A avaliar pelas fotografias que se encontram nas redes sociais da equipa de Peter Sagan, naquela Specialized há “cablagem” a mais na frente da bicicleta, não acham? Algo que por norma não se vê quando as bicicletas têm o grupo Shimano Di2 montado (grupo de transmissão electrónica utilizado habitualmente nas equipas profissionais).
Irá o ciclista da Bora-Hansgrohe correr com grupo mecânico o Paris-Roubaix no próximo domingo?
Será de certa forma surpreendente e curioso se tal acontecer, o que nos leva a pensar, porquê?
Pela chuva que se espera para domingo (e consequente lama) não será, quem já teve a experiência de utilizar o grupo Di2 da Shimano sabe que funciona perfeitamente em condições de chuva e lama, inclusive atletas de referência no Ciclocrosse como Mathieu Van der Poel, Wout Van Aert e outros utilizam-no nessas condições.
Será pelo facto dos botões Di2 serem tão sensíveis (trocam as mudanças com um pequeno toque), que entre a forte trepidação causada pelas enormes pedras do pavê, pode levar o ciclista a trocar de mudança sem querer?

Olhando para os seus companheiros de equipa, parecem estar utilizar o modelo Specialized Roubaix (modelo vocacionado para este tipo de prova, que tem um pequeno sistema de suspensão entre o avanço do guiador e a caixa de direcção do quadro), mas com grupo Shimano Di2.
Olhando para outras equipas como a Jumbo-Visma (equipa de Wout van Aert), entre outras outras que também utilizam Shimano, durante os reconhecimentos as bicicletas parecem ser as mesmas de toda a época, ou seja também equipadas com grupo de transmissão Shimano Di2 (electrónica).

Peter Sagan, diferente de todos como noutras ocasiões. De lembrar que quando venceu em 2018, o fez com grupo de transmissão mecânica e travões de ferradura (foi só há 3 anos atrás).

Numa altura em que as marcas optam por democratizar os grupos electrónicos, colocando esta tecnologia em várias gamas, levando-nos a pensar que no futuro poderá mesmo deixar de existir o grupo de transmissão mecânico, isto pode ser um sinal de algo.
Imaginem que Peter Sagan vence o Paris-Roubaix com Shimano mecânico num dia em que todos utilizam Shimano electrónico?
Poderá isto influenciar a forma como as equipas partem para o Paris-Roubaix 2022?
Pode não significar nada mas pode significar muito, porque numa remota hipótese de isto acontecer poderá influenciar a sobrevivência dos grupos de transmissão mecânicos nas bicicletas de estrada.
Todos sabemos que por um lado as marcas e a industria quase sempre falam mais alto (são elas que colocam o dinheiro nas equipas, provas, etc.), mas também sabemos que muitas vezes os atletas e equipas têm uma palavra a dizer, porque no final de contas, a vitória é um objectivo de ambos (marcas e equipas).
Veja-se o exemplo dos travões de disco, que há quase 10 anos se querem implementados (pelas marcas), praticamente todas as equipas World Tour os utilizam, mas aos dias de hoje continuam a haver equipas que não optam por esse tipo de travão.

O cabo vai resistir tanto tempo como o travão de calço ou ferradura?
Os puristas que torçam pela Bora-Hansgrohe e Peter Sagan, a confirmar-se a utilização do cabo na troca de mudanças, que por certo, envolve alguma adaptação por parte do ciclista depois de vários anos a utilizar o “click” electrónico.
O artigo só serve de reflexão e curiosidade, eu pessoalmente prefiro o grupo electrónico (assim que tenha dinheiro para ele), já experimentei (Shimano e SRAM) e está muito bem conseguido.
Não se trata de defender algo que é melhor ou pior, cada sistema tem as suas vantagens e desvantagens para diferentes utilizadores, e no caso das equipas, para diferentes corridas (por exemplo o Paris-Roubaix, ou etapas em dias de chuva são claramente dias de corrida onde o travão de disco tem vantagens sobre o travão de calço), mas que haja a hipótese de escolha no futuro.
Por: Luís Beltrão
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