Live Instagram de Juan Charry com Egan Bernal após etapa 16 do Giro de Itália

Ontem assisti a um “Live” no instagram do comentador colombiano da ESPN Juan Charry (página de instagram aqui) com Egan Bernal, no dia da vitória de Bernal na etapa 16 do Giro de Itália, uma entrevista curta mas com conteúdo muito interessante para os amantes do ciclismo, a qual decidi transcrever e partilhar com vocês.
Recordar que na etapa 16 do Giro (ontem) Egan Bernal atacou quem restava do pelotão a 22 km’s. do final da etapa, conseguindo alcançar os homens da fuga que seguiam na frente, seguindo depois isolado para a vitória na etapa, consolidando ainda mais a sua liderança nesta edição do Giro de Itália. (mais pormenores aqui).

De uma forma simples, com telemóvel em direto e aparentemente desde o seu quarto de hotel, Egan Bernal começou por agradecer ao comentador por estar a acompanhar a corrida lá em Itália e mostrar estes momentos.
Juan Charry começa por perguntar como foi a subida ao “Passo Giau” (última ascensão do dia), porque não se conseguiu ver o início no direto, Bernal explica o seguinte:
“A 5 kms. do fim a EF (Education First) estava a meter um ritmo muito forte, mas eu disse ao Dani (Daniel Martinez) que me sentia muito bem, que me fizesse uma aceleração para eu ir, porque achei estranho o Yates estar a ceder 10 segundos … como ele era segundo da geral, quis tentar e ir à procura da vitória de etapa.
“Passei na contagem de montanha ( topo do Passo de Giau )com 45 segundos, e depois a descer fui “tranquilo”, ou seja rápido mas sem correr riscos, não queria arriscar a perder o Giro, por tentar ganhar uma etapa. Na parte técnica ia com bastante cuidado, mas pensando que vencer esta etapa seria algo muito bonito.”
Egan Bernal
Juan Charry disse a Bernal que pela forma como o explica, parece que foi fácil, então pergunta sobre mais pormenores, como foram aqueles momentos, se tinha ligação com o carro da equipa?
Tive sempre total comunicação com o carro, eles apoiaram a minha decisão de querer ir à procura da etapa…
…desde o carro iam-me sempre informando que faltavam 3,5 km’s., depois 3 que eram difíceis, para gerir bem o esforço, depois que, o que me faltava até ao topo eram mais ou menos 12 minutos de esforço.
“Na descida, eles com o GPS conseguiam ver melhor o tipo de curvas e como era a estrada, então diziam-me se vinha um sector rápido, ou “cuidado com a esta zona, curva fechada à direita, curva à esquerda”, depois nas zonas mais rápidas avisavam “agora podes dar tudo, à tope à tope”, nas zonas técnicas diziam “agora muito suave, muito suave” queríamos vencer a etapa, mas sem arriscar.
Egan Bernal
A conversa avança com o comentador perguntando, nesses momentos pensas em algo mais? Como “estou a discutir o Giro, para ganhar o Giro”, ou nesse momento não pensas em nada?
“Naqueles momentos vamos num transe muito profundo, o nível de concentração é muito grande, só pensava em coisas como fazer bem a próxima curva, estar aerodinâmico na bicicleta, olhava o mapa, quantos quilómetros faltam, porque naqueles momentos uma pequena falha numa curva e “borramos” tudo…”

Juan Charry pergunta se fechando os olhos, Egan Bernal imaginava esta situação antes de começar o Giro, se imaginava esta diferença e como as coisas estão a acontecer?
“Não de todo, vinha com objectivo da classificação geral e claro que se venho para a geral é para ganhar, mas depois da lesão que tive, depois de ter-me retirado do Tour do ano passado pela porta de trás, ter que sair cedo da corrida por problemas físicos tendo o dorsal número 1, pensei que se puder estar no grupo dos melhores durante as etapas e se por ventura terminar no pódio já fico satisfeito.”
Agora vendo que já venci duas etapas, quando nunca tinha vencido nenhuma etapa numa grande volta, ser líder tantos dias e desfrutar da corrida desde os primeiros dias, sinceramente não esperava isto.
Egan Bernal

Para terminar, Juan Charry pergunta sobre uma pequena frase que Bernal proferiu no final, “I’m Back” (estou de volta), porquê, tinhas ido embora do ciclismo?
” Disse: I’m back, porque foram anos difíceis a nível profissional, dentro de mim sei quem sou, sei o que posso fazer, mas depois de ter chegado a andar no grupeto no Tour (sendo um escalado), depois do que passei a nível físico e psicológico, a certo ponto eu tinha duvidas, será que ainda sou bom?
Será que ainda consigo estar aí? Via os outros a bater recordes, então pensava, será que ainda posso estar como eles? Por muita confiança que tenha, ou que saiba que sou bom, sei que os outros também treinam, que também melhoram e também são bons. Pensava que talvez mesmo estando a 100% não chegasse para bate-los.
Agora depois de vencer as etapas, de ir estando de líder e depois de tudo o que está a acontecer, mesmo que me recinta da lesão, finalmente sinto que volto a estar ao meu nível.
Egan Bernal
Termina com umas palavras para os colombianos
“Para as pessoas que me seguem e que seguem o Giro, que saibam que eu e as pessoas que estamos aqui pedalamos com grande orgulho em ser colombianos, queremos dar e enviar felicidade às pessoas daí, quando estamos fora da Colômbia sentimos ainda mais a Colômbia, agradecer o vosso apoio e quero deixar a mensagem de que ainda falta muito, mas deixarei a pele para tentar levar esta camisola até Milão.”
Egan Bernal
Para quem perceber, pode ver o Live Instagram original de Juan Charry AQUI.
O resumo da etapa 16 do Giro 2021, sobre a qual se refere a conversa
Ficamos a saber, entre outras coisas que em etapas como as de ontem, os ciclistas profissionais em situação de corrida podem pilotar uma bicicleta quase como os pilotos de Rally, seguindo indicações de um co-piloto (neste caso o diretor no carro através do rádio) para abordar melhor os vários sectores da estrada.
É também uma conversa que elucida bem o calvário que passou Egan Bernal depois de vencer o Tour em 2018, quer a nível físico como psicológico, e que vem de encontro à questão que tenho abordado algumas vezes, até que ponto aguentam os ciclistas a pressão de começar a vencer tão novos?
Termino mudando um pouco o assunto, para algo de que se tem falado muito em Portugal (e no mundo).
Da mesma forma que Bernal não sabia como estaria neste Giro de Itália, certamente Remco Evenepoel também não o sabia, não deveriam os experientes responsáveis da Deceuninck Quick-Step ter protegido mais o jovem belga não o colocando sob pressão, dando sem margem de dúvidas a liderança a João Almeida?
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