Um Português pelo Mundo, a viajar de Bicicleta claro

Um Português pelo Mundo, a viajar de Bicicleta claro

André Batista é um jovem português residente na Austrália que tem como hobbie fazer longas rotas de bicicleta, em autonomia.

A sua última aventura foi viajar entre Madrid e Lisboa como sempre o faz, em autonomia, com a sua bagagem e o seu amigo “Steve” que viaja sempre “à pendura”!

Deixamos-te o relato feito pelo próprio André desta longa rota de 700 km’s em 4 dias, com as suas belezas e dificuldades do que é viajar de bicicleta sozinho e em autonomia.

” Pedalar de Madrid a Lisboa foi sempre algo que gostaria de fazer um dia. Esse dia chegou em Agosto de 2017, quando decidi visitar Portugal para ver a família e ser operado ao joelho. Vindo da Austrália, decidi aterrar em Madrid com a minha bicicleta e pedalar os 700km que separam estas duas capitais.

 

Nas minhas pesquisas sobre rotas apercebi-me de que esta rota estava muito associada a uma prova de bicicleta de montanha que existe todos os anos na ligação das duas cidades, mas a minha rota teria que ser feita de bicicleta de estrada.

Plano:

O plano inicial era simples, aterrar no Domingo à noite, dar uma volta pequena na Segunda-feira por Madrid para ver a cidade e livrar-me do Jetlag, dormir mais uma noite em Madrid e arrancar na madrugada de Terça-feira para Lisboa, fazendo por dia 220km durante 3 dias.

Bike:

Para esta viagem, decidi usar a minha bicicleta de estrada, “Polygon Helios A8X”, quadro “aero” de carbono, Shimano Ultegra Di2 (53-36 pedaleira e 25-11 cassete) e rodas de alto perfil. Como planeava dormir em motéis e AirBnb, levava muito pouco equipamento comigo, para manter a bike leve e rápida.

Equipamento e material

Na bagageira “Apidura Saddle Pack” no espigão de selim:

Ferramenta – 2 câmaras de ar, kit de remendos, bomba de ar, kit multi-ferramenta, dropout sobresselente, babo de travão sobresselente, suporte de telefone e cadeado para bicicleta.

Roupa – casaco de chuva, pernitos, luvas, manguitos, calções, T-shirt e camisola com manga.

Estojo de higiene pessoal – que além do normal ainda tinha creme chamois para calções, protector solar e anti-inflamatório.

Na bagageira “Apidura Road Frame Pack”:

Power bank, cabos de carga diversos, isqueiro, canivete, passaporte e alimentação de reserva.

Na bagageira “Apidura Top Tube Pack”:

Alimentação com açucares rápidos, como géis e barras nutritivas.

Chegada ao Aeroporto de Madrid – “jetlag” e outros imprevistos

Aterro em Madrid às 10 da noite e rapidamente me dirijo para a praça de táxis do aeroporto em direcção ao “Airbnb” que já tinha reservado para a noite. O problema surge quando reparo que não é domingo, mas sim Sábado. Provavelmente culpa da super longa escala no aeroporto da China que me trocou as voltas e fez acreditar que só chegaria a Madrid no Domingo.

Horários da viagem de avião escalas: 02:00 em Shangai; 04:00 em Sydney;  19:00 em Madrid.

Depois de conseguir arranjar um “AirBnb” para ficar a noite, comecei a olhar para a previsão meteorológica e o que me esperava nesta viagem. Essencialmente, uma tempestade enorme estava a caminho de Madrid e iria começar no Domingo por volta da hora de almoço e não ia desaparecer por outros 3 dias.

Além de fazer companhia, o Steve ajuda noutras tarefas como montar a bicicleta.

Decidi que os planos tinham que alterar de modo a evitar a tempestade. Dormi 2 ou 3 horas (“jetlag” é sempre complicado), comecei a montar a bicicleta para partir de Madrid o mais cedo possível e tentar evitar a tempestade que se aproximava.

Dia 1 – Madrid > Piedralves (alteração de planos)

Depois de montar a bicicleta, comer algo e tratar de arranjar um cartão SIM para me manter contactável, decidi arrancar. Ainda visivelmente cansado e com os horários todos trocados, estava com a perfeita noção de que tinha começado esta viagem 2 dias antes do planeado e que podia fazer distancias mais curtas por dia, fazendo 4 ou mesmo 5 dias em vez dos planeados 3 dias.

Este primeiro dia foi bastante duro, com vento, chuva, montanhas e cansaço do “jetlag”. Perto dos 100 km’s., tive um furo e demorei uns 30 minutos para substituir a câmara de ar, tal era a fatiga e falta de concentração.

Decidi ai procurar pelo motel mais próximo e terminar o dia #1. Os últimos 30/40 km para o motel foram feitos a passo de caracol mas finalmente cheguei ao motel, cansado e pronto para dormir.

Dia 2 – Piedralves > Casas de Cáceres (240 km’s)

Acordei fresco e animado para pedalar. Este ia ser um dia longo na bike, pois queria tentar pedalar o máximo possível e tentar fazer os 3 dias planeados inicialmente para a viagem.

Os primeiros 140km foram bastante rápidos, com boa disposição e finalmente a apreciar as “férias”, mas por volta das 3 da tarde, a temperatura aumentou para 38 graus numa zona bastante árida, montanhosa e sem aldeias pelo caminho para reabastecer.

Depois de descansar na única sombra que vi, decidi arrancar sem grandes pressas e subir uma das piores subidas da viagem. Quando cheguei ao topo, olhei para o mapa, para a distancia entre cidades e hora do dia. Chegar a Cáceres parecia possível. Tinha agora um objectivo em mente.

Cáceres em vista mas com nuvens negras de chuva e relâmpagos a perseguir-me, fiz o que podia para pedalar o mais rápido possível e fugir à chuva. Nos últimos 2km, a chuva apanhou-me e levei uma molha enorme às portas de Cáceres. Dia 2 completo com 240km pedalados. Os próximos 2 dias seriam mais descontraídos depois deste tareão.

Dia 3 – Casas de Cáceres (ESP) > Ponte de Sôr (POR)

O objectivo para o dia 3 era passar a fronteira para Portugal e possivelmente ficar por Castelo de Vide.

A volta começou lenta e sem muita energia nas pernas. A pedalar por zonas bastante áridas e com muito poucas cidades pelo caminho, a única coisa que me motivava era a fronteira com Portugal cada vez mais perto.

Por volta da hora de almoço, passei a fronteira e um sentimento de “meia-conquista” encheu-me de força e motivação para puxar mais forte nos pedais. Depois de um almoço bem Português e umas combinações com um amigo, tinha agora como objectivo Ponte de Sôr, no que ia ser outro dia de 200km.

Algo que me apanhou de surpresa quando atravessei a fronteira foi o espirito de partilha da estrada por parte dos condutores. Em Espanha, todas as estradas tinham berma e todos os carros me davam mais de 1 metro de passagem. Agora em Portugal, berma inexistente na maioria das estradas e os condutores a fazerem “o jogo” da razia ao ciclista.

Com algumas montanhas pelo caminho, alguma chuva, bastante calor e estradas super rápidas, finalmente cheguei a Ponte de Sôr. Estava agora a uns 150km de Lisboa e tinha planos para encontrar o meu pai a meio caminho.

Dia 4 Ponte de Sôr > Lisboa

Este ultimo dia parecia ser o mais fácil de toda a viagem, com estradas bastante planas e a motivação extra de ver a familia e terminar a viagem.

Combinei com o meu pai que íamos começar ao mesmo tempo, ele em Lisboa, eu em Ponte de Sôr, encontravamos-nos a meio caminho e pedalávamos o resto da viagem juntos, pai e filho.

Perto do local de encontro, passo por uma pequena aldeia chamada Azervadinha. Até aqui, as estradas tinham sido planas, rápidas e de boa qualidade. Em Azervadinha, encontrei 2km de pedra de calçada tão brutal que literalmente me obrigou a sair da estrada e pedalar no passeio super estreito, tal era o tamanho da calçada e os espaços entre pedras.

Perto de 70km feitos, avisto um ciclista na direcção oposta. O meu pai encontrou-me no “meio” de Portugal. Depois de parar por uns minutos e dizer “olá” pela primeira vez em alguns anos, arrancamos em direcção a Lisboa a fazer médias acima de 30km/h com algum vento de frente.

Rapidamente chegámos a Vila Franca, onde parámos para almoçar. Os últimos 20/30km foram em cidade, carros por todo o lado, rotundas e sinais de transito. Naquele momento, não me importou um chavo. Madrid – Lisboa estava praticamente feito em 4 dias, combatendo o cansaço do “Jetlag”, muito calor, chuva e montanhas.

Chegámos ao Terreiro do Paço por volta das 4 da tarde, a meta final para esta viagem, com a familia à minha espera com bandeiras, posters, abraços e beijinhos.

Esta viagem foi bastante especial para mim e apesar do cansaço, após terminar comecei logo a magicar “qual é a próxima viagem?”.”

Podes aceder às rotas dos vários dias feitas pelo André, através dos links do Strava que o próprio nos deixou.

Strava:

https://www.strava.com/activities/1155040115

https://www.strava.com/activities/1157046225

https://www.strava.com/activities/1158300934

https://www.strava.com/activities/1159934649

 

Podes ver mais algumas viagens e aventuras do André Batista no seu Website:

CYCLING GRAND TOUR

Brevemente poderemos passar-te aqui mais alguma dessas viagens.

 

Luís Beltrão

Mr.B.

 

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