Mano a mano épico no Mundial de ciclocrosse. TopCycling lança o evento ainda com a experiência vivida na Taça do Mundo de Benidorm à flor da pele.
É fechar os olhos e vêm à mente as passagens dos corredores, o cheiro a fritos, a música eletrónica que marca o ritmo e o ruído de fundo que é um mix de idiomas de quem se juntou em Benidorm para ver Mathieu van der Poel, Wout van Aert, Tom Pidcock, Marianne Vos, Fem van Empel ou Puck Pieterse.
Com a desculpa do ciclismo, belgas e neerlandeses foram à procura do sol. Esperávamos encontrar clubes de fãs, mas ficamos surpreendidos com a quantidade de público sénior e infantil (miúdos entram grátis) que foram às corridas.
O TopCycling foi em família. Ao Luís Beltrão juntaram-se os Moreira: pai, mãe e filhos. A minha esperança era passar o “bichinho” das duas rodas à família e mostrar-lhes que o ciclocrosse é uma festa. Como eu estavam milhares de espanhóis, desejosos de viver as emoções da Taça do Mundo que desde 2011 não organizavam (e sempre que o fizeram foi em Igorre, no País Basco).
Qual o momento top para mim? Sem dúvida quando um senhor nos viu com duas crianças e puxou conversa com a minha mulher; de ciclismo a minha Maria entende o básico, mas é craque a ler as pessoas e sentiu algo especial. “Este senhor diz que o neto está a correr“; foi assim que conheci o avô materno do Tom Pidcock, o senhor Bernard Harper, tão terno a falar que fiquei com vontade de que fosse meu avô também.
O meu amigo Bernard Harper levava um boné da Ineos e não tirava os olhos da pista para ver o neto. Falámos da carreira do Tom, da vitória no Alpe d’Huez. Típico avô, Bernard Harper tem amor para todos os netos e já que estava lançado soltou “sabes que o Joe também é ciclista e corre na Trinity Racing?“. Joe é o irmão do Tom. Despedimo-nos com um abraço e disse-lhe que conhecê-lo tinha tornado a visita a Benidorm especial.
Hoogerheide é a “casa” dos Van der Poel
O Mundial de ciclocrosse disputa-se em Hoogerheide, nos Países Baixos. Nas mulheres o duelo é entre Fem van Empel e Puck Pieterse, já que Shirin van Anrooij optou por correr em sub23. Qualquer outra atleta que saia com o arco-íris contraria a lógica da temporada, dominada pelas miúdas de 20 anos. É certo que Ceylin del Carmen Alvarado recuperou um bom nível e que as veteranas Lucinda Brand e Annemarie Worst têm andado bem após sofrerem lesões sérias, mas só uma corrida atípica as levaria a bater Van Empel ou Pieterse. A campeã em título é Marianne Vos e não está presente, mas o título, o pódio (talvez até o top 5) não escaprão aos Países Baixos!
Sigam a prova feminina este sábado, às 13:45, em direto, no Eurosport 2.
Este crosse nasceu como homenagem a Adrie van der Poel. Hoogerheide é a “casa” dos Van der Poel; foi aqui que Mathieu venceu o título nacional em 2018 e também onde perdeu o Mundial de sub23 para Wout Van Aert em 2014.
O percurso foi pensado por Adrie van der Poel e tem como imagem de marca a escadaria conhecida como “Stairway to Heaven”, o título de uma grande música dos Led Zeppelin. Por segurança dos ciclistas foram montadas três pontes que permitem ao público mover-se pelo recinto sem ter que passar pela pista. Sem previsão de chuva prevê-se uma prova rápida já que há poucas curvas de 180 graus e muitas onde não se perde velocidade, como explicou Adrie van der Poel a um site neerlandês.
Onde se pode partir a prova? Diz quem sabe que o segmento entre a box 1 e a box 2 pode ser decisivo. Ao ter duas pontes é possível fazer diferenças. Também as barreiras são mais altas (40 cm em vez dos 35 cm habituais na maioria das provas) e quem as saltar pode embalar para a subida onde estão colocadas. Domingo esperam-se mais de 30 mil espetadores (no melhor dos cenários 40 mil) e como vimos em Benidorm as barraquinhas de cerveja estão presentes em maior quantidade do que as de comida. À hora da prova já muita festa terá o público no corpo, por isso em 95 por cento do percurso há dois metros entre ciclistas epúblico para evitar incidentes.
Duelo número 180 entre Van der Poel e Van Aert
O campeão Tom Pidcock é o grande ausente por ter o foco na temporada de clássicas. Os três Reis Magos só se reencontram na Strade Bianche. Depois abrem-se outras batalhas, já que Van der Poel e Van Aert correm Tirreno-Adriático com Tadej Pogacar, um fanático da Volta à Flandres, e Julian Alaphilippe, que aspira a regressar ao nível dos rivais após um ano horrível. Só se voltam a separar na Paris-Roubaix, que nem Pidcock nem Pogacar nem Alaphilippe fazem.
Antes do regresso à estrada… o Mundial. Em Hoogerheid teremos o duelo número 180 entre Van der Poel e Van Aert no ciclocrosse e contabilizando todas as categorias. Só em elites são 137 e quem lidera é o neerlandês (88-38). Poderíamos dizer que Laurens Sweeck está forte após vencer a Taça do Mundo, que Eli Iserbyt tem sido dos poucos a aguentar o ritmo dos “galos” aqui e acolá, mas na realidade só há dois prováveis campeões. Os “bichos” Van der Poel e Van Aert estão noutro planeta!
Sigam a prova masculina este domingo, às 13:45, em direto, no Eurosport 2.
Após o Mundial Van Aert vai estagiar em altitude no vulcão Teide, em Tenerife, Van der Poel opta por ficar em Espanha no seu hotel de conforto, o Syncrosfera (propriedade do antigo ciclista Alexander Kolobnev). Foi lá que estagiou em dezembro e em janeiro, voltando em fevereiro aos quartos que têm instalado um sistema de hipoxia que simula a altitude sem ter que deixar de treinar ao nível do mar. Confiram aqui a recente visita do Top Cycling ao estágio da Alpecin-Deceuninck e a entrevista com o craque neerlandês.
Confiram abaixo alguns momentos da passagem da Taça do Mundo por Benidorm. As fotos são da autoria de Álvaro García Herrero e foram cedidas pela organização do evento.
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