Jonas Vingegaard – Lidar com o peso da camisola amarela

Jonas Vingegaard venceu de forma espetacular e categórica o Tour de France 2022, sendo protagonista naquela que foi uma das melhores competições de ciclismo dos últimos anos em vários aspectos, batendo o favorito e vencedor das ultimas duas edições da corrida, Tadej Pogacar.

O dinamarquês tem somente 25 anos, corre no World Tour desde 2019 (há 3 anos) e depois de vencer o Tour de France, passou de ser um bom ciclista, sobre o qual havia expectativa, a ser uma super estrela do ciclismo mundial e principalmente uma super estrela na Dinamarca, onde foi recebido por milhares de fãs em forma apoteótica após vencer o Tour de France.

Mas aquilo que parece “simples” quando estamos em casa a assistir ao ciclismo e outros desportos de alta competição na TV, tem por detrás muito trabalho, exigência e sacrifícios do foro físico e mental.

Vingegaard ausente após Tour de France

Os organizadores do Volta à Dinamarca esperavam ter Jonas Vingegaard entre os participantes, não só pelo mediatismo que daria à corrida a nível internacional, mas também para que o povo dinamarquês pudesse desfrutar de ver nas estradas do país a sua nova estrela, algo que infelizmente não aconteceu.

Segundo o organizador da prova, gostariam de o ter presente, mas compreende porquê a Jumbo-Visma não autorizou, congratulando-se por ter a presença de outras estrelas como Bernal, Morkov, Soren Kragh Andersen, entre outros.

Questionado sobre a questão, o director da Jumbo-Visma, Frans Maassen, disse à imprensa dinamarquesa:

” Entendo que os fãs queiram ver o Jonas e falei com ele sobre isso. Mas ele teve momentos muito difíceis depois do Tour. Gostaríamos de apresentá-lo nesta corrida, mas também devemos entender que foi difícil para ele vencer o Tour, com tudo o que isso implica.”

…se ele se tivesse apresentado lá era suposto vencer de novo, certo? Não é assim tão fácil depois de tanto tempo sob pressão, diz o holandês.

Além de não estar presente na volta do seu país, também já foi anunciado pelo seleccionador dinamarquês que não estará presente nos campeonatos do mundo.

“É uma pena. Consultámos a Jumbo-Visma e o próprio, mas eles acham que é melhor descansar e nós respeitamos isso. É preciso estar preparado física e mentalmente”,

explicou o técnico Anders Lund.

O seleccionador dinamarquês revelou 4 nomes: Magnus Cort, Soren Kragh Andersen, Jakob Fuglsang e Mattias Skjelmose Jensen. 

A exigência física e mental do ciclismo

Exemplos recentes como os de Tom Dumoulin (vencedor de um Giro de Itália) que, apesar de ter feito mais uma tentativa de regresso ao ciclismo após uma pausa, acabou mesmo por abandonar a modalidade, ou Marcel Kittel que também abandonou o ciclismo profissional depois do sucesso no Tour de France ainda jovem, mostram não só como é duro chegar ao estrelato no ciclismo, mas também como é duro manter-se.

Brian Holm, director na Quick Step Alpha Vynil, deixou a sua opinião sobre a ausência de Vingegaard na Dinamarca:

Creio que ele teve a sua cota de stress “pós-traumático” por ter tantas pessoas em seu redor de manhã à noite. É mais difícil do que a maioria das pessoas pensa.

… conheço várias pessoas que passam um ano terrível depois de uma vitória dessas, porque não estão com a cabeça no lugar.

De acordo com Brian Holm, o que pode permitir voltar a vencer um Tour é saber gerir estas situações, saber falar e estar presente após o desgaste causado pelas vitórias.

Os fãs de Jonas Vingegaard e do ciclismo gostariam de o ter já de volta, a sua ausência parece ter gerado algum “ruído” na imprensa, levando a querer que algo de errado se podia passar, será normal?

Sentados no sofá em casa gostamos do espetáculo, mas todos estes episódios revelam como há atletas que são excepcionais, fora do comum, e embora não vençam sempre, a força física e mental com que continuam vai além do comum “mortal”.

Para ter o desempenho que apresentam nas provas World Tour têm que treinar “como animais” (utilizo a expressão para figurar a forma bruta e insana do esforço a que são submetidos), para aguentar o sofrimento em competição têm que sofrer muito em treino, antes da mesma, e depois passam grande parte da sua vida fora de casa, entre viagens e estágios com a equipa.

Todos estes factores são duros para qualquer ser humano e nem todos lidam com isto de forma igual, pelo que é importante as equipas saberem gerir não só a forma física dos atletas, mas também a componente mental, que cada vez é mais importante nas equipas de topo.

Exemplos como os de Primoz Roglic, com várias tentativas no Tour de France não conseguidas por sofrer quedas e lesões, mas continua, Tadej Pogacar vence o Tour de France, mas compete nas clássicas de 1 dia e volta a vencer, Wout Van Aert começa a vencer no inverno no Ciclocrosse, vence clássicas na primavera e ainda tem desempenhos como nunca visto no Tour de France em Julho, Chris Froome que após vencer 4 Tour de France e sofrer uma lesão gravíssima continua a correr e a perseguir objectivos, Egan Bernal, ou Fábio Jakobsen são mais alguns exemplos entre outros. Todos eles são raridades no mundo do desporto.

Para já a única prova na qual se espera ver Jonas Vingegaard é na clássica Il Lombardia, até lá, e apesar dos vários convites (inclusive o da volta do seu próprio país) a Jumbo-Visma manda descansar.

Termino com a velha questão que me colocam quando se vê um ciclista vencer muitas vezes, ou durante muito tempo, para responder antecipadamente a alguns comentários após leitura do artigo; as substâncias ilícitas são o que permite desempenhos excepcionais?

Se existem Cristiano Ronaldo, Messi, Rafael Nadal, Novak Djokovic, existiram Michael Phelps, Michael Jordan, Kobe Bryant, Usain Bolt, entre outros excepcionais do mundo do desporto, porque não os pode haver no ciclismo sem dúvidas e especulações? São atletas excepcionais como outros.

Por: Luís Beltrão

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