É a primeira vez que Rui Costa faz duas “grandes” no mesmo ano. Preparação para a Vuelta foi no paraíso da ilha da Madeira.
Nem Tenerife nem Serra Nevada. Fiel às raízes familiares Rui Costa apresenta-se na Vuelta a Espanha após 15 dias de treino na ilha da Madeira.
Carla Costa, a mulher do campeão do mundo, é natural de São Vicente por isso a família é visita frequente em fim de temporada, mas desta feita a passagem pela pérola do Atlântico foi antecipada.
“A Madeira é um paraíso para treinar, só é pena não ter altitude. Treino pela zona de Paul da Serra que tem várias vertentes e cada uma é diferente: as curtas com pendentes de 8-12 por cento, outras com 15km mais suaves. Ao todo são seis vertentes; num treino de cinco horas posso meter 3500m-4500m de acumulado.”
Acumular muito desnível em pouco tempo
O plano não era correr a Vuelta, mas abordar as clássicas do Canadá antes da Lombardia. Isso implicava parar um mês e Rui Costa sentiu que após o Tour de France tinha pernas para mais uma “grande”.
Uma conversa com o diretor de performance, Aike Visbeek, originou a mudança de planos e pela primeira vez fará duas grandes Voltas na mesma época.
Foi preciso intensificar os treinos; a diversidade de subidas e a rapidez com que se fazem as descidas permitem acumular muito desnível em pouco tempo. Ideal para afinar as pernas.
“No Norte da ilha posso fazer subidas que vão desde 50 minutos a uma hora e um quarto. Apanhei temperaturas de 30-35 graus e humidade sobre os 90 por cento. Torna-se mais desgastante, é fundamental a gestão da hidratação porque vamos sempre a suar. As estradas melhoraram muito, a Madeira está espetacular para treinar.”
Roglic ficou fã e prometeu voltar
As paisagens, o bolo do caco e a poncha. Tudo bons motivos para visitar a ilha que encantaram Primoz Roglic quando lá esteve. Foi Hilário Coelho, mecânico da Jumbo-Visma e cunhado de Rui Costa, que mostrou ao tricampeão da Vuelta a ilha. Roglic ficou fã e prometeu voltar, quem sabe após ganhar a quarta Vuelta, para a qual parte como favorito ao lado do colega Jonas Vingegaard.
Rui Costa considera a Jumbo-Visma “o bloco mais forte e favorita a ganhar. Não vão trabalhar só para um líder, mas jogar com os dois. É uma equipa bem estruturada, está tudo pensado, Roglic pouco correu antes do Giro e ganhou. Voltou em Burgos e apresentou-se bem. Tudo indica que chega a 100 por cento. Vingegaard não precisou de treinar muito após o Tour, a condição certamente está lá. Só que numa grande tudo pode acontecer, domingo já vai chover e podem existir quedas.”
Numa segunda linha de candidatos ao título há uma série de craques. João Almeida e Geraint Thomas são parecidos: sabem correr e gerir bem as energias. Juan Ayuso e Remco Evenepoel são explosivos e numa primeira semana podem estar fortes correndo o risco de quebrar na terceira.
“O João tem demonstrado ser muito regular, dá garantias a uma equipa. Todas as corridas onde entrou – Catalunha, Tirreno e Giro – acabou no pódio e isso tem que lhe dar segurança. Na Vuelta fazer pódio face aos corredores presentes não é fácil, mas termos um português na luta pela geral é um orgulho. Top 5 era positivo, mas todos queremos sempre mais e se ele ficar fora do pódio não vai ficar contente, mas um top 5 seria bom. Ambição tem ele e no ciclismo tem que ser assim: a ambição tem que partir do atleta, não podem ser só o diretor e os colegas a acreditar que é possível.”
O que esperar da Vuelta?
Um pelotão fortíssimo e uma corrida que mantém a essência de ser a “grande” mais montanhosa com nove chegadas em alto.
Para a Intermarché-Wanty a missão é ganhar pelo terceiro ano consecutivo uma etapa. Para mais detalhes do percurso consultem o Guia do TopCycling.
Com os 37 anos agendados para outubro, Rui Costa gostava de ganhar na Vuelta e na primeira semana considera que a fuga teráo pções na 5ª etapa que finaliza em Burriana, na província de Castellón.
“Depois de vir do Tour já espero de tudo. A Vuelta não vai ser muito diferente, a fome de ganhar de todos é a mesma e a velocidade não será tão elevada, mas vai ser difícil entrar numa fuga. Em 2022 fiz o Giro e foi agressivo, mas nada comparado com o Tour deste ano: tentativas de fuga que não pegavam até ao km 70 pelos interesses da geral ou da montanha. Contava que a condição melhorasse e saí bem da última semana, mas o objetivo era ganhar uma etapa.”
“Guardar energias para a parte final da segunda semana“
O 8º lugar na clássica de San Sebastián motivou Rui Costa. A prova basca sempre o fez sofrer ou abandonar, por isso sprintar por um posto de honra renovou a confiança do poveiro.
Para quem leva 15 provas de três semanas nas pernas, “às vezes mais vale estar sereno, guardar energias para a parte final da segunda semana porque aí vai ser preciso ter pernas para entrar na fuga. Quando entras tens que ver em que condições chegas porque o estado em que se entra na fuga dita se estás capacitado para lutar pela etapa. Tens o atleta que andou hora e meia a tentar entrar ou o que andou na roda, arrancou e entrou. Há um ciclismo diferente de há 5-7 anos com 70-80 corredores que podem ganhar e dentro desses há 30-40 muito iguais. As fugas tardam muito em pegar e para fazer diferenças é difícil.”
Sobre o contrato que acaba no final da época ainda nenhuma novidade. Rui Costa encontrou uma estrutura organizada, bons colegas, uma bicicleta competitiva com bons componentes. Uma surpresa positiva à qual gostava de dar continuidade.
O TopCycling agradece a Rui Costa a cedência das fotos.
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