Annemiek van Vleuten ganhou seis “grandes” consecutivas até que apareceu Demi Vollering. O ciclismo feminino tem uma nova rainha.
Não há no regulamento da UCI a referência a “grandes Voltas” femeninas. Por relevância histórica e envergadura dos eventos as voltas com maior importância na atualidade são: Giro (nove etapas), Tour (oito etapas) e Vuelta (sete etapas).
Annemiek van Vleuten, 40 anos, iniciou na Vuelta de 2021 uma sequência de seis vitórias consecutivas em “grandes”! Em 2022 fez a tripla e preparava-se para repetir a dose no último ano da carreira… até que foi travada.
Demi Vollering, 26 anos, chegou ao Tour de France com apenas duas corridas por etapas no palmares: Burgos e País Basco. Recrutada à Parkhotel Valkenburg em 2021, evoluiu na sombra de Anna van der Breggen que preparou a aluna para a sucessão na SD Works.
Em 2021 ganhou a Liège com o beneplácito da “chefe” e em contrapartida trabalhou para dar a Van der Breggen a sétima Flèche Wallone e o terceiro Giro. Quando a ex-ciclista passou à direção desportiva Vollering assumiu a liderança na estrada, mas perdeu o Tour de 2022 para Van Vleuten por 3:48 (vencendo nas montanhas de Le Markstein e Super Planche des Belles Filles).
Ponto de viragem
No duelo Van Vleuten-Vollering o ponto de viragem deu-se na Vuelta deste ano. Uma paragem imprudente da SD Works e um ataque da Movistar numa estrada perdida no mapa marcaram a geral.
Por 0:09 Vollering perdeu a Vuelta, mas foi superior à rival nas etapas de montanha ganhando no Mirador de Peñas Llamas e nos Lagos de Covadonga. Foi uma vitória da velha raposa Van Vleuten.
A passagem de testemunho chegou no Tour. Vollering subiu os 17km de Tourmalet em 53:29 (média de 18,9km/h) – por comparação Vingegaard e Pogacar fizeram o Tourmalet em 45:11 (média de 22,3km/h) no passado Tour. A neerlandesa meteu 2:00 às rivais diretas e acabou com a luta pela camisola amarela.
Foi um tempo canhão da atleta nascida em Pijnacker, a meio caminho entre Roterdão e Haia.
A progressão de Vollering é fenomenal: em 2018 patinava competitivamente e trabalhava com os pais no negócio das flores e da jardinagem; cinco anos depois é a melhor ciclista do mundo já que além do Tour fez a tripla das Ardenas e na presente temporada lidera o ranking mundial graças a 14 vitórias!
Tourmalet – Um momento simbólico
O final de etapa do Tourmalet foi um momento simbólico para o ciclismo feminino. Nos anos 90 e até 2007 – com muitas intermitências organizativas pelo meio – a Grande Boucle utilizou o Tourmalet como passagem a caminho do Aspin ou como final de etapa.
Fabiana Luperini ganhou duas vezes na subida que o Tour estreou em 1910. A italiana foi das melhores em plena era do Pirata e pelo estilo escalador ficou conhecida como “Pantanina” – acabou a carreira com três Tour e cinco Giro; recentemente fez história com a Corratec tornando-se a primeira italiana a dirigir uma equipa masculina na Volta italiana.
Hoje em dia está tudo mais estruturado. O calendário cresce de época para época, as “grandes” geram audiências e o público começa a reconhecer as ciclistas.
Mesmo no meio de um denso nevoeiro pudemos ver o final da era Van Vleuten e o início da era Vollering. Que a passagem de testemunho tenha sido no Tourmalet, a montanha que mais vezes se subiu no Tour masculino, é um sinal dos tempos.
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