceu cinco vezes a Flèche – é o recordista histórico de triunfos – e quatro a Liège – ficou a uma de Eddy Merckx.
Rúben Guerreiro reconhece que Valverde “deixou um vazio daqui até ao espaço para preencher. Por isso é que quis vir para esta grande estrutura, para estar com exemplos como o Bala porque é uma oportunidade de vida e de carreira estar com um dos melhores de sempre e tentar seguir as pisadas dele. Tê-lo no autocarro a dar conselhos… quem é que não queria?”
É óbvio que o resultado na Flèche Wallone mostra que há potencial para apontar ao pódio, quem sabe à vitória, mas é preciso recordar que em sub-23 também foi 3º na Liège pela Axeon.

Créditos: gettysport / Movistar Team
“Gostava de discutir a Flèche, sempre com os pés assentes no chão porque os mais novos estão cada vez melhor, o próprio Bala admite que esta geração é a melhor de sempre. Quem ganha é um grande campeão, mas os detalhes fazem os campeões porque ninguém nasce com o palmarés já feito. Oxalá eu tenha a forma física um pouco melhor do que este ano. Num momento ou outro fiquei bloqueado, mas todos os corredores passam por isso, os que ficaram à minha frente tinham melhor condição. Para ter a forma é preciso ter a cabeça bem. Este ano encontrei-me, a maturidade como ciclista chegou-me mais tarde, as doenças e quedas não ajudaram porque quando passas por isso é difícil encontrares-te se não tiveres pessoas que acreditem em ti”,
confidencia o cowboy.
Sintonia total no método de trabalho
Por agora o trabalho tem sido feito sob supervisão do diretor de alto rendimento, Patxi Vila, que ajudou Enric Mas a fechar forte a temporada e antes colaborou com Peter Sagan. Em termos de método de trabalho há sintonia total. Rúben Guerreiro tem liberdade para continuar a treinar como fez em 2022 com Michele Bartoli na EF.
O italiano, vencedor de cinco Monumentos, desbloqueou a carreira do português mostrando-lhe que podia ser competitivo em subidas explosivas e ao mesmo tempo melhorar nos esforços longos. Prova disso foi o 9º lugar no Dauphiné ao qual se seguiu a vitória no Desafio Mont Ventoux.

Mais motivado do que nunca
Aos 28 anos, Rúben Guerreiro vê na Movistar a oportunidade de continuar a crescer como ciclista e em Madrid viu-se um atleta mais motivado do que nunca. Durante a apresentação falou-se de liderança, render sob pressão, mas também se riu graças ao humor do anfitrião Pedro Delgado – campeão do Tour e da Vuelta ao serviço desta mesma equipa.
No auditório central do edifício da Telefónica – empresa com mais de 100 mil trabalhadores – vimos o toque familiar dado pela estrutura da equipa de ciclismo e o tom corporativo conferido por um patrocinador que tem emprestado à modalidade conhecimento tecnológico.
Vídeo – As palavras de Nelson Oliveira e Rúben Guerreiro
Por exemplo, só em 2022 a Movistar Team gerou mais de três mil milhões de dados. Engenheiros da empresa desenvolveram uma app que permite aceder aos dados de qualquer corredor rapidamente, isto é, se um diretor quiser saber o pulso ou a cadência do corredor A num treino ou numa etapa tudo está à distância de um clique.
Na era do big data, equipa e empresa digitalizaram os dados desde a época 2019. Isto permite começar a apostar na próxima fronteira: através da inteligência artificial será possível criar modelos preditivos e otimizar a performance desportiva, embora neste setor o ciclismo ainda esteja a dar as primeiras pedaladas.
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