Sprinters icónicos dos anos 90, Portugal no coração e o desejo de ganhar na Figueira da Foz. O TopCycling toma um café com Tom Steels, diretor da Soudal Quick-Step.
Tom Steels foi um dos grandes de uma geração de sprinters que marcaram que os viu correr. Nomes como Erik Zabel, Mario Cipollini, Jan Kirsipuu, Stuart O’Grady ou Robbie McEwen ainda hoje nos trazem grandes memórias.
De uma ou de outra forma todos continuam ligados ao ciclismo. Steels passou a dirigir a Soudal Quick-Step, reunindo-se com a equipa onde correu entre 1996 e 2002, na altura a Mapei Quick-Step.
O belga é fã de Portugal, por isso abrimos a conversa a falar sobre as ondas gigantes da Nazaré. Rapidamente saltamos para a primeira visita nos anos 90. Por cá as coisas sempre lhe sorriram ao ponto de na Volta ao Algarve de 2005 ter ganho uma etapa e vestido a amarela.
“Tenho ideia que foi num sprint em ligeira subida, em Portimão. Eu estava na equipa com o Vansevenant, era o primeiro lead-out do ano e ganhar logo foi ótimo. De alguns países posso ter más memórias de lá ter corrido, mas de Portugal só boas sensações.”
Tom Steels em exclusivo ao TopCycling.
“Portugal não é um país fácil para correr”
Tom Steels refere-se a Wim Vansevenant, pai de Mauri Vansevenant que agora faz carreira na Quick-Step. Sentimo-nos mais velhos, mas também privilegiados por termos podido desfrutar de uma era onde os melhores do mundo vinham a Portugal, por isso recuamos até 1999 e ao GP Portugal Telecom.
O antigo sprinter visitou Portugal com a Mapei. “Nunca tinha estado em Portugal, lembro-me de ouvir o português e pensar ‘que língua é esta’?”
Até à última edição, em 2007, a prova realizava-se no distrito de Santarém e reunia uma série de aspetos clássicos das estradas portuguesas.
“O nível competitivo era muito bom. Recordo-me de passar numa espécie de pavê. Portugal não é um país fácil para correr porque é sempre sobe e desce, mas é uma boa preparação para a temporada porque mesmo no pelotão tens que fazer um certo esforço de qualidade.”
A edição de 1999 ficou marcada por uma queda. Paulo Martins, o meu colega de comentários no Eurosport, corria na Gresco-Tavira e lesionou-se com gravidade na chegada à Lourinhã.
Nesse dia ganhou o tricampeão olímpico Viatcheslav Ekimov (Amica Chips), um de muitos nomes conhecidos presentes num pelotão que tinha Banesto, ONCE, Euskaltel-Euskadi e Telekom.
Steels foi o maestro do triunfo de Casper Pedersen
O auge da carreira de Tom Steels foi a segunda metade dos anos 90. Etapas no Tour de France, vitórias nas grandes clássicas belgas (Gent-Wevelgem e Omloop Het Volk, a atual Omloop Het Nieuwsblad) e títulos nacionais.
O homem que já viveu tudo no ciclismo gosta de experimentar novas sensações, por isso adorou a 1ª edição da Figueira Champions Classic. Steels foi o maestro do triunfo de Casper Pedersen.
“Gostei do evento, estava bem organizado para as equipas e o ambiente foi bom. Quando fomos fazer o reconhecimento acabamos por nos misturar com o Gran Fondo e as pessoas começaram a seguir-nos. É sempre bom quando tens um corredor novo na equipa que entra a ganhar. Fizemos a volta grande que era agradável e depois a volta pequena não era fácil, o Casper até descolou e foi o único a reentrar. Demos-lhe a confiança de ir sprintar porque sabíamos que podia ganhar.”

“O Moscon pode ser o nosso joker”
O dinamarquês vai regressar à Figueira da Foz na companhia de Remco Evenepoel e a ideia é defender o título. Daí Pedersen fará a campanha de clássicas com os líderes Kasper Asgreen, Julian Alaphilippe e Yves Lampaert.
Outro homem que pode vir a ser importante na Quick-Step é o reforço Gianni Moscon. O diretor Tom Steels reconhece que Mathieu van der Poel e Wout Van Aert são favoritos, mas confia no ADN ganhador da Wolfpack.
“No ano passado tivemos uma campanha de clássicas difícil, muitos corredores ficaram doentes. O Moscon pode ser o nosso joker. Sempre usamos o coletivo, sobretudo desde que deixamos de ter o Tom Boonen como líder e mesmo aí jogávamos outras cartas e ganhávamos com vários corredores. O Julian está de volta aos eixos, o Kasper também após um período de 18 meses difícil, o Yves está motivado, o Pedersen tem qualidades. Temos cartas para jogar e bater-lhes o pé.”
Despedimo-nos com uma pergunta: está a Bélgica a viver uma crise de classicómanos ou há talento local, além de Van Aert, para ganhar uma Volta à Flandres?
Neste tema o coração belga de Tom Steels não vê cores nem maillots.
“O Arnaud de Lie é um dos belgas que está próximo de se afirmar como classicómano: é rápido, tem um caráter forte, pode subir e é rápido. Se não falar como diretor da Soudal, mas como belga, o De Lie tem o perfil ideal para ganhar muitas clássicas.”