A primeira dupla tripla nas Ardenas!

A primeira dupla tripla nas Ardenas!

A História une Robert Capa, Tadej Pogacar e Demi Vollering. Uma reflexão de Gonçalo Moreira sobre o papel da mulher no ciclismo.

Vivemos tempos empolgantes. A reencarnação de Eddy Merckx caminha entre nós e até aqueles que tinham perdido o apetite pelo ciclismo já não resistem quando Tadej Pogacar está a correr.

São 24 anos, dois Tour de France, quatro Monumentos e espetáculo à antiga. O que era bom ainda melhorou em 2023: 18 dias de competição e 12 vitórias, incluindo a Volta à Flandres (o primeiro campeão do Tour a ganhar a Ronde desde Merckx).

A semana das Ardenas tem sido extraordinária. Após dominar a Amstel Gold Race e a Flèche Wallone, Tadej Pogacar aspira à tripla que só Davide Rebellin e Philippe Gilbert conseguiram fazer na mesma temporada.

Créditos: A.S.O Billy Ceusters

Vollering na sombra de Pogacar

Esta é a narrativa que a maioria dos aficionados de ciclismo poderá ter presente, mas Anna van der Breggen também fez a tripla em 2017 – o primeiro ano em que as mulheres puderam correr a Liège-Bastogne-Liège.

A campeã mundial e olímpica retirou-se para dirigir a potente SD Works e este domingo pode guiar Demi Vollering à terceira vitória no espaço de uma semana.

Vollering chega à Decana das clássicas após fazer uso da superioridade numérica da SD Works na Amstel – atacando após o Cauberg em sintonia com a colega Lotte Kopecky – e abafando as rivais desde o primeiro metro no muro de Huy na conclusão da Fléche. Vollering correu apenas sete dias este ano, tem três clássicas ganhas e dois segundos lugares. Venceu a Liège em 2021 portanto a tripla das Ardenas é realista.

Ao longo da História são vários os exemplos de mulheres que ficaram em segundo plano em momentos marcantes. Sem querer – já que é um grande promotor do ciclismo feminino – a incrível época do esloveno coloca Vollering na sombra de Pogacar.

Embora estejamos a viver uma era de conquista do espaço público pelas mulheres, quem reconhece Beryl Burton ou Fabiana Luperini? Há muito a fazer neste campo.

Li há tempos sobre o papel da mulher na História da Arte. Na obra “HARTAS”, a autora Antònia Torelló Torrens recorda Robert Capa, fotojornalista que cobriu a Guerra Civil espanhola na linha da frente retratando o sofrimento de forma crua e pioneira.

Só que Capa nunca existiu; foi criado por um judeu (Endre Ernő Friedmann) e uma mulher (Gerda Taro) que viveram a ascensão do nazismo e se refugiaram em Paris. Ideia original de Gerda Taro porque as agências pagavam mais se o material enviado fosse de um suposto fotógrafo americano.

Créditos: A.S.O ThomasMaheux

Quando a primeira mulher a cobrir a guerra na linha da frente morreu esmagada por um tanque já Gerda trabalhava como “Photo Taro” e Friedmann tinha assumido o papel de “Robert Capa”. Parte do trabalho de Gerda Taro caiu no esquecimento. Só em meados dos anos 90 foi reposta certa verdade histórica quando milhares de negativos de Taro foram encontrados e fotos atribuídas a Friedmann/Capa foram corretamente identificadas pela autora original.

Oxalá a História seja mais justa com Vollering e a neerlandesa não seja apenas uma nota de rodapé na semana de Pogacar. O mundo anseia pela Liège e por ver a primeira dupla tripla nas Ardenas.

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