França não ganha o Tour de France desde 1985 e os Jogos Olímpicos desde 1996. Juliette Labous, líder da dsm e da seleção quer mudar isso.
Juliette Labous é a atleta que há mais tempo está ligada à estrutura feminina da dsm-firmenich-PostNL e em 2023 carregou a equipa junto com a sprinter Charlotte Kool.
Foi uma época de transição: a dsm vinha de perder a melhor sprinter do mundo, Lorena Wiebes, e a promissora Lianne Lippert. Apostando nas qualidades da francesa para as provas por etapas e na velocidade da neerlandesa terminaram o ano com 19 vitórias, pódio no Giro e na 7ª posição do ranking.
A época não lhe permitiu levantar os braços, mas elevou-a ao reduzido grupo das melhores do mundo.
“Em 2022 venci em Burgos, mas não estava lá toda a gente. Também no Giro, mas tinha sofrido com o calor no primeiro dia e meti-me em fuga nessa etapa. Fiquei contente com as vitórias, mas o 2º lugar no Giro de 2023 e ter feito top 5 no Tour e na Vuelta mostra que estou mais forte. Estou mais estável, confiante e evoluí fisicamente.”
Juliette Labous
Tour de France termina no Alpe d’Huez
Juliette Labous nasceu junto às montanhas Jura, no departamento de Doubs, que partilha fronteira com a Suíça. Fala rápido, quase a sprintar, embora seja a subir que melhor se expressa como ciclista.
Para uma francesa não há prova mais importante do que o Tour de France Femmes. A corredora da dsm já foi 4ª e 5ª; será ela a acabar com o trauma nacional que dura desde que Bernard Hinault venceu o Tour de 1985?
“Espero que tenhamos um vencedor no pelotão masculino e uma vencedora no pelotão feminino. Não importa. Temos boas possibilidades, eu não sou a única francesa que pode andar bem no Tour. Seria bom. Assinava já um pódio no Tour.”
Este ano o Tour de France termina no Alpe d’Huez – via col du Glandon. Na véspera há final em Le Grand Bornand – dois dias e dois finais em alto nos Alpes.
Labous admite que a única deceção de 2023 foi não ter chegado ao pódio no Tour. Ficou a 49 segundos de Kasia Niewiadoma, uma diferença feita logo na 1ª etapa onde a francesa voltou a sofrer com o calor.
“A Demi Vollering estava mais forte em todos os aspetos. No Giro fui mais forte do que a [Gaia] Realini e no Tour senti-me muito igual à Kasia, mas no Tourmalet ela foi mais inteligente porque eu não segui os movimentos no col d’Aspin e não pude fazer a minha subida. Por agora a mais forte é a Demi, espero estar mais próxima do nível dela e lutar por mais vitórias este ano.”
Juliette Labous é ambiciosa
Se houve uma surpresa no Tour foi Lotte Kopecky. A belga da SD Works, classicómana por natureza, deixou toda a gente de boca aberta quando resistiu no Tourmalet e fechou 2ª atrás da colega Vollering.
Para Labous foi um desfecho inesperado.
“Pensávamos que a Kopecky ia perder a amarela na última etapa na alta montanha. Foi uma etapa curta, de três horas, a subida não foi feita full gas, foi um ritmo constante que favorece corredoras como ela, mas andar tão bem ninguém esperava. O Tour deste ano está um nível acima em termos de etapas montanhosas, as duas últimas são muito duras para ela, no papel, mas depois do que fez já não sei. Temos que a ter em consideração.”
Todos os atletas se têm preparado para um ano longo devido aos Jogos Olímpicos. O Tour feminino só partirá de Roterdão (Países Baixos) no dia seguinte à conclusão dos Jogos, a 12 de agosto.
Grandes objetivos requerem uma planificação perfeita e Juliette Labous é ambiciosa. O pico de forma está apontado para a sequência Tour/Jogos, mas a francesa quer discutir o Giro e não abdica de correr a Vuelta.
Fazer história como Connie Carpenter-Phinney
A única francesa medalhada em Jogos Olímpicos no ciclismo de estrada é Jeannie Longo. Em Atlanta 1996 ganhou a prova de fundo e foi 2ª no contrarrelógio; em Sydney 2000 foi 3ª no contrarrelógio.
Na curta história olímpica das mulheres ciclistas só Connie Carpenter-Phinney se sagrou campeã em casa, em Los Angeles 1984, na estreia do ciclismo de estrada feminino em Jogos Olímpicos.
Juliette Labous quer fazer história como Connie Carpenter-Phinney.
“Ter os Jogos Olímpicos em França é grande. Há pressão, mas é uma boa sensação. Fiz o percurso do contrarrelógio, o da prova de estrada só a parte nos arredores de Paris, estradas que conheço de estagiar com a seleção em Saint Quentin-en-Yvelines. Não é um terreno fácil, a estrada é ondulada e com equipas com um máximo de quatro elementos pode ser difícil controlar. O circuito final é explosivo, tem pavê e é técnico. Pode ser um final aberto. Por vezes não me têm em consideração para estes dias, mas fiz top 10 na Flandres e nos Europeus, penso que posso ler bem a corrida e quando estou em forma tenho um bom punch.”
A temporada de 2024 é mais um teste à maturidade do ciclismo feminino. A chegada do Tour de France, há dois anos, ajudou as mulheres a lidarem com uma imprensa exigente e que deu visibilidade a corredoras outrora desconhecidas do público.
Chegou o momento de ver que atletas aprenderam a lidar com a pressão, as expetativas e um calendário intenso, já que muito do êxito da época depende da força mental para encarar tão importantes desafios.