Histórica Jumbo-Visma ganha Giro, Tour e Vuelta no mesmo ano. Cimeira no Angliru uniu Roglic e Vingegaard no apoio ao improvável campeão Kuss.
A Vuelta a Espanha termina este domingo em Madrid, cidade de belas esplanadas e frescas cañas. Imaginem Kuss, Roglic e Vingegaard na Plaza Mayor, cañita na mão, a fazer o rescaldo de três semanas de loucos em que a Jumbo-Visma foi virada do avesso.
Numa fuga até ao Observatório de Javalambre um gregário passou a líder e deixou os campeões em segundo plano. Quem acreditou ao sexto dia de prova que Kuss podia ganhar? Eu não.
A história mostra-nos que só há um precedente:
- Em 1957 Gastone Nencini foi 9º na Vuelta, 1º no Giro e 6º no Tour
- Em 2023 Sepp Kuss foi 14º no Giro, 12º no Tour e 1º na Vuelta
A diferença entre Kuss e Nencini? O italiano coincidiu com o fim da era Coppi e correu com Magni, Gaul, Anquetil e Bobet. Corria de peito aberto e era tão elegante a descer que Ernesto Colnago desenhou um quadro customizado com geometria especial para oferecer estabilidade nas descidas e maior rigidez na pedalada.
Estrela é estrela e Nencini teve esse estatuto nas décadas de 50 e 60.
Direção da Jumbo-Visma puxou dos galões
Há vários estilos de gestão que levam ao êxito. No caso da Jumbo-Visma a palavra de ordem foi liberdade: cada um fez a sua corrida. A não intervenção dos diretores permitiu a Vingegaard dominar no Tourmalet e a Roglic ganhar no Anglirú.
A estratégia de ciclismo total fugiu ao controlo da equipa quando Kuss foi atacado pelos colegas no Angliru. O fiel gregário – esteve em 31 das 73 vitórias de Roglic e foi o MVP no triunfo de Vingegaard no Tour – foi atacado pelos líderes. Não foi bonito.
A Jumbo perdeu a Capuchinho Vermelho da Vuelta, passou a ter dois lobos maus e essa imagem é prejudicial para o negócio!
“Kuss, Kuss, Kuss”
Roglic e Vingegaard mostraram o lado ultracompetitivo dos campeões e recordaram que mesmo sendo um desporto de equipa o ciclismo tem uma componente individual.
Kuss nunca foi o número um, Roglic é o novo caníbal e Vingegaard é letal (que o diga Pogacar). Como resolver o problema? A direção da Jumbo-Visma puxou dos galões e transformou uma rotura na harmonia do grupo num triunfo épico de um Kuss que foi “adotado” pelos espanhóis.
“Kuss, Kuss, Kuss” – os aficionados rendidos ao Durango Kid, o esquiador de fundo do Colorado convertido em ciclista de culto na Vuelta. Um atleta que desafiou a lógica da fisiologia do ciclista de elite e levará os gurus do treino a repensar o planeamento das épocas daqui em diante.
A Jumbo-Visma reescreve a história do ciclismo:
- É a primeira equipa a ganhar Giro, Tour e Vuelta na mesma época
- Desde a Kas na Vuelta de 1966 que a mesma equipa não dominava o pódio numa grande Volta
- 1º, 2º e 3º no Tourmalet é inédito
- A última tripla da mesma equipa num dia de alta montanha em grandes Voltas datava de 1980 quando a Miko-Mercier venceu em Bagnères-de-Luchon a 13ª etapa
Vai demorar algum tempo para assimilar tanta estatística.
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