Sprinter neerlandês quer etapas no Giro, no Tour e relançar uma estrutura que ganhou muito com Marcel Kittel e John Degenkolb. O TopCycling em Espanha com Fabio Jakobsen.
Fabio Jakobsen não se sente famoso, nem mesmo depois de ter sido um dos protagonistas da primeira série que a Netflix dedicou ao Tour de France e na qual contou a história de superação do neerlandês.
As marcas do acidente na Polónia ainda são visíveis, mas o sorriso é permanente. É um entrevistado fácil, desenvolve as respostas, pensa à velocidade a que sprinta.
Acaba de trocar a Soudal Quick-Step pela dsm-firmenich PostNL. Um neerlandês para liderar uma equipa dos Países Baixos.
“Não pude ficar na Wolfpack porque o Remco Evenepoel vai fazer o Tour e não há lugar para um sprinter. Sempre quis uma equipa onde possa sprintar por vitórias no Tour, talvez no Giro. Falei com algumas, mas esta era a melhor opção em termos de rendimento, equipamento, por ter um comboio para o sprint e um grupo dedicado de sprinters.”
Fabio Jakobsen ao TopCycling no Media Day da dsm.
Para afinar a engrenagem Fabio Jakobsen arranca com Omã, UAE Tour, Paris-Nice, Bredene Koksijde e De Panne. Depois vai à Turquia preparar o Giro, enquanto o aquecimento para o Tour é feito na Volta à Bélgica.
De parte fica a Volta ao Algarve, onde o sprinter da dsm ganhou quatro etapas desde 2019, três delas em Lagos.
“Adoraria ir ao Algarve, mas nas corridas do Médio Oriente há muitas oportunidades para sprintar. O Algarve é uma boa preparação para o fim-de-semana de abertura, mas para por o comboio do sprint em funcionamento é melhor ir a Omã. Além disso, não faço Omloop nem Kuurne porque vou ao UAE e por esse motivo ficamos fora do Algarve.”
Relançar a grande dsm dos sprinters
É curioso as voltas que dá a carreira de um atleta. Na transição de júnior para sub-23 Fabio Jakobsen esteve para assinar pela equipa de desenvolvimento da Sunweb (atual dsm), mas acabou na SEG Racing.
Após seis anos na Quick-Step chega a um projeto que teve anos fortes, embora a reputação recente da dsm seja a de equipa pouco flexível. A rotação de talento é grande e muitos atletas não chegam a cumprir os contratos.
“Há muitas histórias à volta desta equipa. Na primeira ou na segunda reunião com o Iwan Spekenbrink e o Rudi Kamna falamos à vontade e ouvindo a perspetiva deles as coisas fazem sentido. Gosto de olhar ao êxito que a equipa teve: vitória no Giro com Tom Dumoulin, grandes comboios do sprint com Marcel Kittel e John Degenkolb. Está no ADN deles e querem fazer isso comigo. Trabalhamos juntos desde o início, por exemplo, discutimos corredores que podiam entrar na equipa, eu disse o que sabia acerca deles e fui ouvido, não foi do tipo eu quero aquele e aquele, mas a comunicação foi aberta.”
“Max Richeze ou Michael Morkov não eram grandes lançadores aos 23-24 anos“
Roy Curvers é o treinador do bloco dos sprinters. Está na equipa há 16 anos, foi lançador na era mais vitoriosa da estrutura – três épocas acima das 30 vitórias entre 2011 e 2014 graças a Marcel Kittel e John Degenkolb.
No estágio de janeiro, na Comunidade Valenciana, a dsm juntou no mesmo grupo de treino Emils Liepins e Patrick Eddy – que correm o Tour Down Under –, o talentoso sprinter Casper van Uden, os experientes Timo Roosen e Bram Welten, além dos jovens Niklas Markl e Tobias Lund. Para as grandes Voltas o bloco é reforçado com Nils Eekhoff e John Degenkolb que fazem parte do bloco de clássicas.
“Se ganharmos uma etapa no Giro e outra no Tour podemos falar num bom ano. O objetivo principal é por o comboio do sprint a funcionar porque tudo começa aí. Está na altura de usar a experiência que reuni e construir um comboio bem-sucedido. Isso não acontece do dia para a noite, gente como Max Richeze ou Michael Morkov não eram grandes lançadores aos 23-24 anos. À medida que as corridas forem evoluindo o nosso grupo de sprint também irá crescendo, quero apontar à execução perfeita e com ela virão as vitórias.”
Principal rival é Jasper Philipsen
A vantagem da dsm face à Quick-Step é permitir um foco total nos sprints sem ter que fazer a preparação específica para as clássicas. O contrato de Fabio Jakobsen é válido por três anos e o neerlandês confirma que pensa a longo prazo.
No imediato o principal rival é Jasper Philipsen, corredor com mais vitórias em 2023.
“Foi o melhor sprinter do ano, mas este é um novo ano. Bati-o em 2023, vou tentar batê-lo mais vezes este ano. O que é que ele tem a mais do que eu? Tem o Mathieu van der Poel… [risos] É esse bocadinho a mais. Corro contra o Jasper há muito tempo, agora é ele que tem que ficar no topo e os demais temos que o tentar ultrapassar.”
Para bater o belga da Alpecin os homens da dsm contam com a Foil RC desenvolvida pela Scott.
“Está no top cinco, talvez top 3, das bicicletas mais rápidas do pelotão. A Scott fez um esforço em desenvolver a Foil. É similar à Venge que tive, o modelo descontinuado da Specialized. A sensação é semelhante: atinges a velocidade e manténs a velocidade bem, é uma bicicleta aerodinâmica. Está lá em cima com Cervelo, Canyon e Giant que são as marcas com as bicicletas mais rápidas para sprintar.”
Poderá Fabio Jakobsen fundar uma nova dinastia na dsm? Tem a atitude e o conhecimento certos, a chave está no relacionamento corredor-equipa que privou a estrutura de segurar ciclistas ganhadores como Marc Hirschi, Tiesj Benoot ou Michael Matthews.