Entrevista | Alan Hatherly, o puncheur que a Jayco recrutou no mountain bike

O TopCycling entrevistou o sul-africano. Alan Hatherly, reforço da Jayco AlUla que dominou o mountain bike em 2024.
Alan Hatherly assinou pela Jayco AlUla, mas o craque do mountain bike é um nome desconhecido na estrada. Em 2024 dominou o XCO – cross country olímpico – vencendo Taça do Mundo, Campeonato do mundo e o bronze em Paris, resultados que lhe valeram a nomeação para o Velo D’or.
O Topcycling conversou com o sul-africano no Media Day da Jayco AlUla para saber mais sobre um corredor que dá o salto para a estrada na estrutura australiana.
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Uma nova vertente aos 28 anos
A primeira questão parece óbvia: o que faz um campeão do mundo, figura central numa modalidade, começar uma nova vertente aos 28 anos?
“Tenho tentado chegar a este nível nos últimos dois anos. Só quero crescer como atleta. Senti um plateau do mountain bike e tenho a certeza que ir para o WoldTour, numa equipa tão boa, vai ser uma grande oportunidade para sair da minha zona de conforto, desenvolver-me como atleta e aprender. O objetivo a longo prazo também são os Jogos de 2028 no mountain bike, por isso isto é um plano em que quero melhorar na estrada e na montanha.”
Alan Hatherly ao TopCycling.
Falou também do que gosta mais na estrada: “A velocidade, as táticas, como te moves no pelotão. E o facto de que não te consegues esconder na estrada“.
“Os resultados vão chegar”
Faz, então, a transição para a estrada – que confessou ter-lhe encurtado as férias.
Sobre a adaptação à nova realidade e que sensações tem tido a treinar, Alan Hatherly diz não ter a certeza de quanto tempo vai precisar.
“Só quero encontrar-me e estar confortável na equipa e no ciclismo WorldTour, e penso que quando estiver nesse ponto os resultados vão chegar. Acho que é uma questão de tempo, posso demorar duas ou três corridas, ou uma época inteira a chegar lá, mas vamos levar corrida a corrida. (…) Não é uma situação fácil, estamos a aumentar o volume, mas também temos uma boa receita do XCO e não queremos perder a velocidade de ponta, porque acredito que me pode ajudar a dar resultados. Vamos aumentar o volume e depois vamos usar os dias de corrida para mudar o meu motor de montanha para estrada. Acho que vou melhorar ao longo da época.“
Alan Hatherly ao TopCycling.

Puncheur ou escalador
Em termos de calendário, tem, provisionalmente, o AlUla Tour e os campeonatos nacionais como primeiros desafios.
Planeia ainda seis corridas de XCO, além dos campeonatos do mundo – para mostrar a camisola do arco-íris. No encontro com o TopCycling confessou ainda que, nos próximos dois anos, vai estar concentrado em ver que nível pode atingir na estrada.
Quanto ao tipo de ciclista que pode ser, aqui ficam algumas dicas:
“É difícil saber, vamos ver corrida a corrida, mas a equipa diz-me que estou na categoria de puncheur ou escalador, por isso estamos a preparar as coisas mais nesse sentido. Subidas entre 10 a 15 minutos são as melhores para mim.“
Alan Hatherly ao TopCycling.

Foto: GreenEDGE Cycling
As origens de Alan Hatherly
É na na África do Sul que estão as origens de Alan Hatherly, que não esconde as dificuldades inerentes a esse facto.
Ainda assim mostrou-se confiante para o futuro do desporto não só no país, mas no continente em geral, isto numa altura em que ciclistas africanos começam a ganhar nas maiores corridas do mundo.
“É difícil competir a um nível internacional como africano. Há talento, mas não há volume. Penso que para nós é um processo mais lento até chegar ao nível europeu, e que é por isso que começamos a ver agora muitos africanos a brilhar. Mas faz parte do processo, os jovens já têm a nossa ajuda, e acho que vão estar uns passos à nossa frente. E depois os fatores exteriores: nós não temos as mesmas montanhas que a Europa, isso também faz uma grande diferença.”
Alan Hatherly ao TopCycling.

Foto: Vincent Kalut / Photonews
Créditos da fotografia de destaque: Luca Bettini/Sprint Cycling Agency