Tadej Pogacar ao TopCycling: “Flandres foi o dia mais divertido do ano” 

Tadej Pogacar ao TopCycling: “Flandres foi o dia mais divertido do ano” 

A maior parte dos adeptos conhece-o como o fenómeno que na véspera de completar 22 anos se tornou o segundo mais jovem vencedor da história do Tour de France, apenas superado por Henri Cornet que foi campeão em 1904. Tadej Pogacar é um fenómeno quando ganha, mas mostrou no ano passado ser igualmente incrível quando perde. 

Grandes campeões deixaram-se consumir pela grandeza do Tour de France. Laurent Fignon, por exemplo, contou na autobiografia “We were young and carefree” como se sentiu após vencer a maior corrida do mundo: “Pensei que o mundo girava à minha volta (…) Fazem-te sentir constantemente que és o centro das atenções, por isso começas a pensar dessa forma. Foi ridículo, vulgar e péssimo para a minha dignidade.” 

Imagem: Fizza

Quando venceu o segundo Tour, em 2021, Tadej Pogacar tinha a mesma idade de Fignon quando ganhou o primeiro. Jacques Anquetil, Bernard Hinault ou Jan Ullrich só se estrearam aos 23. O único precedente contemporâneo parecido com o do esloveno é o triunfo de Egan Bernal. 

Sem uma ponta de arrogância, sem dar a ideia de estar tenso ou pressionado. Foi um Tadej Pogacar tranquilo que o TopCycling encontrou em La Nucía, em dezembro, durante o primeiro estágio a sério de preparação para 2023. Em 45 minutos de conversa com jornalistas de todo o mundo nunca desviou um tema, respondeu a tudo o que lhe foi perguntado e foi à sua vida. 

Imagem: TopCycling.pt

Tadej Pogacar normaliza o que é extraordinário, talvez porque na Eslovénia leva uma vida normal:

As pessoas reparam mais em mim, mas pedir uma foto ou um autógrafo é bom. Por vezes estou no supermercado a pagar e alguém quer conversar um pouco mais… (risos) Levo uma vida tranquila, saio para fazer as compras e coisas normais.” 

Bem-disposto por natureza, aprendeu a lidar com a pressão e a exposição pública. O segredo é estar “rodeado de pessoas que confiam em mim, mesmo quando não ganho. O único aspeto negativo é ler algumas coisas na imprensa que me fazem sentir mal, mas não me pressiona. Embora seja bom sentir alguma pressão. Até com vocês [jornalistas] é bom falar… às vezes”. 

Refletindo sobre 2022

Passamos aos assuntos sérios. Em 2022 a UAE e Tadej Pogacar perderam o Tour de France para a Jumbo-Visma e Jonas Vingegaard. Foi uma surpresa ver a quebra física do esloveno na 11ª etapa. 

Imagem: TopCycling.pt

Íñigo San Millán é o diretor de performance da UAE. Quando o viu quebrar no Col du Granon sentiu-se “de coração partido, mas são coisas que acontecem aos melhores. Devem acontecer porque tornam o desporto maior. Para nós UAE não foi bonito, tenho que garantir que não se repete”. Para o treinador do esloveno não mudou nada na apreciação global do corredor, explica San Millán que “fisiologicamente um Tadej Pogacar aparece a cada 20-30 anos, é o ciclista mais impressionante que vi. É um monstro, é competitivo. Ao mesmo tempo é tranquilo, não se enerva. Em teoria deveria ter margem de progressão”. 

Imagem: Fizza

Temporada 2023

Alguns pormenores foram revistos pelos diretores da UAE na preparação da temporada. O objetivo é que o líder supremo da estrutura chegue à forma progressivamente, isto depois de em 2022 aparecer logo forte em janeiro e em fevereiro – muito por culpa da prioridade que é ganhar o UAE Tour na equipa dos Emirados. Este ano, Tadej Pogacar começou a treinar mais tarde e com menos intensidade, também optou por não fazer estágio em altitude em janeiro. 

Imagem: Fizza

Em retrospetiva, o bicampeão do Tour de France considera ter feito uma das melhores temporadas que podia imaginar. O 2º lugar não é uma derrota; ganhei três etapas e a camisola branca, ao longo do ano ganhei muitas corridas, estive perto na Milão-Sanremo e na Volta à Flandres. O Tour não é tudo, é preciso competir todo o ano”. 

Imagem: TopCycling.pt

Com naturalidade assumiu a superioridade do rival: “O Jonas esteve muito forte nas subidas e no contrarrelógio. Estava na forma perfeita, fez tudo bem e a equipa também. Foram melhores desta vez.” Ao mesmo tempo garantiu que está mais motivado do que nunca para reconquistar o Tour de France. 

Imagem: Fizza

Um voltista à antiga e com Monumentos na mira

A era romântica do ciclismo ficou marcada por grandes campeões que nunca não se esconderam das colinas empedradas da Flandres ou do Inferno do Norte em Roubaix. 

Foi precisamente na Bélgica que Tadej Pogacar viveu o dia mais divertido de todo o ano ao estrear-se na Volta à Flandres com um espetacular 4º posto.

Foi uma experiência bonita, é um dos objetivos em 2023 e mal posso esperar porque vai ser incrível outra vez. A Flandres tem o maior público, tem as subidas em pavé, é stressante e caótica, mas gosto disso. Quero ir o mais bem preparado possível para ter uma oportunidade, não se trata só de ganhar, mas de poder corrê-la. É uma boa sensação”,

adianta o corredor que tem previsto alinhar na Através da Flandres e em mais uma prova ainda por decidir. 
Imagem: Sprint Cycling Agency

Antes das clássicas do Norte há contas pendentes para ajustar com outro Monumento. A Milão-Sanremo apresenta-se como um sonífero para uns e um desafio para outros. Tadej Pogacar nunca escondeu que adora correr em Itália e que só não vai ao Giro porque a equipa prioriza o Tour; para compensar fará Strade Bianche, Tirreno-Adriático e voltará à clássica que abre a primavera, “uma corrida longa e aborrecida até chegar à costa, depois tens um momento onde tens que ser o mais forte e o facto de ser das mais difíceis de ganhar é o que a torna tão bela”. 

Imagem: Sprint Cycling Agency

Em 2022, Pogi cheirou o triunfo. Passou o Poggio na frente, mas viu escapar o compatriota Matej Mohoric numa descida kamikaze que deu à vitória ao corredor da Bahrain.

Decidi deixar a roda [do Matej], havia sprinters no grupo e por isso não tinha porque trabalhar nos últimos 3km, mas tudo acontece muito rápidoSe calhar não devia ter saído da roda do Matej”, lamenta o 5º classificado nesse dia após perder o sprint pelo pódio para Anthony Turgis e Mathieu van der Poel. 

Até que dê com a tecla em Sanremo e na Flandres o esloveno sempre pode ir admirando o já extenso palmarés em Monumentos: duas vitórias na Lombardia, uma na Liège e mais três top cinco, isto em oito participações. O pior resultado que fez nas cinco clássicas mais importantes foi um 18º lugar na estreia, em Liège.

Quanto a Roubaix, por agora é terreno por explorar. 

Por: Gonçalo Moreira

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