João Almeida fecha top 5 na Vuelta. E agora? 

João Almeida fecha top 5 na Vuelta. E agora? 

João Almeida já não é só corredor de Giro de Itália. Na estreia na Vuelta a Espanha e mesmo com a preparação afetada pelo período pós-Covid, João Almeida fecha top 5 na Vuelta. E agora? 

Antes de projetarmos o futuro, uma reflexão. Aos 24 anos, o 5º lugar na Vuelta junta-se ao 4º lugar no Giro 2020 e ao 6º na prova italiana no ano seguinte. Provavelmente teria voltado a fazer top 5 este ano, mas o Covid estragou o registo. 

Fotografia: Charly López

Para contextualizar, José Azevedo precisou de correr oito grandes Voltas para lograr fechar nos seis primeiros da classificação geral [5º no Giro 2001, 6º no Tour de France 2002 e 5º em 2004]. A referência é ainda Joaquim Agostinho: 11 vezes top 10 num total de 19 participações em provas de três semanas e único português a subir ao pódio [2º na Vuelta 1974, 3º no Tour 1978 e 1979]. 

Este não é um artigo de opinião apenas baseado em estatísticas, mas também no feeling de que se até agora vimos um excelente João Almeida, ainda podemos ver mais e melhor. 

Fotografia: UAE Team Emirates

A próxima época terá que ser de afirmação, de dar mais um salto de qualidade e isso significa passar de ciclista de top cinco para ciclista de pódio. O meu “feeling” é que, seja em 2023 ou mais adiante, nas pernas do corredor de A dos Francos há capacidade para fechar pódio numa grande Volta e, no contexto certo, discutir Giro ou Vuelta. Sobre o Tour não é o momento de opinar já que nem sequer o correu. 

Porque é que me foco em 2023? Por ser a segunda temporada na UAE-Team Emirates e porque o segundo ano na QuickStep foi fortíssimo – se 2020 foi o ano do sonho cor de rosa, 2021 trouxe a primeira como profissional (no Nacional de contrarrelógio), a primeira no WorldTour (na Polónia) e um total de seis triunfos! 

Fotografia: UAE Team Emirates

Apontem na agenda o Giro de 2023 

Dos momentos que passamos juntos em Serra Nevada no estágio pré-Giro guardei na mente uma troca de impressões entre João Almeida e Iñigo San Millán, diretor de performance da UAE e treinador do português.

No final de uma série no Alto de Hazallanas o dr. San Millán mediu o lactato ao João e disse-lhe algo do género:

“Estás fantástico, mas para o ano é que vai ser. Quando voltarmos aqui no próximo vais ver os teus números.” 

Não posso reproduzir as palavras exatas porque já passou certo tempo, mas a conversa foi mais ou menos assim. Um momento íntimo entre treinador e atleta. 

O que foi dito faz todo o sentido. João Almeida mudou de treinador, de método de trabalho, de bicicleta e de colegas. Até o simples facto de ter passado a usar um potenciómetro diferente é relevante tendo em conta que estamos perante um ciclista que tem uma abordagem científica ao desporto. 

Em termos psicológicos teve que mudar o chip. De ciclista prometedor na QuickStep passou a ser uma das caras da UAE-Team Emirates, um dos projetos mais ambiciosos do WorldTour. Subiu na tabela salarial e com os grandes salários vêm grandes responsabilidades. O “capo dos capos” chama-se Tadej Pogacar, mas João Almeida está numa segunda linha com Juan Ayuso, sobretudo agora que o espanhol de 19 anos fez pódio na Vuelta. 

Fotografia: UAE Team Emirates

Apontem na agenda o Giro de 2023 porque é lá que aposto que João Almeida vai estar. Talvez seja a tentativa de finalmente levar a “maglia” rosa ou fazer pódio na corrida que o fez ciclista – tanto em sub-23 quando foi 2º atrás de Vlasov como em elites quando andou 15 dias na liderança. 

Depois é provável que queira mudar de ares e sentir o que é correr o Tour, mas como objetivo forte de 2023 não tenho dúvidas de que o Giro está no topo das prioridades. Agora disfrutemos do Mundial e da Lombardia; o miúdo de A dos Francos acabou bem a Vuelta e tem tudo para ser uma das figuras do final da temporada. 

Por: Gonçalo Moreira

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