Julian Alaphilippe, 29 anos, foi eleito o “Campeão dos Campeões”, galardão atribuído pelo jornal desportivo francês L’Équipe, pelo terceiro ano consecutivo.
A distinção “Campeão dos Campeões” é concedida desde 1946 pela França e 1975 pelo mundo, e premeia os desportistas que mais se destacaram durante o ano, segundo os jornalistas do L’Equipe.
Para a reconquista deste prémio, muito pesou a conquista do segundo campeonato do mundo em Leuven, Bélgica.
Para assinalar a ocasião, Alaphilippe concedeu uma entrevista ao L´Équipe, juntamente com o ex-ciclista Bernard Hinault, vencedor de cinco edições da Volta a França, e que conquistou o referido prémio quatro vezes consecutivas.
O tema da conversa foi, inevitavelmente a Volta à França, prova em que Alaphilippe ficou em quinto lugar da geral em 2019, depois vestir de amarelo durante duas semanas.
Apesar de ter vestido a camisola amarela e de ter vencido várias etapas na abertura das duas últimas Voltas a França, Alaphilippe tem revelado dificuldades em resistir à exigente fase final da prova, apesar da sua notável prestação em 2019.
Hinault, atualmente com 67 anos, sugeriu que Alaphilippe deveria ter a certeza do seu ponto de forma antes de se afirmar como um candidato à vitória final no Tour, e o campeão do mundo concordou.
“É um resumo perfeito. E o problema é que nunca podemos ter certeza se a decisão que tomamos será a mais acertada. Para quê colocar uma temporada em suspenso, apenas por um objetivo? No Tour não podemos planear nada. Num dia podemos estar bem, no outro podemos vomitar ou cair e aí tudo fica perdido.”
Julian Alaphilippe
Alaphilippe reconheceu ainda que a configuração da prova mudou desde a sua notável e inesperada aventura no Tour de 2019, devido à chegada de Tadej Pogačar e a uma nova geração de talentos.
“Se tiver que acontecer, vai acontecer. Ainda me sinto motivado para disputar a Volta a França, mas já tenho quase 30 anos. Agora, há jovens de 22 anos que estão a evoluir e a subir ao pódio nas primeiras corridas. Temos o exemplo de Pogačar que alcança vitórias a todo o momento.
Eu não me comparo a eles. Estou a tentar construir a melhor carreira que posso, dentro das minhas possibilidades. As pessoas esquecem-se como é difícil vencer até mesmo uma etapa de uma grande volta. O nível geral é extremamente alto.
Metade do pelotão passa a temporada em altitude. O início de cada corrida, é uma guerra. Eu foco-me apenas no que faço de melhor, e quero continuar a ter prazer em competir, porque tudo isto é apenas desporto. Nós queremos sempre fazer melhor e isso é normal, mas também temos uma vida para além do ciclismo.”
Julian Alaphilippe
Hinault, o último francês a vencer o Tour, em 1985, nem sempre foi generoso a avaliar as gerações que o seguiram, mas sempre incentivou Alaphilippe no seu estilo de corrida agressivo.
“É claro que eu e Alaphilippe somos parecidos. No pelotão atual, ele é um daqueles raros ciclistas que arriscam assim que têm possibilidade.”
Bernard Hinault
Hinault vai mesmo mais longe, confrontando mesmo Alaphilippe em relação ao que este acrescentou ao ciclismo mundial.
“Tu, Mathieu Van der Poel e Remco Evenepoel, estão a provocar uma mudança. Durante muito tempo, as grandes equipas dominaram e as restantes pouco conseguiam fazer para as contrariar. Vocês conseguiram alterar isso, o que tem sido muito bom de observar.”
Bernard Hinault
Julian Alaphilippe ainda não definiu totalmente o calendário de corridas para 2022, mas já confirmou que irá abdicar das clássicas do pavê para se concentrar nas Ardenas. O Tour estará novamente no seu calendário, assim como o Campeonato do Mundo, apesar da sua relutância em começar já a pensar num terceiro título mundial consecutivo.
“No seio da equipa já todos me falavam no percurso do Mundial, que vai ter uma subida no final. Mas eu ainda nem digeri o último título, para quê pensar já nisso, quando ainda haverá outras provas por disputar antes.”
Julian Alaphilippe
Alaphilippe realçou que o sofrimento faz parte do jogo, e a capacidade mental não está ao alcance de todos.
“Há uma parte mental muito grande, isso é inegável. É necessário de gostar de sofrer para ganhar corridas e temos de ser capazes de mergulhar fundo na dor para fazer grandes coisas.
Temos que ser masoquistas para andar de bicicleta, é um desporto difícil e extremamente exigente. Quem diz que não gosta de dor, não vai ter uma grande carreira.
Tudo pode ser trabalhado no treino, mas há uma enorme dimensão psicológica que entra em jogo para chegarmos ainda mais longe, para ultrapassar os próprios limites. Todos os atletas treinam duro hoje em dia, todas as equipas querem chegar ao topo. No final, é a cabeça que faz a diferença.”
Julian Alaphilippe
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