Vitória em Maiorca foi preparada em Valência. Entrevista do TopCycling a Rui Costa durante a apresentação da Intermarché-Wanty.
Prognósticos só no fim do jogo. A frase é conhecida e aplica-se a este texto. A 20 de janeiro, o TopCycling esteve na apresentação da Intermaché-Circus-Wanty, mas têm sido tantas entrevistas e viagens que tivemos que ir no grupeto por falta de pernas.
Na altura sentimos que Rui Costa estava forte. Aliás, já em dezembro, na primeira entrevista como corredor da equipa belga, que publicamos no TopCycling, as sensações eram a de que o “velho” Rui Costa estava de volta, isto tendo em conta que regressou à primeira linha de uma WorldTeam após dois anos a trabalhar com Tadej Pogacar e João Almeida.
Não quer dizer que não pudesse ter continuado no papel de gregário de luxo, o próprio considerou ficar na UAE só que a proposta de renovação não chegou. No entanto, há corredores que nascem para ganhar e há quem tenha vocação para trabalhar. Rui Costa é um campeão do mundo, vencedor de etapas no Tour, tricampeão da Volta à Suíça e campeão nacional!
Em Albir (Alicante), pusemos a conversa em dia. Se na entrevista anterior tocámos temas abrangentes sobre a carreira do poveiro, desta feita fomos a questões específicas do início da época.
“Quando entro para competir gosto de entrar forte“
Dos cinco dias que dura o Challenge de Maiorca, Rui Costa tinha programado fazer os três primeiros. “Já são nove anos sem correr em Maiorca, já me esqueci de algumas subidas. Um facto importante são as vertentes viradas a Norte que são perigosas, o asfalto não é bom, embora possa ter melhorado nos últimos anos. Costumava haver bastantes quedas. São corridas onde não se tem nada a perder por serem as primeiras do ano, todos querem ganhar e o pessoal é arrisca e é ambicioso. Quero ver como estou perante os outros atletas e apurar a minha condição física para a Volta a Valência e Volta ao Algarve”, analisava o corredor da Intermaché-Circus-Wanty.
A conversa com Rui Costa é amena. Conta ao TopCycling que toda a equipa quer entrar bem na temporada e que ao ser o mais velho dos 29 ciclistas sabe o importante que é começar a ganhar para haver um equilíbrio positivo no grupo.
“Maiorca não vou dizer que é um objetivo, mas quando entro para competir gosto de entrar forte e ver como estão os outros atletas. É uma oportunidade porque faço três dias consecutivos, o primeiro sei que é seletivo, o segundo é mais ao estilo do Bini e o terceiro volta a ser duro. Há duas oportunidades.”
Rui Costa ao TopCycling.
Agora sabemos que as sensações são excelentes já que a vitória apareceu logo na estreia com a Intermaché-Circus-Wanty, no Troféu Calviá. Também em Maiorca ganhou em 2010, pela Caisse d’Epargne (atual Movistar), na época de afirmação internacional onde juntou etapa na Volta à Suíça e título nacional de contrarrelógio. Treze anos depois Maiorca foi talismã para Rui Costa… outra vez.
Olhando para o que aí vem, Rui Costa partilhava o desejo de um início “sem percalços, que corra tudo bem e se for já em Maiorca ótimo, senão há Valência, depois Figueira da Foz e Algarve. São corridas muito seguidas. Fiz por começar a temporada mais cedo e preparar as coisas com calma. Para já os valores são muito bons, mas não falta gente a andar forte, os outros atletas também vão estar numa boa condição física, 60-70 por cento dos corredores querem entrar cedo na temporada“.
Também quisemos saber quem mais o impressionou agora que já conhece melhor o plantel, embora nos dois estágios os atletas tenham estado divididos por características e/ou objetivos. “Dentro do meu grupo quem mais me tem impressionado é o Rune Herregodts. Posso dizer que é um grande talento, que trabalha muito. Fizemos um treino de seis horas e no final ele ainda foi fazer mais uma hora na bicicleta de contrarrelógio, pelo que já se vê que a qualidade do atleta não é só física, o querer também importa. É um corredor que vai dar que falar; é rápido, está a subir muito forte em esforços de 5/10/20 minutos com valores excelentes. Estejam atentos a ele e logo no início da temporada”, adiantou o português.
Ganhar no Tour de France é o objetivo da época
Da apresentação da equipa destacaria alguns aspetos. A estrutura coordenada por Jean-François Boulart tem um ambiente familiar, nada presunçoso, onde os patrocinadores convivem com os corredores durante os dias do estágio de janeiro. Basta olhar para o maillot da equipa para perceber que são muitos e entusiastas, aliás, quando as vitórias de Biniam Girmay foram repetidas durante a cerimónia gritou-se como se fosse em direto!
Isto mostra-nos que a 5ª classificada do ranking WorldTour é uma equipa que cresceu, ao ponto de superar a todo-poderosa vizinha Quick-Step em 2022, mas mantém a essência popular de quando eram um modesto clube na cidade de Ath, na Valónia.
Dos primórdios já só resta o espírito. A moderna estrutura da a Intermaché-Circus-Wanty cresceu e pensa a longo prazo: compete no WorldTour, conta com a recém-criada Circus-ReUz-Technord para desenvolver os sub-23 – coordenados por Kevin Van Melsen que correu dez anos na equipa – e ainda trabalham os escalões de base na Academia Ardent Group. Sem esquecer que no ciclocrosse têm equipa masculina e feminina.
No entanto, há um objetivo que Jean-François Boulart coloca como prioritário: ganhar no Tour de France é o objetivo da época – não só desde 2017 receberam a confiança da ASO, como foi a primeira grande Volta que lhes abriu a porta. Há um sentimento de gratidão que o patrão da Intermarché-Wanty não esconde.
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