João Almeida é o primeiro ciclista português a fechar as três grandes Voltas no top 5.
Nice aguarda pela consagração de Tadej Pogacar e na sombra do campeão do Tour de France esteve, esta e estará João Almeida.
“O Tour é o Tour”, diz o pelotão. Por isso ainda hoje recordamos os pódios daqueles que nunca vimos dar uma pedalada.
As vitórias de Joaquim Agostinho, o espírito pioneiro de Alves Barbosa, a camisola amarela de Acácio da Silva, as três etapas de Rui Costa.
Se houvesse um panteão nacional do desporto João Almeida já lá estava, mas o Tour de France permitiu-lhe consolidar uma carreira que ainda vai a meio.
Aos 25 anos – faz 26 em agosto – melhorou o 5º lugar de José Azevedo (2004). Nem Agostinho fez melhor na estreia, em 1969, já que foi 8º na geral (embora com duas etapas ganhas).
Valeu a pena esperar
Foi preciso esperar 20 anos para voltar a ver um português entre os melhores do Tour de France.
Valeu João Almeida! Valeu a pena esperar e valeu pela forma como o 4º lugar foi conquistado. Só falta defendê-lo no contrarrelógio na riviera francesa.
Há quem opine que os fins justificam os meios. Eu opino que o trajeto é tão importante como o resultado.
Ser o primeiro dos “normais”, atrás de três campeões de grandes Voltas e trabalhando para o melhor corredor que o mundo viu em muitas décadas… Chapeau!
Um grande reserva de 1997
Permitam-me recuar a janeiro de 2018 e à primeira entrevista que fiz ao João Almeida.
Era sub-23 de segundo ano e vinha de uma época com vitórias prometedoras em Turquia, Ucrânia e Itália. Senti algo de especial num atleta que acabava de chegar à Axeon. Discurso fluido, humildade e a cabeça no sítio.
“Se fosse um vinho poderíamos classificá-lo como uma colheita capaz de produzir um grande reserva, que há 19 anos espera o melhor momento para ser aberto.”
Escrevi o que pensava porque senti que o futuro prometia.
Não percebo nada de vinhos, Axel Merckx sim. Foi ele o sommeiller que decantou o talento do rapaz de A dos Francos.
É um privilégio abrir uma garrafa grande reserva. O ritual pede um momento de instrospeção onde fechamos os olhos e recordamos todo o processo.
Sabiam que nem João Almeida se via corredor de três semanas? Era nas clássicas e no contrarrelógio que se sentia confortável aos 20 anos.
“Vejo-me com capacidade para subir, mas sei que tenho que trabalhar este ponto. Tento-me aplicar na subida porque o demais vem por acréscimo. Dizem que tenho um toque ganhador, mas o que gosto é do contrarrelógio porque sou eu e a bicicleta e normalmente ganha o mais forte.”
O talento estava lá e seis épocas depois deverá confirmar o que nenhum português jamais conseguiu: fechar no top 5 Giro (3º e 4º), Tour (4º à espera da etapa final) e Vuelta (5º).
Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard e Remco Evenepoel serão os dominadores das “grandes” num futuro próximo.
É difícil pedir mais a João Almeida, mas sonhar é grátis e há motivos para pensar que este é um atleta em pleno auge.
Sem grande risco afirmo que o melhor ainda está por chegar. Quem sabe já na Vuelta que parte de Lisboa e onde se espera um banho de massas para a Pantera de A dos Francos.