Rui Costa volta a acreditar – ADN de Campeão

Rui Costa volta a acreditar – ADN de Campeão

Temporada número 15 para Rui Costa no pelotão WorldTour. Após crescer numa equipa espanhola, liderar uma italiana e guiar a juventude num projeto árabe, chegou a vez de experimentar o mais tradicional dos ciclismos. 

Ao assinar pela Intermarché-Wanty, Rui Costa tornou-se o primeiro campeão do mundo a representar a formação da Valónia, a parte francófona da Bélgica. O facto não passou ao lado do massagista Willy Looverie, uma instituição dentro da família Wanty com mais de 50 anos de dedicação ao pelotão, que em finais dos anos 90 foi massagista de Jan Ullrich na Team Telekom. 

Fotografia: Cyclingmedia agency

Uma nova experiência, aos 36 anos, para o poveiro que em final de outubro foi conhecer a estrutura chefiada por Jean-François Bourlart:

Foi como cair de paraquedas, mas rapidamente me ambientei. É tudo gente humilde, fácil de falar. Na Bélgica é onde está a maior paixão, quando corrermos na Bélgica certamente o apoio vai-se fazer sentir, principalmente na Valónia, portanto quando passar pelas clássicas das Ardenas a força vai ser outra. Esse é também o primeiro grande objetivo do ano, as Ardenas.” 

As clássicas das Ardenas fazem parte do segundo bloco da temporada junto com Volta ao País Basco e Romandia. A lógica do calendário leva-nos ao Tour de France:

Isso não posso dizer, prefiro traçar a temporada por objetivos e a primeira fase começa em Maiorca. Depois Volta a Valência, clássica da Figueira e Volta ao Algarve – para mim são objetivos que acredito poder disputar, ganhar é difícil porque todos estamos para ganhar. Faço também as duas clássicas em Ardèche, Troféu Laigueglia e Strade Bianche. Segue-se uma pausa, estágio em altitude e novo bloco começando pelas Ardenas.

Intermarché-Wanty 5.ª no WorldTour em 2022

O ciclista natural de Aguçadoura chega à Intermarché-Wanty no melhor momento da estrutura. Em 2022 ganharam a primeira clássica do Norte [Biniam Girmay na Gent-Wevelgem] e fecharam com 24 triunfos, o que permitiu conquistar o 5º posto do ranking WorldTour à frente da vizinha da Flandres, a Quick-Step. Isto numa época onde a histórica Lotto-Soudal desceu de divisão; uma clara transferência de poder dentro do ciclismo belga. 

Fotografia: Cyclingmedia agency

Para Rui Costa será a oportunidade de recuperar certo protagonismo individual, após dois anos em que trabalhou para Tadej Pogacar e João Almeida na UAE-Emirates:

Vou ser sincero: se a UAE me tivesse dado a oportunidade de continuar teria lá ficado; aceitei da melhor maneira o facto de ajudar o João e o Tadej, a meu ver fui uma mais-valia pela experiência que tenho. Nesse aspeto eles saem um bocadinho a perder, mas a vida é mesmo assim.

Motiva-me estar numa nova equipa, que confia em mim e no meu potencial. É voltar a acreditar depois de tantos anos ao dispor de outros, mas quando nascemos com um talento não o perdemos, o querer ganhar está sempre lá, mesmo que as vezes não consigas, tu sonhas. Sendo realista ao ponto de saber que posso ganhar isto, mas aquilo não.

O pelotão atual está cada vez mais agressivo, as velocidades estão mais altas, as descidas cada vez são feitas mais no limite. A nova geração elevou a fasquia. Entre 2008 e 2015 o campeão mundial de Florença ganhou em todas as temporadas e de lá para cá os triunfos passaram a ser intermitentes. 

Na Intermarché-Wanty a ambição é repetir o grande ano e voltar a estar no top 5 mundial por equipas no ranking UCI WorldTour. Rui Costa sabe disso e partilha a visão de que “quando um atleta não está capaz a equipa mete outros dois, três ou quatro nos primeiros como fizeram na Paris-Roubaix, onde quatro corredores fecharam nos 16 primeiros e é sempre a somar pontos [na realidade até foram seis atletas nos 23 primeiros]. É um projeto aliciante pela equipa ter sido 5ª no ranking, com um orçamento dos mais curtos do WorldTour, o que significa que está bem construída e tem pessoas capacitadas para evoluir”. 

Fotografia: Cyclingmedia agency

O 11.º Tour de France de Rui Costa?

Se Rui Costa vai correr o Tour de France pela 11ª vez ainda não sabemos – no TopCycling apostaríamos que sim porque é aí que leva a lógica do calendário apresentado. 

Certo é que a Intermarché-Wanty levará Louis Meintjes para disputar a geral e Biniam Girmay para sprintar. O percurso agrada ao diretor de performance Aike Visbeek.

Por um lado, o pouco contrarrelógio favorece Meintjes, por outro Bini sai beneficiado pelas etapas seletivas logo na partida do País Basco e na travessia pelos Pirenéus aumentando as possibilidades de vitória perante os puros sprinters. Em cinco presenças prévias no Tour de France a Intermarché-Wanty não conseguiu qualquer vitória. 

Fotografia: Cyclingmedia agency

Caso contem com Rui Costa, os belgas deverão dar certa margem ao português, que em 2021 trabalhou para Tadej Pogacar e em 2022 foi ao Giro como braço direito de João Almeida. Um puro-sangue convertido em trabalhador, que quer demonstrar que o ADN ganhador continua lá. 

O erro de Pogacar e a superioridade da Jumbo 

Recuando ao Tour de France e à vitória de Jonas Vingegaard sobre Tadej Pogacar, Rui Costa assistiu desde o sofá ao deslize da UAE. No entanto, anos de trabalho ao lado do esloveno levam-no a confiar em que 2023 é o ano do tri para Pogi:

Confio no Tadej. No ano passado ele atacou muito, face à equipa que tinha – não tínhamos uma Jumbo-Visma – e julgo que não agiu bem para ele mesmo. Há coisas que não deveria dizer… mas acredito que a melhor equipa não foi ao Tour e não é por eu ter ficado de fora que o digo. Houve certa ingenuidade do Tadej devido ao facto dele ser o melhor. Essa ingenuidade surgiu no momento em que, salvo erro, arranca o Quintana [no Col du Granon] e nós tínhamos o Majka a puxar e o Tadej começou a ceder. Não foi difícil o Vingegaard sentir essa fragilidade e aproveitá-la. Bastou um pequeno erro de fraqueza, não é que ele estivesse mal.” 

Vídeo para recordar a etapa referida

A Jumbo-Visma esteve intratável. Como é que se contraria tamanho poderio?

É difícil. A Jumbo trabalha bem porque coletivamente sabia para o que ia. Estruturalmente está bem desenhada porque não prepara um corredor para o Tour, prepara oito ou nove. Na UAE esqueceram-se desse facto, prepararam o Tadej e mais dois, o resto foram uns à Suíça, outros ao Dauphiné. A Jumbo esteve superior, em termos de grupo foi fantástico, quando vimos aquela etapa em que o Vingegaard tinha quase tudo a perder e troca para a bicicleta de um, troca para a de outro… Quando mandaram o Van Aert esperar já sabiam qual o corredor que estava mais forte entre o Vingegaard e o Roglic senão não tinham mandado o Van Aert esperar”,

explica Rui Costa. 

O Giro 2022 na UAE

Aproveitando a deixa do coletivo orientamos a conversa para o Giro de Itália, onde a UAE partiu com João Almeida como líder, mas com um bloco pouco rotinado. 

Fotografia: Sprint cycling agency

Com um claro chefe de fila, faz sentido não trabalhar em continuidade nas corridas prévias ao objetivo principal? Rui Costa fez parte do bloco presente no Giro e com meia palavra fala para bom entendedor:

Disseste tudo, são palavras tuas. Acabei de referir sobre a Jumbo que trabalham bem, coletivo. No ano passado, no Giro trabalhou-se da forma que foi, infelizmente o João não pode fechar o Giro pelo Covid porque em condições normais acredito que tivesse terminado no pódio. É sinal que temos um português que pode lutar por pódios nas grandes Voltas. Talvez o Tour seja um bocadinho cedo, mas no Giro e na Vuelta acredito que pode estar perto de fazer história. O João é uma pessoa inteligente, sabe o que é melhor para ele, que pode contar sempre comigo e qual o caminho que tem que traçar.” 

A preparação de 2023

Por agora é tempo de treinar. Na semana da entrevista Rui Costa já levava 17 horas de bicicleta com algum trabalho, isto num ano em que recuperou fundamentos da pré-temporada optando por levar as coisas com calma, ir metendo carga sem fazer grandes séries, começando a meter trabalho após mês e meio. 

Fotografia: Cyclingmedia agency

Durante o primeiro estágio em terras valencianas os treinos focaram-se em fazer horas em grupo. Rui Costa trabalhou ao lado do experiente Rein Taaramäe – da mesma geração do poveiro – e de antigos colegas como Simone Petili e Louis Mentjies. Ficou impressionado pelo talento do vice-campeão italiano Lorenzo Rota e do belga Kobe Goossens, “que sobe bem, tem uma boa posição na bicicleta, pedala sempre com cadência bastante agradável e é um miúdo com talento”. 

Fotografia: Cyclingmedia agency

Falou e disse. Rui Costa, 15 grandes Voltas nas pernas, a caminho da 15ª época no WorldTour, um poço de conhecimento velocipédico agora ao serviço da Intermarché-Wanty. 

Por: Gonçalo Moreira

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