Lidl-Trek vence com monoprato e grupo de Gravel – inovação ou revolução?

Lidl-Trek vence com monoprato e grupo de Gravel – inovação ou revolução?

As clássicas de primavera são conhecidas pelo seu caráter imprevisível. O empedrado irregular, as estradas estreitas e o ritmo infernal colocam ciclistas e equipamento à prova.

Sabendo disto, as equipas do World Tour sabem que qualquer detalhe pode fazer a diferença entre vencer ou ser vítima das circunstâncias, pelo que estão constantemente a tentar melhorar.

Foi tudo isto que levou a Lidl-Trek a fazer uma escolha ousada: abandonar o tradicional sistema de transmissão de dois pratos (2x) e adotar um setup monoprato (1x), mas com o grupo SRAM RED XPLR AXS (grupo desenvolvido para o Gravel).

Créditos: Zac Williams / Lidl-Trek

Ideia nasceu num teste inesperado

Entre as equipas patrocinadas pela Sram, a utilização do monoprato não é novidade mas com este setup sim. Glen Leven, diretor técnico da equipa, pedalava por estradas de gravel no Luxemburgo quando percebeu que as condições eram bastante semelhantes ás do inferno do Norte (Roubaix).

O comportamento da transmissão foi tão convincente que a equipa decidiu aprofundar a ideia e testar a configuração com os seus atletas.

Porquê trocar o 2x pelo 1x?

A lógica por trás desta mudança, segundo a equipa, é simples: menos componentes, menos riscos de falha mecânica. A Paris-Roubaix e o Tour de Flandres já viram corridas decididas por problemas na transmissão. Sem desviador dianteiro, há menos pontos críticos de falha e menos necessidade de mudanças em momentos decisivos.

Créditos: Zac Williams / Lidl-Trek

Para compensar a perda de um segundo prato, os ciclistas da Lidl-Trek utilizam pratos maiores (54 ou 56 dentes) e uma cassete de 13 velocidades 10-46, que lhes dá um alcance de mudanças muito semelhante ao de um sistema 2x.

Créditos: Zac Williams / Lidl-Trek

A Trek Madone, utilizada pela equipa, é uma das poucas bicicletas do pelotão compatíveis com o “Universal Derailleur Hanger (UDH)“, que permite montar este tipo de desviadores diretamente no quadro, sem o tradicional apoio de desviador ou “dropout, reduzindo o risco de mau funcionamento em caso de queda e embate no desviador. Além disso, este sistema permite à equipa misturar componentes de estrada e de BTT sem limitações.

No terreno plano e em alta velocidade – onde as clássicas são decididas – não há qualquer desvantagem. O único senão pode surgir em algumas subidas mais explosivas, onde a escolha de mudanças não é tão “fina” como num sistema tradicional, há maior “gap” ou salto entre alguns carretos.

Testes feitos em janeiro, venceram em março

Segundo a Lidl-Trek, os primeiros testes com Mads Pedersen e Alex Kirsch, realizados em janeiro, foram claros: “nunca mais voltamos ao 2x nas clássicas”, disseram os ciclistas.

A estabilidade do desviador traseiro XPLR mesmo sob carga, a capacidade de trocar mudanças sempre em condições extremas e a confiança extra nesse tipo de terrenos convenceram a equipa.

Créditos: Zac Williams / Lidl-Trek

O teste real aconteceu na estrada. No último domingo, Pedersen venceu a Gent-Wevelgem, depois de atacar a 60 km da meta. Jonathan Milan juntou-se a ele no pódio com um terceiro lugar e, na corrida feminina, Elisa Balsamo foi segunda.

Créditos: TWILA FEDERICA MUZZI / Lidl-Trek

Com os Monumentos à porta, a Lidl-Trek parece ter encontrado um novo caminho para enfrentar as clássicas, mas falta provar nos monumentos, onde a concorrência é diferente.

Será um novo paradigma no ciclismo de estrada?

Para já, não parece haver vantagem na utilização deste tipo de transmissão (1X) em etapas de montanha nas grandes voltas, onde as subidas são muito longas, tem que haver gestão no esforço e nos andamentos por parte dos ciclistas, é mais vantajoso ter proximidade entre o número de dentes dos vários carretos da cassete. Nas clássicas e etapas planas sim, estas equipas estão a criar uma tendência claramente.

Créditos: Zac Williams / Lidl-Trek

Para o utilizador comum, é importante o próprio avaliar o seu estado de forma e ter a noção do tipo de ciclismo que costuma praticar, assim como o terreno por onde costuma pedalar, mas muita gente consegue claramente utilizar este tipo de transmissão, com pratos mais pequenos (por exemplo 50D).

Em 2017 o Topcycling já escrevia sobre esta temática

Embora o monoprato ainda seja raro no pelotão WorldTour, esta não é a primeira vez que a ideia surge no ciclismo profissional de estrada. Já em 2018, algumas equipas começaram a testar transmissões 1x, aliadas à crescente adoção dos travões de disco.

Na altura, o conceito gerou alguma controvérsia e acabou por nunca ser amplamente adotado. (Neste artigo já escrevia sobre este tema: Discos e transmissão 1x no pelotão profissional de estrada em 2018).

Agora, com novas tecnologias e uma abordagem mais estruturada, as equipas equipadas com transmissão SRAM, como a Lidl-Trek ou Visma, podem estar a abrir um caminho que outras equipas acabarão por seguir?

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