O plano secreto com Emil Herzog no Mundial, o calendário de 2023 e a pré-época a treinar com Soudal Quick Step e Ineos Grenadiers. TopCycling entrevista António Morgado.
Após dois anos brilhantes em juniores, António Morgado deu o salto para sub23 com a Hagens Berman Axeon. Isto sob do olhar atento das equipas do WorldTour: no início da época estagiou na Soudal Quick Step e na Ineos Grenadiers.
Em fevereiro prosseguiu os treinos com a Axeon na Toscana e os ares italianos fizeram bem ao corredor de Salir do Porto. Logo na estreia ganhou a Volta a Rodes, ilha grega situada no Mar Egeu.
Têm sido tempos de mudança, começando pelo método de treino, a bicicleta (de Cannondale para BMC) e um pelotão mais forte.
“Trabalhava há cinco anos com o professor Amândio, de Mira, mas mudei a seguir ao Mundial. Os treinos são completamente diferentes e ainda não estou 100 por cento adaptado, mas sinto que já me estou a adaptar melhor. Trabalho com o Kevin Poulton. A bicicleta também é nova [corre com BMC], nunca andei em bicicletas muito boas… é fantástico. Na de contrarrelógio só andei duas vezes e é linda.”
António Morgado ao TopCycling
Para o australiano Kevin Poulton o trabalho com ciclistas portugueses não é novidade já que esteve com Rúben Guerreiro e os gémeos Ivo e Rui Oliveira. A chegada à UAE de Poulton é recente e acontece após fazer um grande trabalho com outras referências do pelotão como Caleb Ewan.
Giro é um objetivo
O plano para 2023 era aprender e tentar uma vitória, mas quando o talento é precoce queimam-se etapas. “Não estava à espera. O objetivo era ganhar uma corrida… já consegui logo na primeira prova a sério. Estou muito feliz. A Axeon este ano é só estrelas, pessoal pacato e tranquilo. Aprendemos com os atletas e com o Axel [Merckx] que é uma pessoa incrível. É uma equipa que não mete pressão nos atletas, claro que tentamos fazer as coisas sempre bem. Estou a adorar a equipa”, conta António Morgado.
Atualmente recupera da constipação que apanhou na Grécia, mas se recuperar bem fará Volta a Limburgo, Circuito das Ardenas e Volta à Bretanha, um misto de provas com profissionais e sub23, percursos planos e com vento. O sonho é correr o Giro de Itália onde João Almeida foi 2º e que Axel Merckx e a Axeon venceram com Leo Hayter no ano passado.
“O Giro é um objetivo. Se for convocado gostava de estar em grande forma, perder peso, músculo. Esta pré-época ganhei algum músculo, sobretudo nos braços. Desde há um mês que tenho vindo a perder peso e tenho que continuar porque estou a fazer tudo certo. Estou com 70kg e objetivo é 67,5/68kg porque massa gorda não tenho muita, mas ganhei músculo. Pode ter a ver com a mudança de guiador porque exerço mais força sobre o guiador, mesmo a subir sinto que vou a fazer força com os braços.”
Cinco talentos que prometem
- Gonçalo Tavares | Portugal | Na Bairrada destacou-se junto ao amigo António Morgado na geração orientada por Henrique Queiroz que viu saltar para o estrangeiro Daniel Lima (Academia Israel Premier Tech) e Rúben Rodrigues (Laboral Kutxa, filial da Euskaltel). Tavares somou oito vitórias em juniores e vários pódios. Conta Morgado que Tavares “está a voar neste início de temporada. Já vimos juntos desde cadetes na mesma equipa e faz-nos bem correr juntos, é importante”.
- Emil Herzog | Alemanha | Campeão mundial júnior de estrada e medalha de bronze no contrarrelógio. Vem da Auto Eder, equipa júnior da Bora-Hansgrohe. É o mais jovem ciclista do plantel e veio com 12 vitórias em juniores, entre elas provas por etapas de prestígio como GP Rüebliland, Valromey, Corrida da Paz e Cottbuser.
- Jan Christen | Suíça | Campeão da Europa júnior de estrada já contratado pela UAE até 2027. Temporada incrível em 2022: título mundial júnior em ciclocrosse, triunfo no Tour du Pays de Vaud (Taça das Nações) e títulos nacionais em pista, contrarrelógio e BTT.
- Niels Michotte | Luxemburgo | Vencedor da Paris-Roubaix pela Ag2r. Faz parte de uma geração interessante de luxemburgueses onde se destaca o campeão europeu de contrarrelógio Mathieu Kockelmann que foi da Auto Eder para a Lotto-Kern Haus, continuando no universo Bora.
- Artem Shmidt | EUA | No Mundial foi 5º na prova de estrada e 6º no contrarrelógio, mas já se tinha destacado como rei da montanha em Ribera del Duero e na Volta à Áustria. Entrou em 2023 com um triunfo no Troféu da Primavera da Ístria (Croácia) perante equipas de desenvolvimento de topo mundial, além de ProTeams como EOLO e Bardiani e Continentais duras de roer como Adria Mobil, Liubliana Gusto, Mazowsze, ATT Investments e Tirol.
Anda na roda que levo-te até à meta
Há mais talentos na Axeon, mas dos citados só Shmidt tem 19 anos, o resto está nos 18. O destaque é o alemão Emil Herzog, com quem António Morgado discutiu o título mundial em Wollongong.
“O Herzog é cinco estrelas, já no ano passado éramos amigos. No Mundial foi engraçado, nunca se sabe o que pode acontecer, mas sabíamos que os Países Baixos levavam muita gente boa e podiam ganhar. As outras seleções aperceberam-se a meio da corrida que não íamos a correr para nos matarmos um ao outro, mas já foi tarde. O objetivo era fazermos o melhor resultado possível. Nunca tínhamos falado muito, mas havia certa amizade em corrida porque ele também era um pouco pesado e a seguir às subidas tinha alguma dificuldade e entreajudávamos. Nos últimos quilómetros, quando ele passou por mim, disse-lhe que não ia puxar mais, fazia parte do jogo, disse que estava com cãibras. Então ele disse ‘anda na roda que levo-te até à meta’ e depois perguntou-me se podia ganhar, mas isso é normal porque estava-me a levar.”
Confidências de uma madrugada onde milhares de portugueses vibraram com o estilo agressivo de correr tanto do português como do alemão… agora colegas na Hagens Berman Axeon.
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