Pois é, a Estrada Nacional 2 foi pedalada em 23H. 32m., 710km praticamente sem parar. Já partilhámos aqui outras aventuras deste género, mas não podíamos deixar de partilhar esta pelas palavras de um dos protagonistas, Nuno Caeiro.
Nacional 2 – O sonho que se tornou realidade, por Nuno Caeiro
Em 2016 desafiei dois amigos para percorremos a mítica estrada nacional 2 de bicicleta de estrada. Inicialmente pensamos fazer o percurso durante 3 ou 2 dias, contudo e porque esta possibilidade está ao alcance de todos, desafiei fazer o percurso “Non Stop” ou com o mínimo de paragens.
O Rui Soeiro aceitou de imediato a ideia, e a coisa lá foi ganhando forma, só faltava convencer o Luís Sequeira a embarcar na doidice. Infelizmente em 2017 devido a uma tragédia o Rui Soeiro faleceu, a ideia acabou por desvanecer, mas ficou o sonho por concretizar na minha cabeça.

A oportunidade
Este ano em casa em teletrabalho devido à pandemia, ganhei o tempo que despendia em deslocações para o trabalho, acabando por conseguir uma maior disponibilidade para treinar 20 horas semanais, coisa impensável nos tempos ditos normais.

Posto isto pensei, tem que ser este ano, pois não voltaria a ter possivelmente outra oportunidade de conseguir treinar desta forma para um desafio tão exigente como o qual me estava a propor.
Questionei o Vítor Gamito, meu treinador, o que achava da ideia e se seria exequível fazer a estrada nacional 2 (N2) de seguida e e em menos de 24H., ao que respondeu que sim.
Começámos por pensar na altura ideal para realizar o desafio e iniciar os treinos específicos, uma vez que já estávamos em Maio e porque até aqui treinava somente para manter a forma. Embora inicialmente programasse Agosto, acabou por ficar decidido fazer no final de Setembro.
O treino
Apesar de pedalar regularmente e manter a forma, tinha que haver preparação para um desafio destes, e essa preparação física avançava a bom nível, cada vez mais especifica, series e mais series, treinos de montanha e os treinos longos de “chá de selim”, mas o período de férias acabou por interromper este ciclo (a família está primeiro).

Entretanto retomei, acumulando muitas horas, treinos longos até à semana antecedente, na qual os treinos quase foram inexistentes, somente pequenas voltas de recuperação.
O parceiro de nível superior
Entretanto fiquei a saber que o José Silva também planeava fazer a estrada nacional 2 no mês de Outubro, pelo que, em conversa combinamos fazer juntos.

Decidimos o dia 23 de Setembro para o desafio, o que permitiu continuar a acumular horas de treino, mas já bem próximo da data, no último treino sofro uma queda bastante feia que quase deitou todo o trabalho por terra.
A semana antecedente à partida foi uma loucura, não havia horas de treino mas havia toda a logística e horários a planear, como descrevo a seguir.
Logística e alimentação
A alimentação, suplementação, luzes, mecânica, etc., tinham que ser organizados de forma prática e simplificada, para que o staff (amigos) da equipa de apoio pudessem fazer o seu trabalho mais facilmente.


Para este desafio planei a alimentação de forma a que até às 13 horas do esforço fosse o mais natural possível, pois isto de comer durante muitas horas apenas barras e géis daria mau resultado.
Assim sendo, levei uma grande diversidade de alimentos sólidos: aletria, frutos secos, bolos secos, sandes de marmelada, sandes de nutella, sandes de presunto, batatas-doces, farinha torrada.

Nos líquidos tive também alguma variedade: coca-colas, águas com gás, de 3H. em 3H. tinha programado uma mistura de nestun de arroz com “total whey” ou “fast-recovery”, para ir bebendo ao longo do desafio. Acabei por optar por uma mistura de Golddrink Premiun misturado com HC (bebida à base de hidratos de carbono da Gold Nutrition), e outro bidon só com água para ajudar a empurrar os alimentos para baixo.

As barras e os géis pensados somente para depois das 13H, acabou por não acontecer, continuei até ao final mantendo a alimentação o mais natural possível e usei os géis somente quando entramos no início da Serra do Caldeirão.

O início da acção
Chegámos a Chaves no dia anterior ao da partida. Acordámos nesse dia pelas as 04:30, para comer, vestir e arrancar da pensão até ao KM0 a cerca de 300m. Eram quase 06:00, mas ainda dava tempo para as fotos da praxe e estava na hora.

Partimos à hora certa e reparámos logo nas primeiras pedaladas que o vento não ia estar a ajudar, estava contra e as pernas ainda não tinham acordado, sentimos também frio no início e o carro atrás de nós a ajudar com as luzes.
Bom ritmo até Viseu
Os km. foram passando sempre a bom ritmo, fomos passando pelas localidades que a N2 cruza, até Viseu, onde pensámos que talvez fosse melhor “levantar o pé” porque estávamos com valores de potência um pouco elevados para as horas que ainda faltavam.


Por um lado trazíamos alguma margem, por outro não nos podíamos “deixar dormir” porque ainda faltavam as longas subidas da zona de Gois, Castanheira de Pêra e Vila de Rei.

Uma região muito bonita, mas as longas subidas, o calor que se sentia e o desgaste acumulado começou a dar sinais de quebra nos dois, o Zé puxava praticamente em todas as subidas, eu puxava em algumas partes a subir para ele aliviar e depois as descidas eram comigo.


Uma única paragem longa
Chegámos a Abrantes, o local que estabelecemos antecipadamente para a paragem técnica mais longa, para se trocar de roupa, comer algo mais consistente, mas como estávamos a chegar praticamente 1 hora antes daquilo que tínhamos previsto, decidimos fazer a mesma em Ponte de Sor. Tirando esta paragem, só parámos para as necessidades fisiológicas.



Fundamental ter equipa de apoio
Rapidamente chegámos a Ponte de Sor, ainda era de dia e deu para tudo nas calmas, mas aqui a equipa de apoio foi fundamental, tudo estava pronto e todos sabiam bem o que fazer, dando-nos tempo para nos concentrarmos somente no essencial, trocar de roupa, comer e necessidades fisiológicas. Quando voltámos a arrancar já a noite caída.


A minha equipa de apoio foi composta pelo Jose Carlos, Carlos Calado e Ricardo “Kayo”, enquanto que para ajudar o José Silva foi o Luís Ferreira.

Ajudavam nos abastecimentos em movimento, auxílio de luz com o carro, nesta paragem longa montaram as luzes, colocaram óleo na corrente, montaram o abastecimento sólido mais consistente, tinham já a roupa e tudo pronto para chegarmos e trocarmos.


Zona centro, rumo ao sul
De realçar as rectas até Montargil, que pareciam não ter fim, a subida no Torrão que já conhecida do prémio do 25 Abril, direcção a Ferreira do Alentejo onde a estrada em mau estado é uma característica.


A zona de Aljustrel a Almodôvar foi rápido, longas retas mas estrada complicada, mesmo com os carros de apoio a ajudar com a luz foi uma sorte não acontecer um percalço.

O objectivo conseguido
Finalmente entramos na Serra do Caldeirão, zona que conheço bem, pela dificuldade até se chegar ao Barranco do Velho, depois disso era sempre a descer até Faro.

Chegada a Faro, concluído o desafio e a aventura que havia começado no dia anterior.



Texto: Nuno Caeiro
Arranjo do texto e paginação: Luís Beltrão
Fotografia: Equipa de apoio do Nuno Caeiro e José Silva
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