Tiago Machado – As histórias de uma carreira notável

Tiago Machado – As histórias de uma carreira notável

Tiago Machado, aos 37 anos decidiu por um ponto final na sua carreira como ciclista profissional. Em 18 temporadas não faltam histórias por contar com início e fim na atual “Rádio Popular- Paredes- Boavista”. Fala-nos da sua ida para o estrangeiro ou de momentos como o Tour de 2014 e dá-nos as suas perspetivas para o futuro.

O início – Ano de 2004

No ano de 2005, um jovem corredor de Vila Nova de Famalicão ingressava no Carvalhelhos-Boavista, naquele que foi o princípio da história:

“Num almoço de convívio, fizeram-me uma espécie de praxe, que era aquilo a que se chama, fazer uma barrela, que é tirar a roupa a toda a gente e deixá-los só em boxers. E eu fui uma das vítimas e não foi fácil de domar! Eu dava pontapés a tudo o que se aproximava e até houve um mecânico que levou um pontapé com tanta força no peito, que se sentiu um bocado mal! Depois acabaram por levar a deles avante e acabei mesmo por ser praxado! ”

A passagem para o ciclismo internacional

“Foi uma negociação muito rápida! Já havia “um namoro” por parte da Astana. No Algarve fiz um bom contrarrelógio, bati-me de igual para igual com Kloden e Cancellara, entre outros e começaram a existir as primeiras abordagens.

Fotografia: Facebook Tiago Machado

Já nos anos anteriores a Caisse d’Epargne veio à Volta a Portugal e Eusebio Unzué disse publicamente que tinha interesse em que eu fosse para a equipa. Depois quando surgiu a notícia que iam fazer uma nova equipa com Armstrong , o Paulinho ligou-me a perguntar se tinha interesse em ir para a equipa. E a partir daí a negociação foi muito rápida. ”

RadioShack – A melhor equipa por onde passou

“A primeira equipa era qualquer coisa de absurdo! Kloden, Horner, Armstrong, Popovych, Rubiera, o próprio Paulinho, era uma equipa fortíssima! Ainda nos dias de hoje, fomos a equipa que ganhou mais provas por etapas no mesmo ano. Justificávamos bem o orçamento!”

Fotografia: Facebook Tiago Machado

Etapas 9 e 10 da Volta à França 2014 – Dois dias, duas faces

A etapa nove da Volta a França de 2014, vencida com uma exibição fantástica de Tony Martin, levou Tiago Machado à terceira posição da geral individual. Já no dia seguinte, uma queda aparatosa, fez com que o ciclista português chegasse fora de controlo. Mas o seu espírito irreverente e lutador que o fez terminar a etapa, valeu-lhe uma repescagem por parte dos comissários, que lhe permitiu seguir em prova:

“Fiquei frustrado. Passei de terceiro para ser repescado. Não consegui provar que estava num bom momento de forma. Mas há que ver sempre o lado positivo. Era bem pior se tivesse partido um braço e não pudesse seguir em prova. Quando surgiam as adversidades tentava sempre arranjar uma maneira para dar a volta por cima. Uma pessoa cai sete vezes e levanta-se oito!”

O regresso a Portugal

“Tinha oportunidade de correr lá fora ao mais alto nível. Só que psicologicamente já não dava e financeiramente deixou de o compensar. A partir desse momento eu e a minha família optamos por regressar e ainda bem que assim foi, porque já estava mais que na altura.”

Fotografia: Facebook Tiago Machado

O reconhecimento e admiração na sua “última dança”

“Houveram organizações que eu, não participando tanto, tiveram esse respeito e esse carinho. Preferiam homenagear a prata da casa do que aqueles que veem de fora. Aquelas que são as provas “mais bairristas” se calhar são as que eu me identifico mais.

Fotografia: João Calado – Podium Events

O respeito que eu tenho pelas corridas e que as corridas têm por mim, é visível aos olhos de toda a gente. Tenho o mesmo respeito por todas as organizações, mas houve uma ou outra que me deixou um bocado triste. Eu respeitei-os, se eles não me respeitam a mim, isso já não é problema meu.”

Volta a Portugal não correu como esperava

“Tive a infelicidade de cair em véspera das duas etapas decisivas da volta, que são a Torre e a Senhora da Graça e isso parecendo que não, deixa mossa. Mesmo depois da volta acabar, eu andava com problemas nas costas que em certos movimentos me doía. Só conseguia andar fora do selim quando punha as mãos em baixo. Dava-me guinadas nas costas.

Fotografia: Facebook Tiago Machado

Não estava mal fisicamente, mas para andar com os primeiros seria impensável. Se não tivesse tido os
azares podia ter entrado numa ou outra fuga. Foi assim , não tive essa sorte.
Embora não tenha tido o final desportivo que eu desejava, tive o carinho e o reconhecimento do público e isso basta-me!”

O futuro – 2023 e em diante

“Vou coordenar a academia da Efapel, falamos de cadetes juniores e femininas. Já estamos a trabalhar nisso. A época não começa só no dia um de janeiro, já começou há uns meses atrás quando começamos a planear a equipa.

Vamos ter os primeiros treinos, eu irei para a estrada de bicicleta umas vezes com uns, outras vezes com outros. Vai o carro de apoio atrás dos que eu não vou.”

Como diretor, Tiago Machado quer usar o futebol como exemplo

“Enquanto tiver disponibilidade física e vontade para andar de bicicleta, eu prefiro fazer o acompanhamento na estrada com eles. Um treinador de futebol também está com os jogadores no relvado, portanto acho que indo na bicicleta se calhar há um ou outro que o vou motivar e se calhar vão dar mais do que dariam se eu não estivesse.

Fotografia: João Calado – Podium Events

É com esse objetivo de ir para a estrada e me divertir com eles, que pretendo criar um bom grupo para cumprir os objetivos da equipa e dignificar a camisola.”

Ciclismo é ponto assente e vai manter-se como prioridade

“O ciclismo é a minha vida. É desfrutá-lo e ajudar os jovens a tentar chegar onde eu cheguei. E se assim for acho que já é muito bom e podem sair com a sensação de dever cumprido, que foi como eu saí.

Fotografia: Eduardo Campos – ACM

Vão ver o reconhecimento por parte do adepto que entende de ciclismo. O meu objetivo é esse, ajudá-los a crescer, formar homens e mulheres, porque antes de formar atletas, é mais importante formar homens e mulheres.”

Futuro selecionador nacional?

“Pelo menos o meu objetivo é tirar já o nível três do curso de treinador. Eu acho que mais patriota do que eu na minha geração não é fácil haver. Toda a minha vida vivi em Portugal. Residência fiscal e impostos foram todos pagos aqui.

Nunca se sabe, o futuro a Deus pertence e se calhar acho que não ficava mal entregue. Eu gostava! Até sei falar três idiomas mais ou menos bem!”

Fotografia: Facebook Tiago Machado

Os números

Tiago Machado despede-se do ciclismo nacional e internacional com vitória da Volta a Eslovénia, na Prova de Abertura em Portugal, no Grande Prémio Joaquim Agostinho e no Campeonato Nacional de contrarrelógio.

Durante toda a carreira somou participações em 10 grandes voltas, onde se incluem 5
Voltas a Espanha
, 3 Voltas a França e 2 Voltas a Itália. Participou também por 17 vezes na Volta ao Algarve e esteve à partida em 9 Voltas a Portugal.

O “ciclista do povo”, como é conhecido, deixou a sua marca na modalidade enquanto atleta e será certamente lembrado como um dos grandes ciclistas portugueses a nível internacional, e podes seguir o seu blog pessoal aqui: ociclistadopovo.pt/

Por: Tomás Martins

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