Arranca o Giro de Itália e o TopCycling convida Manuel Cardoso a recordar o prólogo do Tour de France de 2010.
“Ti amo” é um espaço de amor à cultura italiana e ao Giro. É também uma música de Umberto Tozzi. Gonçalo Moreira propõe 21 histórias para 21 etapas.
Tour de France de 2010. Prólogo de 8,9km em Roterdão (Países Baixos). Chuva e percurso urbano costumam ser receita para o desastre. Dois estreantes caem na ratoeira.
Mathias Frank (BMC) viu a roda traseira deslizar numa zona de sinalização horizontal e sai projetado contra as barreiras numa curva. Lábio cortado, fratura do polegar e rotura muscular.
Manuel Cardoso (Footon-Servetto) foi o outro acidentado, por isso quisemos saber o que sente na abertura de uma grande Volta. No dia em que o Giro de Itália arranca com um prólogo, recuamos a 3 de julho de 2010 e deixamos que seja Manuel Cardoso a contar o que sentiu.
Fiquei em mau estado, desmaiei
“O Tour de France era a corrida em que eu sonhava participar. Via pela televisão e queria fazer bem o Tour de France. Era impossível não estar emocionado. Na partida a emoção era bastante só de ouvir a música do Tour. Era muita emoção e estava todo arrepiado. Só pensava em fazer bem, mesmo sabendo que não tinha a mínima hipótese de fazer um grande resultado.
Fiz o reconhecimento do percurso pelo menos duas vezes e havia duas pontes sobres os canais de Roterdão. Tinha na memória que após um dos canais tínhamos uma curva aberta e no segundo canal a curva era mais fechada.
Na realidade era o contrário porque a primeira curva era fechada e entrei com as mãos nos extensores com muita velocidade. Foi aí que se deu o acidente.
Fiquei em mau estado, desmaiei, muita gente a gritar… foi um momento muito mau. Não me recordo de muita coisa, só de ver o Matxin e outro diretor a tentarem-me acordar. Quando acordei só me lembro de lhes gritar para me darem a bicicleta, comecei a caminhar bastante tonto e fui direto apanhar a bicicleta. Concluí os quilómetros que faltavam com um ombro e a cara partidos e muitas escoriações no joelho.
Ao início pensei que era só um dia mau e que no dia a seguir ia estar na partida. Recordo-me no hospital de dizer aos médicos ‘façam o que tenham a fazer que eu amanhã quero estar na partida’. Depois dos testes todos feitos foi impossível. Acabou ali o sonho. É a memória que tenho desse dia.”
O TopCycling agradece ao Manuel Cardoso a gentileza de recordar uma memória dolorosa. Ao longo da carreira do sprinter de Paços de Ferreira foram mais os altos do que os baixos. Entre as vitórias que ficam para a história destacamos as etapas em provas do WorldTour (Volta à Catalunha e Tour Down Under), dois títulos nacionais de fundo e quatro etapas na Volta a Portugal.
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